Isso também passará!
Luciano Júnior
Sentado em sua cadeira de mogno polido, Salomão observava o anel em seu dedo. Não era um artefato grandioso; sua simplicidade era quase insultante para um rei que já possuíra tesouros incontáveis. Contudo, aquelas palavras gravadas nele – “Isso também passará” – tinham mais peso que qualquer coroa que já adornara sua cabeça.
A frase era uma bússola para os dias turbulentos e também para os momentos de euforia. Quando tudo parecia desabar, ele olhava para o anel e encontrava consolo. Vai passar. Da mesma forma, nos banquetes mais exuberantes, nos aplausos mais calorosos, o anel o lembrava de que a euforia era passageira. Aproveite, mas não se iluda.
Certa vez, um conselheiro se atreveu a perguntar: “Majestade, como algo tão simples pode confortar ou alertar diante da vastidão das suas experiências?”
Salomão sorriu, com aquele ar de quem já vira mais do que deveria. “Porque a natureza humana é presa ao momento”, respondeu. “Na alegria, esquecemos que a roda gira; na tristeza, nos iludimos que ela emperrou.”
O sábio rei sabia que tanto o êxtase quanto a dor, têm um prazo de validade. Viver como se os bons momentos fossem eternos é tão ingênuo quanto acreditar que as tempestades nunca cessam. A grande lição, dizia ele, não estava em se tornar indiferente às emoções, mas em vivê-las com a sabedoria de um cronista do tempo: percebendo que cada capítulo tem início, meio e fim.
Em nossos dias, ainda nos debatemos com a mesma questão. Quando as coisas vão bem, erguemos castelos de certezas. Um novo amor, um emprego promissor, a compra daquela casa dos sonhos – tudo parece definitivo, como se as placas tectônicas da vida jamais se movessem. Então, algo muda. A paixão se transforma em rotina, o chefe deixa de ser justo, e o teto da casa dos sonhos começa a vazar. Aí, somos tentados a esquecer do lado bom. O ciclo se repete.
Se Salomão vivesse hoje, talvez tivesse um anel digital com uma notificação piscante: “Isso também passará.” E quando o Wi-Fi caísse, ele sorriria, lembrando que até isso passaria.
O segredo, no fundo, é o equilíbrio entre a serenidade e o humor. Porque a vida é feita de temporadas, como as séries que tanto amamos. Ora estamos num episódio dramático, ora numa comédia. O truque é lembrar que, independentemente do gênero, os créditos sempre sobem. E amanhã, ah, amanhã começa tudo de novo.
Sabia e rica reflexão, nós deixa atentos aos ciclos da vida. Todos deveríamos ter um anel de Salomão!