A Universidade do WhatsApp - Doutores do Achismo e da Fanfarronice

Luciano Júnior

E hoje, entre um café e outro, conversava com um dileto amigo sobre um fenômeno curioso da nossa era digital: a UNIZAP – a renomada Universidade do WhatsApp. Uma instituição sem campus, sem reitor, mas com um exército de autodidatas que, munidos de meia dúzia de áudios e links duvidosos, se autoconcedem títulos acadêmicos de alto gabarito.

Doutores em tudo. Especialistas em nada.

Na UNIZAP, não há necessidade de anos de estudo, bancas rigorosas ou bibliografias extensas. O método é simples: um bom achismo aqui, uma certeza absoluta ali, e pronto! Está diplomado. Discute-se com a mesma confiança sobre física quântica, geopolítica, medicina alternativa, agronegócio e até sobre os segredos do universo.

Afinal, se veio em um vídeo com legenda amarela, é verdade incontestável.

As disciplinas são variadas. O curso de História Universal pode ser concluído em três figurinhas e um "sabia não, véi". A Medicina Avançada é lecionada por uma prima da vizinha que curou tudo com chá de boldo e limão. E a Economia Global? Essa é debatida por aquele tio que ainda acredita que imprimir dinheiro resolve qualquer crise.

O problema não está em opinar – porque opinar é um direito sagrado. O problema é que na UNIZAP opinião vale mais que fato. Aqui, quem mais grita vence. Quem manda mais emojis domina. Quem escreve “acorda, Brasil” no final da frase se torna autoridade.

E as discussões... intermináveis!

Debates que começam sobre o preço do arroz terminam em teorias sobre sociedades secretas. Uma simples dúvida sobre vacinas vira um embate filosófico sobre a Nova Ordem Mundial.

E, no meio do caos, sempre surge aquele aluno brilhante que, sem saber usar "mas" e "mais" corretamente, tenta refutar tudo com um "pesquise mais, mané".

O mais curioso é que ninguém nunca se forma. O ciclo é eterno. O aprendizado é um looping infinito de fake news (prefiro usar "mentiras"), memes motivacionais e mensagens em caixa alta com três pontos de exclamação.

E assim segue a vida acadêmica na UNIZAP, onde a pós-verdade é matéria obrigatória e a modéstia intelectual, matéria optativa – e, convenhamos, ninguém se matricula nessa.

Que tenhamos paciência. Porque internet e tempo, pelo visto, já temos de sobra.