O Voto Feminino, a Memória e a Justiça Elefântica
Luciano Júnior
O Brasil tem dessas ironias que fazem a história parecer um roteiro de comédia. Enquanto aguardo pacientemente uma reunião sou lembrado por um amigo de um acontecimento histórico.
Por décadas, as mulheres decidiam tudo, mas, oficialmente, não decidiam nada. Eram as donas da casa, do destino dos filhos, da lista de compras e, claro, do voto dos maridos.
Mas, vejam bem, não podiam votar. Um tipo de "democracia terceirizada", onde os homens iam às urnas, mas levavam no bolso o bilhetinho da esposa com a instrução: "Vote no fulano ou passe fome o mês todo".
Isso mudou em 24 de fevereiro de 1932, quando o Código Eleitoral finalmente reconheceu que, se as mulheres já davam ordens em casa, podiam muito bem opinar no destino do país.
Mas foi só em 1934 que o direito ao voto feminino entrou na Constituição. Dois anos de atraso. O que, segundo algumas línguas maldosas, justificaria o fenômeno histórico das mulheres se atrasarem duas horas para eventos sociais. Uma espécie de "protesto constitucional" perpétuo.
Já em 1946, veio o toque final da piada: o voto feminino passou a ser obrigatório. Aí, alguém levantou a sobrancelha e comentou: "Agora sim, está explicado por que tantas obrigações conjugais são adiadas com a clássica desculpa da dor de cabeça". Afinal, a mulher brasileira, de memória elefântica e instinto hipopótamo-vingativo, não deixa barato.
Ficou décadas sem poder votar? Agora vai compensar cada segundo na fila da cabine de votação.
E cá estamos em 2025, celebrando 93 anos dessa conquista. As mulheres continuam decidindo tudo, só que agora com mais formalidade. Os maridos ainda esperam, mas agora no sofá, segurando a bolsa da esposa/namorada enquanto ela prova "só mais um vestido". Justiça histórica tem dessas coisas: pode demorar, mas quando chega, compensa com juros.