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- “Toda grandeza quando não emociona intimida”. Pedro II

Publicada em 02/02/22 às 16:22h - 882 visualizações

Luiz Ruben F. de A. Bonfim


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- “Toda grandeza quando não emociona intimida”. Pedro II
 (Foto: do Acervo de Luiz Ruben F. de A. Bonfim)

Toda grandeza quando não emociona intimida”.

Pedro II 

Nesse momento em que podemos ver a nossa tão decantada Cachoeira em sua plenitude, mesmo que por um curto período de tempo, não poderia deixar de compartilhar com os leitores da Folha Sertaneja, uma publicação do ano de 1932 do jornal baiano, O Imparcial, de 3 de setembro, falando sobre a visita de D. Pedro II em 1859.

Em 2012 lancei o livro O Bronze do Imperador e a Cachoeira de Paulo Afonso, que tem um capítulo contando detalhes sobre o Termo Comemorativo de Paulo Afonso, que marca a visita do Imperador e foi afixado dez anos depois no lado alagoano, próximo a Angiquinho. É o marco em bronze de que fala a matéria abaixo e que foi, posteriormente, essa placa, retirada do local original e levada para a Ilha do Urubu, área pertencente à Chesf, no lado baiano, onde hoje se encontra. 

Me chamou a atenção, no final da matéria, a citação que foi deixada no Livro de Impressões: Esta cachoeira está ficando rouca de gritar pelos engenheiros do seu país”.

Ela faz parte da composição “Paulo Afonso, feita por Waldeck Artur de Macedo, conhecido como Gordurinha, (10.08.1922 – 16.01.1969).

Paulo Afonso

Que coisa louca

Uma cachoeira rouca

De gritar aos engenheiros do país...

 

Luiz Ruben F. de A. Bonfim

Economista e Turismólogo

Pesquisador de Cangaço e Ferrovia

Membro Correspondente da ALPA - Academia de Letras de Paulo Afonso

Conselheiro do Cariri Cangaço

Membro fundador da ABLAC - Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço

Cofundador do GECAPE - Grupo de Estudos do Cangaço de Pernambuco

Membro da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

Membro do GPEC – Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço

 

O Imparcial, Bahia, sábado, 3 de setembro de 1932 

Rio, agosto (Comunicado da Agência Brasileira, por Abelard França)

- Na Casa Imperial da Quinta da Boa Vista, entre a preocupação dos problemas administrativos do país e o trono a ser respeitado pela diplomacia das fronteiras internacionais, certa manhã, tendo diante de si o mapa do Brasil, Pedro II assinalou, levemente, com um lápis azul, um pedaço de terra no alto da carta geográfica.

O monarca estudava naquele momento os pontos do seu itinerário para uma viagem pela terra brasileira. E todas as manhãs, antes de receber ministros e embaixadores, durante alguns dias, fora o seu trabalho. Cada sinal significava no mapa um ponto de estada. E num caderno de notas ia o Imperador escrevendo, na calma do gabinete, as informações e os detalhes que deveriam ser obtidos, em cada local, durante a excursão. Acabara de assinalar, agora, a Cachoeira de Paulo Afonso. O filho de Pedro I não o fizera apenas com a visão de turista. A cachoeira entrara de há muito, nas suas cogitações patrióticas, como um vasto reservatório de força a ser aproveitado pelo Brasil inteiro. Dias depois a comitiva real partia para o norte. Com aquela alma de artista, descobrindo ele mesmo o seu Brasil, foi indo Pedro II, saltando ali, estacionando além.

Desde a capital até ao longínquo interior alagoano já se enfeitavam as ruas de bandeirolas verde-amarelas. As músicas locais faziam novas vestimentas, para prestar a modesta continência a Sua Majestade. Os fogueteiros trabalhavam dias e noites. A festa do Imperador seria a maior de todas as festas.

Enquanto isso, a Cachoeira de Paulo Afonso, sem alterar o ritmo de sua imponência, como ontem, como hoje, como amanhã, parecia adivinhar através de sua beleza de Niágara que o olhar do Rei vinha contemplá-la de perto…

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Contava um velho morador das margens do São Francisco que quando o cavalo de Pedro II foi se aproximando, alguns quilômetros ainda da queda d'água, parou, de orelhas em pé, cismando, “passarinheiro” com medo do ruído que vinha de longe enchendo as quadradas das caatingas sertanejas. O cavaleiro, porém, seguro, ágil, esporou o animal dizendo:

- Toda grandeza quando não emociona intimida.

Chegando depois diante da Cachoeira, enquanto os outros andavam, curiosos, revolvendo pedras e quebrando árvores, Pedro II, de pé, no flanco esquerdo do abismo, olhando a bacia de espumas a se evaporar em arco-íris à luz do sol do meio-dia, sereno, com a fisionomia parada dizia, de quando em quando, apenas uma palavra:

- Grandiosa!… Grandiosa!…

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Da sua visita à Cachoeira existe um marco em bronze:

“S. M. I. O Sr. Dom Pedro II visitou esta Cachoeira no dia 20 de outubro de 1859.

Este bronze foi colocado por ordem do Presidente da Província em 1869”.

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É ainda uma grande beleza desconhecida que existe, no Brasil - a Cachoeira de Paulo Afonso.

O automóvel venceu em 14 horas a estrada, que partindo de Maceió chega a vila operária da Pedra. Nenhuma paisagem mais longe. Antes de cair a noite estávamos na cidade que Delmiro Gouveia fundou no torrão agreste. Ali, ainda no tempo do carro de bois, ele, com os seus sonhos de civilizado e forte na sua alma cabocla, entendeu de transformar a pobreza daquela terra num céu de Canaã, à força quase, obrigando os engenheiros a obedecer o seu plano de execução… Um deles discordando da vontade discricionária de Delmiro Gouveia, certa vez, replicou-o dizendo que era irrealizável o que ele estava tentando. Teimando, o sertanejo venceu o técnico.

E os trabalhos foram concluídos com maior êxito. Fez-se a Fábrica de Linhas da Pedra encravada num despenhadeiro. Fez-se uma cidade rica, um oásis de civilização, dentro do deserto.

Quem chega na Vila da Pedra, onde há jornais e cinemas, esquece que deixou atrás dezenas e dezenas de léguas, onde todas as árvores estão nuas, sem folhas, mortas pelo sol. Ali pisa-se no campo verde, e nos jardins das casas dos operários, há o aroma das flores que desabrocham viçosas, perfumadas…

Há, também, um livro de impressões para quem visita a cachoeira. Tem tanta coisa escrita…

Milhares escreveram. Deixei a minha. Duas linhas. A grande a verdadeira impressão, essa veio comigo. Li algumas. E, entre as que li, anotei esta que pertence a um escritor nordestino, que não me foi possível adivinhar o nome:

“Esta cachoeira está ficando rouca de gritar pelos engenheiros do seu país”.




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