Tantos danos o homem tem causado à natureza, movido pela ganância, pela ignorância, pela irresponsabilidade, que se criou um dia dedicado ao Meio Ambiente para que se pudesse pensar melhor sobre o que se pode ainda fazer para melhorar essa relação – homem – natureza e haja paz e prosperidade, sem destruição.
No caso da nossa região de Paulo Afonso, o rio São Francisco é o nosso foco. Caudaloso, com intensa impetuosidade desceu dos chapadões do Zagaia, na Serra da Canastra, em Minas Gerais para levar riqueza e desenvolvimento para uma região de mais de 600 mil quilômetros quadros, que é a área de sua bacia hidrográfica, que se estende pelos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe e ainda chega a Goiás e ao Distrito Federal. Esse caminho do rio São Francisco, até o abraço final com o Oceano Atlântico entre os Estados de Alagoas e Sergipe tem mais de 2.800 quilômetros.
E por onde ele passa, abençoando a todos com suas águas, que já não são tantas, o povo, morador de suas margens e proximidades, ao invés de lhe jogar flores, jogam nas suas águas tudo que é tipo de lixo, até geladeiras velhas, sofás imprestáveis a carcaças de automóveis...
Nunca é demais dizer que Paulo Afonso e as mais de 500 outras localidades ribeirinhas do rio São Francisco só existem por causa da presença desse rio que está morrendo a olhos vistos. A foto abaixo, de Severino Silva, mostra o rio São Francisco na região de Barra/BA.
Em Paulo Afonso, especificamente, foi o rio que trouxe a visão de Delmiro Gouveia que construiu a Usina Angiquinho sem precisar mexer em nada que destruísse a grande Cachoeira de Paulo Afonso que já se chamou Forquilha, Sumidouro e Cachoeira Grande. Depois veio a Chesf e se utilizou da força das muitas águas em escala bem maior que a de Delmiro e construiu grandes barragens e promoveu, com isso, por um lado, o grande desenvolvimento de toda a Região Nordeste com a chegada da “luz de Paulo Afonso”, gerada nas suas usinas hidrelétricas.
Com as barragens, dizem os técnicos, evitou-se que o rio se transformasse em rio temporário porque pode-se controlar a vasão destas águas.
Por outro lado, acabou-se a Cachoeira de Itaparica, acabaram-se as grandes e muitas quedas dágua da Cachoeira de Paulo Afonso e o cânion do rio – 65 quilômetros de Paulo Afonso a Xingó – foi reduzido em sua altura porque também se transformou no reservatório da barragem de Xingó. (Nas fotos abaixo, a Cachoeira de Paulo Afonso quando da visita do presidente Eurico Gaspar Dutra, no início de Julho de 1947 -(foto da revista O Cruzeiro) e a Cachoeira de Paulo Afonso nos dias atuais.
Nestes anos todos de uso abusivo das águas do grande Opará (rio-mar, para o índios), a retirada das vegetação ciliar, tem provocado o assoreamento como se pode ver nestas fotos de Severino Silva (fotógrafo aposentado da Chesf). Nascem os projetos gigantescos de irrigação. O uso criminoso de agrotóxicos e metais pesados. Os esgotos de mais de 500 localidades ribeirinhas ou próximas das margens do rio São Francisco, jogados in natura no rio. O grande número de tanques-rede dos projetos de piscicultura. Os grandes perímetros irrigados? O projeto de transposição sem serem executados os projetos de revitalização prometidos, politicamente, por tantos governos da República Federativa do Brasil.
Tudo isso agravado pelo longo período de estiagem que reduziu o volume de águas do grande rio são interrogações que precisam ser analisadas com seriedade e comprometimento dos governos dos municípios, dos Estados e do Governo Federal, especialmente este pois tem se dito ao longo das décadas, dos séculos, que o São Francisco é o “rio da unidade nacional”, o único rio totalmente brasileiro e sua bacia banha 6 estados brasileiros e o Distrito Federal. (Foto: Bacia do rio São Francisco - ANA)
É a hora do governo federal fazer a diferença, realizar de forma definitiva e competente toda a revitalização do rio São Francisco, tantas vezes prometida e nunca feita de forma plena por outros governos e salvar da morte este rio tão precioso cujas muitas águas já despencaram da Cachoeira de Paulo Afonso com mais de 18 mil metros cúbicos por segundo e era m suficientes para fazer funcionar todas a usinas da Chesf ao longo do seu leito.
Hoje, a Cachoeira de Paulo Afonso é apenas um retrato na parede e as 8 grandes usinas hidrelétricas da Chesf no rio São Francisco estão quase paradas...
No Dia Mundial do Meio Ambiente, precisamos sim olhar para o passado para evitar fazer os mesmos erros porque, se o rio São Francisco morrer, milhões de pessoas e projetos gigantescos morrerão com ele.
Antônio Galdino da Silva – Professor e escritor
Pós-graduado em Turismo
Mestre em Ciências da Educação – Turismo
Diretor do jornal Folha Sertaneja
Presidente da Academia de Letras de Paulo Afonso
Belíssima a reportagem mas, dá uma tristeza danada vê a degradação do Rio S. Francisco.