Nesse 13 de Dezembro, dia do aniversário do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que nasceu em Exu em 13 de dezembro de 1912, para os pauloafonsinos traz o registro triste do falecimento de Jânio Soares que nos deixou há exatos dois anos atrás, aos 63 anos de idade.
Ele morava com a família em Glória/BA, terra de seus familiares mais antigos e ali teve um infarto. Foi trazido para o HNAS mas não resistiu.
Filho de Cecília e do Tenente Zé da Silva, sobrinho de D. Alda do Cartório, cresceu numa casa sombreada por umbuzeiros e tamarineiros na cidade de Glória, hoje submersa pelas águas do mesmo rio São Francisco, que lambia as suas costas, exaltado em suas crônicas.
Foi assim que o próprio Jânio Soares, conhecido por todos como Janinho, escreveu a sua biografia para o arquivo da Academia de Letras de Paulo Afonso - ALPA, onde foi recebido festivamente exatamente há 6 anos, no dia 12 de dezembro de 2017, em solenidade realizada no Memorial Chesf de Paulo Afonso.
Recebido na ALPA pela sua grande qualidade como cronista, muito lido na Bahia pois, desde o ano de 2006 escrevia quinzenalmente, aos sábados em coluna do Jornal A TARDE, de Salvador.
Também em Salvador, foi colaborador do site Bahia em Pauta (www.bahiaempauta.com.br) e mantinha uma coluna de Literatura periódica no site Bahia Notícias (www.bahianoticias.com.br/cultura/literatura).
Em sua posse na ALPA exatamente pelas suas qualidades de cronista, foi saudado pelo presidente da ALPA, Antônio Galdino da Silva e recebeu a estola amarela, símbolo da ALPA e o Diploma de membros dessa instituição cultural das mãos do também acadêmico fundador da ALPA, o escritor e diretor de Cultura da Prefeitura, responsável pela Casa da Cultura, na época, João de Sousa Lima.
Em seu discurso, já como Acadêmico da ALPA, Jânio Soares ressaltou a importância da Academia de Letras para Paulo Afonso e dizia da sua alegria de fazer parte dessa confraria.
Na ALPA, Jânio Soares ocupava a Cadeira Nº 20 que tem como patrono o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro. Hoje essa cadeira é ocupada pela dramaturga Dolores Moreira.
No dia de seu falecimento, uma segunda feira, a Câmara Municipal de Paulo Afonso suspendeu a sessão ordinária, que seria a última do ano, antes do recesso parlamentar e emitiu Moção de Pesar pelo falecimento de Jânio Soares.
A Academia de Letras de Paulo Afonso também emitiu Moção de Pesar pelo falecimento do seu membro, Jânio Soares, da Cadeira Nº 20 e a Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, além de Moção de Pesar, decretou Luto Oficial de 3 dias pelo falecimento do seu Secretário Municipal de Cultura e Esportes.
A Deputada Estadual da Bahia, Fabíola, lhe fez tocante homenagem na tribuna da Assembléia Legislativa. O Jornal A TARDE, também lhe prestou singela homenagem e lamentou a perda do seu colaborador.
Jânio Soares, memória viva da história do município de Paulo Afonso, faleceu há dois anos, em 13 de dezembro de 2021.
Dentre muitos textos em que fala sobre Paulo Afonso, o rio São Francisco, Glória, reapresentamos este a que ele chamou de A LUZ DE PAULO AFONSO, que, como centenas de outros exalta esta nossa região e mereceram espaço, por 15 anos a cada 15 dias, aos sábados no Jornal A TARDE, de Salvador, no Jornal Folha Sertaneja, em livros da ALPA, no site www.folhasertaneja.com.br e outros.
A luz de Paulo Afonso
Janio Soares
No momento em que escrevo este texto (antes das 5 da manhã) ela ainda desenha caprichosamente seu facho sobre as águas do São Francisco que, certamente agradecido pela belíssima composição, parece mandar a força exata através de fios e postes para fazê-la brilhar assim, nesse tom perfeito.
Pena que daqui a pouco começará a amanhecer e aí seu clarão esmaecerá lentamente até apagar de vez ao som dos clicks dos interruptores das casas e das fotocélulas dos postes. Mas sei que até chegar ao final deste escrito, ainda terei tempo de curtir as sutilezas dessa paisagem que, diariamente, tenho a sorte de assistir do meu quintal.
Quando ainda está amanhecendo e sopra um vento norte, como agora, não é nenhum exagero dizer que seu brilho balançando na água é quase igual a uma tela de Van Gogh que eu vi um dia, só que acrescida das primeiras garças que passam quase triscando suas asas na superfície. Já na calmaria de uma madrugada de verão, onde as réstias flutuam entre algarobas, canoas e mormaços, a esquadria de alumínio do meu quarto parece que emoldura com perfeição um quadro que poderia muito bem ter saído do pincel de Claude Monet.
Mas todas essas abstrações vão embora assim que o dia chega e o sol que alucinava Baleia surge avisando que quem manda nesse sertão é a escrita seca do mestre Graciliano.
Para os nordestinos nascidos antes da década de 50, a chegada da energia elétrica gerada pelo funcionamento da usina Paulo Afonso I foi um verdadeiro acontecimento. Que o diga dona Canô, que numa recente entrevista revelou que a coisa que mais a impressionou ao chegar pela primeira vez em Salvador não foi a grandeza da capital, tampouco seu movimento.
O que verdadeiramente lhe encantou foi o simples gesto de apertar um botão e ver tudo clarear em volta. Igualmente a ela, milhares de nordestinos também ficaram maravilhados com a novidade que, à época, foi saudada como “a luz de Paulo Afonso”.
Acredito que essa meninada nascida e crescida sob o domínio da cibernética, não tem a menor ideia de como surgiu e nem de onde vêm os milhares de quilowatts que carregam seus celulares, dão vida aos seus computadores e alimentam os sons de suas baladas.
Também acho que a maioria nunca ouviu falar de um moço chamado Delmiro Gouveia, que no começo do século passado percebeu que a beleza e a força das águas da cachoeira de Paulo Afonso poderiam render muito mais do que belos versos de Castro Alves, elogios de Dom Pedro II e exclamações de encantamento de boquiabertos visitantes. E foi exatamente graças ao seu pioneirismo e a incessante luta do engenheiro Apolônio Sales – que comandou uma grande campanha nacional – que nasceu a Chesf, com a finalidade específica de promover o potencial hidrelétrico do rio São Francisco.
Pra terminar, conto uma historinha que aconteceu numa reunião em que participei com representantes de centenas de municípios da Bahia, onde seriam definidas suas potencialidades. No intervalo de uma das palestras, uma simpática - e desinformada - senhorinha quis saber de onde eu era. “Paulo Afonso”, respondi. “E lá tem o quê?”.
Olhei para o enorme e iluminado salão com o ar condicionado tinindo, assim como o som, o projetor e demais equipamentos elétricos e aí, quando ia lhe dizer que se um conterrâneo meu quisesse acabar com aquela festa era só apertar um botão, anunciaram o “coffee break”, que por sinal não estava lá grande coisa.