Os Tesouros Esquecidos
Luciano Júnior
Reclamar é um hábito sorrateiro. Começa com um pequeno resmungo sobre o despertador que toca cedo demais, passa por um suspiro impaciente no trânsito e culmina em um monólogo interno sobre como a vida poderia ser um pouco mais generosa. Dia após dia, essa ladainha se repete, criando uma névoa espessa de insatisfação que encobre o que realmente importa.
Entre os bens mais valiosos que alguém pode possuir estão a saúde, a paz de espírito, um lar feliz e amigos leais. No entanto, esses tesouros costumam ser os mais negligenciados.
A saúde, por exemplo, só é lembrada quando uma dor inconveniente se instala, como um hóspede inesperado. A paz de espírito, por sua vez, só ganha valor quando o caos se impõe e a mente se vê soterrada por preocupações. O lar, muitas vezes tratado como um cenário trivial da rotina, só revela sua importância quando se está longe, enquanto os amigos, esses aliados invisíveis, são frequentemente subestimados até o momento em que se percebe sua ausência.
Vivemos como colecionadores distraídos, acumulando riquezas que não sabemos apreciar. É preciso que a vida nos dê um chacoalhão — uma doença súbita, uma solidão inesperada, uma despedida precoce — para que percebamos o óbvio: a felicidade nunca esteve nas grandes conquistas que teimamos em perseguir, mas sim naquilo que já nos pertence e que, por descuido, deixamos de celebrar.
Talvez a maior ironia da vida seja essa: passar tanto tempo lamentando as moedas ausentes no cofre da existência e esquecer que, ali dentro, já há ouro suficiente para enriquecer toda uma vida.