Estamos abrindo nesse site e também na edição mensal do Jornal Folha Sertaneja, um espaço para divulgar, sem custo para os escritores, as publicações, livros de autores de Paulo Afonso e região.
Decidi criar um espaço chamado ESTANTE DA FOLHA, para, pelo menos, ajudar a divulgar a produção literária de colegas escritores de Paulo Afonso e da região.
E porque estamos fazendo isso.
Há anos tem-se observado e vi isso bem de perto quando estive à frente da Academia de Letras de Paulo Afonso, por mais de cinco anos, a dificuldade dos governos municipais e também estaduais e federal de apoiarem escritores que, muitas vezes talentosos, (também há exceções nesta área...) não têm como publicar seus livros, seus escritos.
Estranhamente, as secretarias municipais ditas de Cultura têm milhões para grandes festas e zero de recursos para se publicar um livro. Estranhamente... infelizmente... lamentavelmente...
Sofridamente, já publiquei oito livros. De dois deles, fui apenas o autor. Como não tinha dinheiro para publicar, cedi a outrens que pagaram a impressão e distribuíram ou venderam os livros para cobrir esses custos...
Um bom livro é sempre uma boa companhia
Lendo e lendo muito, também aprendemos a escrever sobre alguns temas, na delicada sutileza de versos cadenciados ou na até aspereza de textos em prosa onde também se pode derramar os sentimentos.
Há dois anos atrás escrevi alguma coisa associando o ato criativo de escrever, ao silêncio, à tranquilidade que costuma estar sempre presente, ou quase sempre, nas madrugadas de lugares quietos, tranquilos onde, parece que o gênio criativo parece também se achegar ao lado do escritor insone...
E, ao escrever sobre esse tema, a solidão dos escritores para a sua criação literária, despertei o interesse do amigo Edson Mendes, também poeta e escritor e, certamente, seguidor de processo semelhante no ato de escrever, ou algo parecido, e ele me enviou de presente o livro Profissionais da Solidão, de Cecília Prada (Editora Senac – São Paulo/2013), onde ela fala de um furacão chamado Clarice Lispector, um fenômeno chamado Vinícius de Moraes, um escritor na contramão, chamado Lima Barreto e outros igualmente famosos e recomendados como leitura obrigatória para os exames vestibulares pelo Brasil a fora ou outros, quase anônimos, pouco conhecidos, mas igualmente poderosos em seus textos e poemas, acolhidos por poucos.
E, no texto que encerra esse livro e que lhe dá o título, Profissionais da Solidão, Adélia diz:
“Há, na história literária de cada país, escondidos, pouco divulgados, algumas personalidades que, embora dotadas de grande talento, pelas suas próprias circunstâncias psicológicas, por dificuldades existenciais ou por incompreensão de seus contemporâneos nunca atingiram o grande público – ou, pior ainda, não chegaram a desenvolver plenamente seus recursos literários. Legaram-nos poucos livros, de feitio subjetivo, sofrido e permanecem no rodapé da fama e da história oficial, esperando que de quando em quando alguém folheie nos sebos seus livros há muito esgotados, ou que algum sobrinho distante descubra, em móveis empoeirados seus sofridos diários íntimos. De sua humildade, do seu sofrimento, tiramos porém uma lição de autenticidade. De amor verdadeiro à literatura. De compreensão de que a vida do artista não é – não pode ser – aquela desesperada busca de glória, dinheiro e projeção pessoal que infelizmente caracteriza nosso tempo midiático.”
Ao longo da vida, tenho lido bastante. Pela minha formação acadêmica, professor e da área de Letras, isso sempre me pareceu normal e adquiri o gosto pela leitura. No começo da minha caminhada, na lida diária com centenas de alunos, descobri então, nos anos de 1970, uma série de pequenos livros de cerca de 80 páginas de também pequenas crônicas de autores brasileiros, com letras grandes, lançados pela Editora Ática. A série era “Para Gostar de Ler”. Eu os lia, vorazmente e recomendava aos meus alunos e muitos também despertaram o gosto pela leitura a partir desses livros simples e agradáveis.
No início dos anos de 1980, a Editora Abril lançou uma série de livros chamada Literatura Comentada e cada exemplar trazia a história e a produção literária de um escritor brasileiro ou português. Através desta série, apeguei-me à leitura e, bem depois, à escrita de biografias como as de Abel Barbosa, Euclides Ribeiro e outras menores, espalhadas em outros livros e em artigos publicados pela Academia de Letras de Paulo Afonso. E estou escrevendo sobre os Personagens da nossa História... daqui mesmo, da região...
Dentre as biografias que li, de políticos, atores, escritores, personagens brasileiros e do mundo, lembro de algumas que trouxeram grande aprendizado. Uma delas está associada a conteúdos sobre os quais tenho escrito com alguma frequência – as histórias da região onde moro há 69 anos, Paulo Afonso-BA.
O livro –Octávio Marcondes Ferraz – Um Pioneiro da Engenharia Nacional, produzido pela Memória da Eletricidade, em 1993, tem o poder de encher de orgulho os que amam o Nordeste e o Brasil. Ao defender o seu projeto de construção da primeira usina hidrelétrica da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - Chesf, construída, como as outras que a seguiram, nas terras desta cidade baiana, Marcondes Ferraz, como o trabalho de milhares de operários, chamados “cassacos da Chesf” promoveram a mudança radical da história do Nordeste brasileiro.
Como ele, também o primeiro presidente da Chesf, Antônio José Alves de Souza, em seu livro-relatório, Paulo Afonso, de 1954, considerado o primeiro livro sobre Paulo Afonso, hoje município de 115 mil habitantes e deixa ensinamentos e expectativas de vida e de desenvolvimento desta região dignos de reflexão ainda nos dias atuais.
Tenho lido bastante, mas ainda pouco como gostaria. E as biografias são um gênero de leitura que aprecio, sem desprezar outros gêneros. É que as biografias soam, para mim, têm o poder me levar para paisagens, cenários e pessoas com as quais pareço ter convivido ou com quem aprendo mais alguma coisa.
E, assim como me apeguei às histórias de vida de tantos escritores brasileiros e seus personagens fantásticos – como esquecer de Ariano Suassuna e seus personagens João Grilo e Chicó e o João Grilo de Suassuna me remete ao João Grilo, igualmente inteligente e espirituoso do cordel As Proezas de João Grilo, de João Ferreira Lima, que era poeta e astrólogo, nascido em São José do Egito em 1902...
Lembrando desses sertanejos e seus personagens, trago à memória duas biografias que todos deveriam ler um dia. Falo dos livros Sim, eu Posso, com 590 páginas, escrito por Samis Davis Jr e Jane e Burt Boyar, traduzido por Maria Antonieta Troia, publicado pelas Edições Bloch em 1968, que trata da vida deste ator norte americano.
O outro, é a Autobiografia de Martin Luther King, pastor negro norte americano, organizada por Clayborne Carson “baseada integralmente em suas próprias palavras”, diz o organizador, publicada pela Editora ZAHAR em 2014 com mais de 460 páginas (em letras pequenas, que estou ainda lendo) e que trata das muitas histórias de luta contra o racismo e a discriminação social que ele e os de sua geração e anteriores a ela sofreram e com o que a América e o mundo ainda convivem nos dias atuais.
Luther King, que dedicou sua vida a protestos pacíficos pela igualdade entre os homens, foi atingido por um tiro na noite de 3 de janeiro e faleceu no dia 4 de janeiro de 1968, aos 39 anos, deixando sua esposa, Coretta Scott King, e quatro filhos.
Dentre as muitas mensagens que deixou para o mundo, ele disse certa vez:
“Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.”
Dedique um pouco do seu tempo à leitura. De jornais, revistas, cordéis como este citado As Proezas de João Grilo e outros de Rafael Neto, Murilo Brito, Jovelina Ramalho e muitos outros autores e livros, leia muitos livros, como recomenda o poeta Castro Alves em seu poema Canção da América.
Embora nos apresente o mundo moderno outras formas de leitura, no celular, no computador em aparelhos só para ler livros, livro eletrônico, Kindle, tipo uma biblioteca que cabe no seu bolso. Tudo bem, nada contra, é mesmo muito prático, mas ainda sou das antigas e gosto de ler jornais, cordéis, livros de papel, certamente contrariando a lógica e o que pensam muitos.
Aliás, escrevendo aqui, lembrei novamente de Ariano Suassuna e uma de suas histórias. Alguém recomendou a ele para adotar esse sistema moderno de leitura e ele respondeu. "Tudo bem, mas eu gosto de ler deitado e, convenhamos que deitar com um computador é um incômodo grande...". Talvez por isso tenham inventado o Kindle e outros do gênero...
Enfim, leiam porque o livro, como diz o vate baiano Castro Alves.
“O livro, caindo n'alma / É germe – que faz a palma, / É chuva – que faz o mar!”