A sertaneja D. Inocência Ferreira de Jesus, a moradora mais idosa de Paulo Afonso e que pode ser a mais idosa do Brasil, vai ser homenageada pela Câmara Municipal de Paulo Afonso na segunda-feira, dia 19 de Agosto, quando receberá o título de Cidadã de Paulo Afonso, comenda proposta pelo presidente deste Poder Legislativo, Vereador Pedro Macário Neto e aprovado pela unanimidade dos demais vereadores de Paulo Afonso.
Ela é considerada a moradora mais idosa de Paulo Afonso, tendo completado 113 anos no dia 15 de julho deste ano e pode ser a mais idosa brasileira e talvez a segunda mulher mais idosa do mundo, porque há alguns meses, em março de 2019, o livro Guinness World Records identificou a japonesa Kane Tanaka de 116 anos como a mulher mais velha do mundo.
D. Inocência, em sua casa, sendo entrevistada pelo historiador e escritor João de Sousa Lima (Maio/2017)
D. Inocência, na verdade, foi descoberta e entrevistada pelo historiador João de Sousa Lima como a possível mulher mais idosa moradora de Paulo Afonso ainda em Maio de 2107, quando estava para completar 111 anos.
A entrevista com D. Inocência, parente de pessoas ligadas aos cangaceiros de Lampião, tema de muitos livros de João de Sousa Lima, foi publicada pelo historiador no jornal Folha Sertaneja, edição Nº 159, de Maio de 2017, que decidimos transcrever na íntegra a seguir. A matéria também foi publicada pelo autor em seu blog: www.joaodesousalima.blogspot.com
“Inocência Ferreira de Jesus, prestes a completar 111 anos de idade, nascida em 15 de julho de 1906 e ainda lúcida tem muitas histórias para contar.
Ela é prima legítima do cangaceiro Gato, o mais perverso cangaceiro do bando de Lampião.
Os pais de Inocência eram Cícero Pereira Leite e Teodora Vieira de Jesus. Ela hoje com 111 anos de idade revela que sente saudades da antiga Barroca (povoação as margens da cachoeira de Paulo Afonso, sendo uma das primeiras localidades para acolher escravos fugidos dos aprisionamentos dos perversos bandeirantes paulistanos).
D. Inocência, em sua casa, com a filha e o historiador e escritor João de Sousa Lima (Maio/2017)
Mesmo tendo nascido próximo a Serra do Retiro, confessa que na antiga Barroca ficou sua felicidade. Em seu relato, falando que já conheceu o Brasil quase todo, nunca esqueceu seu pedaço de chão.
Inocência quebrava pedras e as transformava em britas para vender. Trabalhava ela e a filha Maria Milda Lima, arranchadas embaixo de latadas ou ranchos cobertos com palhas. À noite continuavam o trabalho diante da luz disforme dos candeeiros.
Inocência é prima legítima do cangaceiro Gato.
D. Inocência, com familiares e o historiador e escritor João de Sousa Lima (Maio/2017)
Seu tio Antônio de Rita e seu filho Ulisses Grande, moradores do povoado Salgadinho, eram coiteiros de cangaceiros. Em uma das viagens de Inocência, ela e a prima Nenê, selaram um burro e amarraram dois caçuás, montaram o animal e foram buscar algumas melancias na casa do tio Antônio de Rita. Quando chegaram a casa do tio encontraram os cangaceiros Gato, Corisco, Bananeira, Volta Seca e muitos outros. Uma grande farra estava acontecendo na casa do tio. Tempos depois, quando a polícia expulsou os moradores daqueles sítios, os forçando a vir morar em Santo Antônio da Glória e na Barra, o perverso tenente Douradinho, passando na Barra, prendeu o Antônio de Rita e o crucificou, pregando suas mãos em uma madeira.
Quando o policial se preparava para matar o sertanejo, Inocência correu, se ajoelhou aos pés do tenente e pediu para que ele não fizesse aquilo com seu tio pois ele era inocente. Diante do pedido da jovem, o tenente, acreditem, libertou o moribundo rapaz”
(www.joaodesousalima.blogspot.com)