No 5º dia desta SEMANA JÂNIO SOARES – dia 28 de julho de 2022, dia do aniversário de 64 anos do município de Paulo Afonso/BA, neste resgate de lembranças e memórias que estão fazendo o site www.folhasertaneja.com.br, o Jornal Folha Sertaneja e a Academia de Letras de Paulo Afonso - ALPA – onde Jânio Soares ocupava a Cadeira Nº 20, esta crônica publicada no Jornal A TARDE e também nesse site, Jânio Soares fala da magia de se apertar um botão e a claridade inundar os ambientes.
A ideia desta Semana Jânio Soares, lembro a todos, é que o seu aniversário de 64 anos, seria no dia 21 de julho, uma semana antes do aniversário do município de Paulo Afonso, que também completa 64 anos, ambos nascidos no ano de 1958.
E para ilustrar esse texto – A Luz de Paulo Afonso - nos valemos de uma foto feita no começo da noite, pelo também saudoso e renomado fotógrafo João Tavares, mostrando a cidade de Paulo Afonso vista do alto do San Marino Hotel. Em outra foto de Tavares, a luz de Paulo Afonso vai longe e ilumina, nas primeiras horas da manhã, as águas do rio São Francisco quando a equipe do Departamento de Turismo de Paulo Afonso (Prof. Galdino, João de Sousa Lima, Cristiane Guimarães, Marlos Guerra e o cinegrafista Ricardo Costa (da Galvídeo) e o fotógrafo João Tavares, que faleceu recentemente), participava dos 150 anos da Rota do Imperador e saíamos de Penedo-AL na viagem pelo rio São Francisco até Piranhas e de lá, de carro, até a Cachoeira de Paulo Afonso, realizada em outubro de 2009, trajeto feito pelo Imperador D. Pedro II que visitou a Cachoeira de Paulo Afonso em 20 de outubro de 1959.
Abraço fraterno.
Antônio Galdino da Silva
Jornal Folha Sertaneja
Site www.folhasertaneja.com.br
Presidente da ALPA
A luz de Paulo Afonso
Janio Soares
No momento em que escrevo este texto (antes das 5 da manhã) ela ainda desenha caprichosamente seu facho sobre as águas do São Francisco que, certamente agradecido pela belíssima composição, parece mandar a força exata através de fios e postes para fazê-la brilhar assim, nesse tom perfeito.
Pena que daqui a pouco começará a amanhecer e aí seu clarão esmaecerá lentamente até apagar de vez ao som dos clicks dos interruptores das casas e das fotocélulas dos postes. Mas sei que até chegar ao final deste escrito, ainda terei tempo de curtir as sutilezas dessa paisagem que, diariamente, tenho a sorte de assistir do meu quintal.
Quando ainda está amanhecendo e sopra um vento norte, como agora, não é nenhum exagero dizer que seu brilho balançando na água é quase igual a uma tela de Van Gogh que eu vi um dia, só que acrescida das primeiras garças que passam quase triscando suas asas na superfície. Já na calmaria de uma madrugada de verão, onde as réstias flutuam entre algarobas, canoas e mormaços, a esquadria de alumínio do meu quarto parece que emoldura com perfeição um quadro que poderia muito bem ter saído do pincel de Claude Monet.
Mas todas essas abstrações vão embora assim que o dia chega e o sol que alucinava Baleia surge avisando que quem manda nesse sertão é a escrita seca do mestre Graciliano.
Para os nordestinos nascidos antes da década de 50, a chegada da energia elétrica gerada pelo funcionamento da usina Paulo Afonso I foi um verdadeiro acontecimento. Que o diga dona Canô, que numa recente entrevista revelou que a coisa que mais a impressionou ao chegar pela primeira vez em Salvador não foi a grandeza da capital, tampouco seu movimento.
O que verdadeiramente lhe encantou foi o simples gesto de apertar um botão e ver tudo clarear em volta. Igualmente a ela, milhares de nordestinos também ficaram maravilhados com a novidade que, à época, foi saudada como “a luz de Paulo Afonso”.
Acredito que essa meninada nascida e crescida sob o domínio da cibernética, não tem a menor ideia de como surgiu e nem de onde vêm os milhares de quilowatts que carregam seus celulares, dão vida aos seus computadores e alimentam os sons de suas baladas.
Também acho que a maioria nunca ouviu falar de um moço chamado Delmiro Gouveia, que no começo do século passado percebeu que a beleza e a força das águas da cachoeira de Paulo Afonso poderiam render muito mais do que belos versos de Castro Alves, elogios de Dom Pedro II e exclamações de encantamento de boquiabertos visitantes. E foi exatamente graças ao seu pioneirismo e a incessante luta do engenheiro Apolônio Sales – que comandou uma grande campanha nacional – que nasceu a Chesf, com a finalidade específica de promover o potencial hidrelétrico do rio São Francisco.
Pra terminar, conto uma historinha que aconteceu numa reunião em que participei com representantes de centenas de municípios da Bahia, onde seriam definidas suas potencialidades. No intervalo de uma das palestras, uma simpática - e desinformada - senhorinha quis saber de onde eu era. “Paulo Afonso”, respondi. “E lá tem o quê?”.
Olhei para o enorme e iluminado salão com o ar condicionado tinindo, assim como o som, o projetor e demais equipamentos elétricos e aí, quando ia lhe dizer que se um conterrâneo meu quisesse acabar com aquela festa era só apertar um botão, anunciaram o “coffee break”, que por sinal não estava lá grande coisa.
Que belo texto! O que seria de algumas regiões do nosso Brasil sem a terra da energia, a nossa Paulo Afonso? Somos privilegiados por viver arrodeado de tanta beleza!