Nesta sexta-feira da paixão, 2 de abril de 2021, chega a notícia, através das redes sociais, do falecimento de D. Inocência Ferreira de Jesus com 114 anos de idade. Em 15 de julho, completaria 115 anos.
Em Maio de 2017, o historiador e escritor João de Sousa Lima localizou na localidade Barroca, onde mora, há mais de cem anos, a Sra. Inocência Ferreira de Jesus que nasceu em 15 de julho de 1906.
Na época, João de Sousa Lima mantinha regularmente uma coluna chamada Histórias Sertanejas no jornal Folha Sertaneja e foi ali, na Edição Nº 159, do mês de Maio de 2017, que ele publicou a história de D. Inocência, depois também veiculada no site www.folhasertaneja.com.br e em www.joaodesousalima.blogspot.com.
No mês de Julho de 2019, o vereador Pedro Macário Neto, através do radialista Giuliano Ribeiro, teve a oportunidade de conhecer D. Inocência que tinha um sonho, aos 113 anos de idade: ser Cidadã de Paulo Afonso e o vereador Macário decidiu atender a este seu desejo e apresentou o projeto na Câmara Municipal de Paulo Afonso, que foi aprovado pela unanimidade dos 15 vereadores.
No dia 20 de agosto de 2019, D. Inocência, acompanhada de filhos e de netos, bisnetos e outros familiares compareceu à Câmara Municipal de Paulo Afonso para receber o Título de Cidadã de Paulo Afonso. E fez questão de agradecer a todos.
Em sua homenagem resolvemos republicar a sua história, contada por este site e jornal Folha Sertaneja em duas oportunidades: na coluna Histórias Sertanejas, de João de Souza Lima que a encontrou em Maio de 2017 e na matéria da entrega do seu título de Cidadã de Paulo Afonso pela Câmara Municipal de Paulo Afonso, em agosto de 2019.
Inocência Ferreira de Jesus, prima do cangaceiro Gato, vive em Paulo Afonso, aos 111 anos de idade
Por João de Sousa Lima
(jornal Folha Sertaneja, 159 – Maio de 2017)
Inocência Ferreira de Jesus, prestes a completar 111 anos de idade (nascida em 15 de julho de 1906 e ainda lúcida tem muitas histórias para contar. Ela é prima legítima do cangaceiro Gato, o mais perverso cangaceiro do bando de Lampião.
Os pais de Inocência eram Cícero Pereira Leite e Teodora Vieira de Jesus. Ela hoje com 111 anos de idade revela que sente saudades da antiga Barroca (povoação as margens da cachoeira de Paulo Afonso, sendo uma das primeiras localidades para acolher escravos fugidos dos aprisionamentos dos perversos bandeirantes paulistanos).
Mesmo tendo nascido próximo a Serra do Retiro, confessa que na antiga Barroca ficou sua felicidade. Em seu relato, falando que já conheceu o Brasil quase todo, nunca esqueceu seu pedaço de chão. Inocência quebrava pedras e as transformava em britas para vender. Trabalhava ela e a filha Maria Milda Lima, arranchadas embaixo de latadas ou ranchos cobertos com palhas. À noite continuavam o trabalho diante da luz disforme dos candeeiros.
Inocência é prima legítima do cangaceiro Gato
Seu tio Antônio de Rita e seu filho Ulisses Grande, moradores do povoado Salgadinho, eram coiteiros de cangaceiros. Em uma das viagens de Inocência, ela e a prima Nenê, selaram um burro e amarraram dois caçuás, montaram o animal e foram buscar algumas melancias na casa do tio Antônio de Rita. Quando chegaram a casa do tio encontraram os cangaceiros Gato, Corisco Bananeira, Volta Seca e muitos outros. Uma grande farra estava acontecendo na casa do tio. Tempos depois, quando a polícia expulsou os moradores daqueles sítios, os forçando a vir morar em Santo Antônio da Glória e na Barra, o perverso tenente Douradinho, passando na Barra, prendeu o Antônio de Rita e o crucificou, pregando suas mãos em uma madeira. Quando o policial se preparava para matar o sertanejo, Inocência correu, se ajoelhou aos pés do tenente e pediu para que ele não fizesse aquilo com seu tio pois ele era inocente. Diante do pedido da jovem, o tenente, acreditem, libertou o moribundo rapaz.
D. Inocência Ferreira de Jesus, que pode ser a moradora mais idosa do Brasil, recebeu o título de Cidadã de Paulo Afonso
D. Inocência: “Agradeço aos vereadores e a todos que vieram aqui me espiar”
D. Inocência Ferreira de Jesus, aos 113 anos, recebe o título de Cidadã de Paulo Afonso (Foto: Antônio Galdino)
Em Maio de 2017, há pouco mais de dois anos o historiador e escritor João de Sousa Lima localizou na localidade Barroca, onde mora, há mais de cem anos, a Sra. Inocência Ferreira de Jesus que, no dia 15 de Julho daquele ano completaria 111 anos.
Na época, João de Sousa Lima mantinha regularmente uma coluna chamada Histórias Sertanejas no jornal Folha Sertaneja e foi ali, na Edição Nº 159, do mês de Maio de 2017, que ele publicou a história de D. Inocência, depois também veiculada no site www.folhasertaneja.com.br e em www.joaodesousalima.blogspot.com.
João, um pesquisador de muitos anos das histórias do cangaço e das passagens pelos cangaceiros por estas terras sertanejas que, até 1958, pertenciam ao município de Glória, ficou encantado com a segurança com que D. Inocência narrava os fatos sobre o cangaço, onde ele teve parentes e muitos amigos envolvidos.
Ela informou ao historiador que era prima legítima do cangaceiro Santílio Barros, conhecido como Gato, um dos quinze cangaceiros nascidos no Brejo do Burgo e dos quase cinquenta que saíram destas terras, hoje pauloafonsinas, para o bando de Lampião. Gato é um dos personagens dos seus livros, especialmente do livro “Lampião em Paulo Afonso” (2ª Edição, Editora Fonte Viva, 2013 - página 140 e seguintes) e já mereceu curta-metragem produzido por João de Sousa Lima.
Em sua matéria, João de Sousa Lima diz: "D. Inocência era sobrinha de Antônio de Rita. Ele e seu filho Ulisses Grande eram moradores do povoado Salgadinho e eram coiteiros de cangaceiros".
Encontrar D. Inocência, para João de Sousa, foi a oportunidade de ouvir muitas histórias que comprovaram suas pesquisas sobre esse tema.
Inocência nasceu na localidade Barra, nas terras do município de Glória e há mais de cem anos mora na Barroca, hoje território do município de Paulo Afonso.
Os pais de Inocência eram Cícero Pereira Leite e Teodora Vieira de Jesus.
Inocência quebrava pedras e as transformava em britas para vender. Trabalhava ela e a filha Maria Milda Lima, arranchadas embaixo de latadas ou ranchos cobertos com palhas. À noite continuavam o trabalho diante da luz disforme dos candeeiros.
Giuliano Ribeiro (Rádio Angiquinho) entrevista D. Inocência na Câmara de Paulo Afonso, 19/8/2019
No mês de Julho de 2019, o vereador Pedro Macário Neto, através do radialista Giuliano Ribeiro, teve a oportunidade de conhecer D. Inocência que tinha um sonho, aos 113 anos de idade: ser Cidadã de Paulo Afonso e o vereador Macário decidiu atender a este seu desejo e apresentou o projeto na Câmara Municipal de Paulo Afonso, que foi aprovado pela unanimidade dos 15 vereadores.
No dia da entrega do título, ali estava D. Inocência acompanhada de filhos que moram na região, muitos netos, bisnetos e grande público curioso para conhecer a mais idosa moradora de Paulo Afonso e, possivelmente, a mais velha moradora do Brasil e a segunda mulher mais velha do mundo, apenas atrás da japonesa Kane Tanaka de 116 anos, reconhecida em março de 2019 pelo livro Guinness World Records como a mulher mais velha do mundo.
A Câmara de Vereadores foi uma manhã de festa e de emoção, tanto nos discursos dos familiares, como dos vereadores, todos radiantes com a simpatia e a firmeza e segurança de D. Inocência que, fez questão de responder a muitas perguntas feitas pelo radialista Giuliano Ribeiro e, apesar da deficiência visual que a acompanha nos últimos anos, fez um pequeno discurso, agradecendo aos vereadores “e a todos os que vieram aqui me espiar”.
A prole gerada por D. Inocência é enorme. De seu casamento com Antônio Teotônio também já falecido nasceram sete filhos e ela ainda criou outra adotiva. Destes oito filhos, quatro filhas ainda estão vivas. Duas delas moram em São Paulo, uma mora no Rio de Janeiro e a outra mora em Paulo Afonso. Estes filhos lhe deram dezesseis netos, trinta e quatro bisnetos, quinze tataranetos e um tetraneto, que ela chama de “escanchaneto”.
Uma das pessoas que estavam emocionadas com D. Inocência foi a poetisa Socorro de Mendonça, da Academia de Letras de Paulo Afonso que fez questão de abraçá-la e dizer a ela desta sua emoção. “Eu me encantei com a história desta mulher na matéria que vi esta semana no site da Folha Sertaneja que fala de como o confrade João de Sousa Lima a encontrou, há dois anos e pouco e que bom que ela esteja sendo homenageada e veja realizado o seu desejo de ser Cidadã de Paulo Afonso, aos 113 anos. Que lição de vida, meu amigo! Nós não temos mesmo limite para deixar de sonhar. Fiz questão de espera-la na sua chegada... Que lindo!”, exclamou a poetisa Socorro de Mendonça.
Da ALPA também estavam ali, Gorette Moreira, Francisco Nery, Professor Fernando e o presidente Antônio Galdino, diretor do jornal Folha Sertaneja.
O jornal Folha Sertaneja parabeniza o historiador João de Sousa Lima que descobriu esse tesouro em Paulo Afonso em Maio de 2017 e a Giuliano Ribeiro e equipe da Rádio Angiquinho (Kaká, Arnaldo Ferreira, Eraldo Oliveira) e ao Vereador Pedro Macário Neto e todos os seus pares da Câmara Municipal de Paulo Afonso pela linda homenagem.
A expectativa de todos os pauloafonsinos é que, tanto os vereadores de Paulo Afonso, como a gestão da Prefeitura Municipal de Paulo Afonso acompanhem de perto esta mais nova Cidadã de Paulo Afonso e lhe prestem a assistência necessária, especialmente quanto à sua saúde e muitas outras homenagens porque D. Inocência Ferreira de Jesus é também a mais idosa Cidadã de Paulo Afonso e possivelmente a mais idosa brasileira e a segunda mulher mais idosa do mundo.
Ela nasceu no povoado Barra, do vizinho município de Glória em 15 de Julho de 1906. Mora há 106 anos em terras que hoje pertencem ao município de Paulo Afonso e completou, em 15 de julho de 2019, 113 anos de idade neste município que tem apenas 61 anos de emancipação política
Veja a matéria da entrega do título de cidadã com mais fotos no link abaixo:
https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/local/392788/1
DIGO: DONA INOCÊNCIA.
Conhecer dona VICÊNCIA, foi emocionante.Lúcida, relatando sua luta, sofrimentos e superações. Tinha sonho de ser reconhecida pela sociedade! Este foi realizado. Com orgulho apresentou alguns familiares, falou da família na quarta geração. Respondeu com clareza todas as perguntas feitas para a reportagem. Em um momento esboçou risos, falando do seu passado. Deixou uma história que representa a coragem da mulher sertaneja. Vai em paz minha linda.