À Sombra das Mangueiras - com a poetisa Jovelina Ramalho
Luciano Júnior
Dizem que, de vez em quando, é preciso se perder para se encontrar.
Eu, que vivo perdido no meio do mundo, decidi me perder de propósito: arrumei a mala, deixei a pressa na esquina e fui até Paulo Afonso, não só para rver as belezas do Velho Chico, mas para rever amigos e beber na fonte viva da poesia — a imortal Jovelina Ramalho que lança novos trabalhos.
Sim, beber na fonte. Porque visitar Jovelina não é uma simples visita, é um verdadeiro mergulho nas águas cristalinas da sabedoria, também nordestina, com direito a sombra fresca das mangueiras no seu jardim e quintal. E que mangueiras! Pareciam guardiãs de memórias antigas, espreitando a prosa, abanando a brisa para manter a conversa fresca.
Ela me recebeu como só as grandes damas da palavra sabem receber: com sorriso largo, um brilho curioso no olhar e uma cadeira de balanço generosa, que mais parecia me convidar para esquecer do mundo lá fora. E eu aceitei o convite, claro. Sentei, respirei fundo e deixei a alma se esticar na rede invisível daquele momento.
Entre uma risada e outra — porque Jovelina tem um humor que só quem bebe do pote de barro da simplicidade conhece — ela começou, como quem abre um livro de encantamentos:
“O importante da vida... são os sorrisos que você despertou, a caridade que fez e o amor que plantou.
O resto? São apenas detalhes!”
Ah, meu caro... Se eu tivesse levado um caderno, teria anotado. Mas preferi gravar na memória do coração, que é onde ficam guardadas as coisas que importam de verdade.
E como quem conhece bem as águas profundas da vida, Jovelina ainda pescou uma pérola de outra imortal:
“O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria se aprende com a vida e com os humildes.”
Assim dizia Cora Coralina, e assim repetia minha anfitriã, como quem tempera a conversa com poesia de avó.
Naquele momento, eu percebi que o tempo se dobra para quem vive com alma leve. Os ponteiros do relógio até tentaram se mexer, mas ficaram preguiçosos à sombra da mangueira. E eu, ali, me senti menos perdido nas lutas da vida. Senti que, no fundo, a gente não se perde: a gente se espalha um pouquinho para depois se colher.
E se você me perguntar o que levo desse encontro, te respondo fácil: levo a leveza de saber que, mesmo nos dias mais nublados, sempre haverá uma mangueira amiga para sombrear as preocupações. Levo o conselho de plantar amor — que, diferente das plantas frágeis da cidade, floresce até nas terras mais secas da existência.
A poetisa me deu um presente que não cabe na mala. Mas cabe no peito, bem guardado, feito poesia que se eterniza no quintal da alma.
Excelente texto. Parabéns ao escritor Luciano Júnior e parabéns a sua belíssima fonte de inspiração, a confreira, professora, poetisa e sereia da ALPA: Jovelina Ramalho. Pois, quem ouve a voz suave de Jovelina, fica encantado.