Entre Diesel Batizado E Seguradoras Inertes. É O Brasil
Luciano Júnior
Lá estava eu, pacientemente encostado no acostamento, à espera do reboque, que mesmo pagando caro um seguro, temos que esperar por horas à fio ou, se for em área urbano como neste caso, arcar com uma contratação à parte do serviço de reboque, que desta vez cobrou caro e demorou quase igual tempo ao do seguro convencional que gastei quase sete mil reais este ano.
O carro, inerte, havia sucumbido a um diesel "batizado" — aquele mesmo que, de tão puro, só falta uma gota de honestidade para virar álcool, mas que já vem embalado com um preço que faria qualquer um suspeitar. Não bastasse o meu tanque de paciência vazio de esperança, ainda tinha a notificação do WhatsApp, com a frase de um amigo: “veja só o que Ayn Rand disse uma vez...”.
E assim, como uma dose amarga de filosofia sem açúcar, li a tal citação da filósofa russo-americana, que acertou em cheio. Ela dizia que a sociedade se perde quando a produção depende da bênção de quem não produz, quando o dinheiro flui para onde há favores e não trabalho, e quando as leis protegem exatamente quem deveria ser fiscalizado. Era uma flechada bem no alvo, de quem sabe o que é a corrupção premiada e a honestidade sacrificada. Nosso país.
“Não podia ser mais Brasil”, pensei, encarando o tanque que mais parecia uma lata de desonestidade empresarial líquida do que uma reserva de combustível. A gasolina, o diesel, o etanol — tudo com preço de ouro e qualidade de latão. Num país onde o combustível vai às alturas a cada boato sobre o dólar, enquanto a fiscalização mal tem onde cair morta, restam só as filosofias e os monólogos à beira da estrada.
Olhando o carro, imaginava as mãos envolvidas desde o posto, passando por distribuidoras, até lá nos gabinetes da tal Agência Nacional do Petróleo, que deveria estar fiscalizando. O preço? Subindo. A fiscalização? Em recesso permanente. E eu ali, com a impressão de que todos, exceto o meu carro, estavam abastecidos até o talo de esperteza.
Mas, como não adianta filosofar contra o tanque vazio ou cheio de combustível barizado, peguei o celular de novo e mandei pro meu amigo: “Diz pra Rand que entendi o recado. O problema é que, aqui, enquanto o preço do diesel sobe, a qualidade afunda. E quem paga é sempre o carro — e o bolso — dos mais desavisados.”
O reboque, claro, ainda não tinha chegado. Mesmo com seguro caríssimo. Desrespeito total ao consumidor.
É o Brasil!