A Suspensão de Euclides Batista -
Reflexões Sobre a Ética no Futebol Amador
Luciano Júnior
E não é que Euclides Batista, aquele mestre de tantas artes, acabou nos surpreendendo de novo? Pois foi num grupo de ex-alunos do colegial que a notícia apareceu: Euclides, além de suas façanhas técnicas, administrativas e artísticas, fundara o Garrafão Atlético Clube. Um homem de múltiplos talentos, pensei, mas quem diria que entre eles estava a habilidade para criar um time de futebol ou Clube Recreativo?
A conversa continuava animada quando um dos colegas lançou a cereja do bolo: "Vocês sabiam que, em 1987, quando ele era presidente do Garrafão, Euclides discutiu com Sarapó, o juiz do baba? E, chegando à sede, aplicou a si mesmo um mês de suspensão por indisciplina!” A sala virtual explodiu em risos. Alguém comentou que o Brasil precisava de mais Euclides Batistas no Congresso. Outro brincou que o juiz Sarapó devia ser canonizado por tolerância ao próximo.
Parei por um momento para absorver a história. Quantos, hoje em dia, aplicariam a si mesmos uma punição? Vivemos numa era em que desculpas públicas são preparadas por assessores de imprensa, e a humildade parece uma arte em extinção. A autossuspensão de Euclides não era um gesto cômico, mas um ato de caráter que carregava uma mensagem poderosa: reconhecer nossas falhas não nos diminui; pelo contrário, humaniza-nos.
Imagino a cena de 1987: Euclides, de sobrancelhas franzidas, aquela voz grossa e firme, preenchendo um formulário rudimentar para registrar sua própria suspensão. Ao lado, Sarapó, segurando um apito e um sorriso discreto, talvez até sem entender o que ocorria. Os colegas de time, boquiabertos, sem saber se aplaudiam ou tentavam negociar a pena com o "réu".
Essa pequena crônica de futebol amador ressoa além do baba. Ela nos convida a repensar nossas posturas cotidianas. Estamos tão fixados em proteger nossas reputações que esquecemos do poder transformador de uma boa dose de honestidade. Talvez Euclides nunca tenha lido Adam Grant, mas certamente incorporou a essência de repensar atitudes, de revisitar certezas e de agir com responsabilidade, mesmo em uma partida despretensiosa.
E assim, entre risadas e reflexões, fica a lição: se até o presidente do Garrafão pode se suspender por indisciplina, o que nos impede de admitir nossos deslizes? Afinal, como dizia meu avô, o importante não é apenas jogar limpo, mas também saber quando é hora de sair do jogo para aprender a ser melhor.
Caro Luciano Júnior. Desejo externar a minha satisfação de tê-lo nos espaços deste site trazendo excelentes reflexões, como esta do querido e saudoso amigo/irmão Euclides Batista, desde os tempos da 1ª Igreja Batista de Paulo Afonso, de que tive a alegria de escrever a história dos seus 74 anos. Euclides está lá, como está em seus livros, defendendo os pioneiros de Paulo Afonso. Como você disse, esta ética, que está faltando, vale para para tudo e tem muita gente esquecendo disso. Parabéns!
Excelente matéria! Conheci o Euclides em 1988, a partir daí surgia uma grande amizade; Ele descobriu minha curiosidade por leitura e eu descobri o homem que tinha inúmeras informações e experiências de vida; Passei a conhecer uma biblioteca ambulante, além de pegar bastantes livros emprestados, numa condicional: "emprestado não é dado" devolva-me no dia combinado.
Euclides foi uma grande referência para a juventude da nossa época. Guardo boas recordações desse período e Ele estava sempre presente com os seus sábios conselhos.