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MEMÓRIAS DO PIONEIRO - LUIZ FERNANDO

A Rainha Elizabeth II e a Chesf - o carinho da acolhida em Recife e em Salvador

GOD SAVE THE QUEEN

Publicada em 24/10/24 às 13:14h - 937 visualizações

Luiz Fernando Motta Nascimento


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Link da Notícia:

A Rainha Elizabeth II e a Chesf - o carinho da acolhida em Recife e em Salvador
 (Foto: Da net)

Nota do Editor:

A Chesf – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – inaugurou a sua primeira Usina Hidrelétrica em Paulo Afonso/BA em 15 de janeiro de 1955, com a presença do Presidente da República, Café Filho, nordestino do Rio Grande do Norte. 

O consumo dessa energia gerada em Paulo Afonso, chamada pelos “cassacos” de “a luz de Paulo Afonso” cresceu muito e, logo a Chesf iniciou a construção da segunda Usina Hidrelétrica, que começou a operar em 1961. E depois, emendou com a construção das Usinas Paulo Afonso 3, Paulo Afonso 4 e a Usina Apolônio Sales que, juntas, têm a capacidade de produzir mais de 4,3 milhões kW. 

Somada a capacidade de geração das Usinas Luiz Gonzaga (Petrolândia/PE) –1.479 milhões kW e Hidrelétrica de Xingó (Canindé do São Francisco/SE) – 3.162 milhões kW, todas as usinas instaladas no submédio rio São Francisco, o complexo de Paulo Afonso é responsável por mais de 80% da energia de fonte hidráulica gerada pela Chesf.

No final da década de 1960, precisamente no ano de 1968, o Brasil recebe a visita da Rainha Elizabeth II, que começa sua visita por Recife. Dali, a Rainha seguiu para Salvador.

É o que nos conta o Engenheiro aposentado da Chesf, Luiz Fernando Motta Nascimento, caminhando para os 86 anos, baiano que trabalhava na Chesf no Recife naquele ano. Teve até apagão, no Recife e abraço de vendedor de berimbau, em Salvador... 

Conta aí, Dr. Luiz Fernando... (Antônio Galdino – Editor do site)

Memórias de 1968 -

A Rainha Elizabeth II e a Chesf - O carinho da acolhida em Recife e em Salvador - GOD SAVE THE QUEEN

 Luiz Fernando Motta Nascimento

Como o consumo de energia elétrica do Nordeste estava crescendo muito, especialmente no Estado de Pernambuco, a Diretoria da Chesf decidiu criar e instalar, em agosto de 1967, uma Superintendência de Operação, sediada em Recife.

O designado foi o engenheiro Antônio Ferreira de Bragança Filho, então assessor da Diretoria Técnica, para comandar a Superintendência. Além de engenheiro era Professor da Escola de Engenharia do Rio de Janeiro, Pastor Evangélico e General da Reserva do Exército Brasileiro.

Logo depois, em 1968 a Assembleia Geral decide criar a Diretoria de Operação e Manutenção Elétrica, sediada em Recife. Bragança então assume esta Diretoria.

Portanto, esta era a primeira Diretoria criada fora da Sede da Chesf no Rio de Janeiro.

Foi uma grande correria para se estruturarem os Departamentos, Divisões e Serviços da nova Diretoria.

Lembro que eu, Leonardo Lins e o Chefe Mário Santos tivemos que trabalhar vários dias e noites inteiras para atendermos às recomendações do Diretor Bragança, na montagem do organograma, pessoal, definição das ferramentas e dos equipamentos.                                

Nesta época, na área da Subestação de Bongi havia duas casas, em que uma morava o engenheiro Mário Santos, Chefe da Manutenção, e na outra o engenheiro Jaime Moura, Chefe da Operação. 

A nossa sorte é que a esposa de Mário Santos, dona Enilda, chegava perto da meia noite com um lanche reforçado.

Mas, todas as recomendações e orientações do Diretor Bragança foram cumpridas, vindo a ser a Diretoria de Operação um padrão de referência na Chesf.  

Rainha Elizabeth visita o Recife - Foto Arq DP

 A Rainha Elizabeth II no Recife

Também em 1968 a Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, programou fazer uma visita ao Brasil. Esta visita durou onze dias e a Rainha esteve em Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas e Brasília. Essa foi a única vez que uma Monarca Britânica visitou a América do Sul.  Recife foi a primeira parada da Rainha Elizabeth II no Brasil.

Assim, em primeiro de novembro de 1968, a Rainha desembarcou às 16 horas e 15 minutos no Aeroporto dos Guararapes, a bordo de uma aeronave modelo VC-10 da Real Força Aérea. A Rainha, com 42 anos, usava um vestido estampado nas cores verde e amarela.

O Príncipe Philip, o Duque de Edimburgo, desembarcou no Aeroporto de Guararapes, em Recife, 15 minutos antes, pois tinha vindo do México, onde havia assistido aos Jogos Olímpicos. 

Do Aeroporto dos Guararapes, a Rainha Elizabeth II e o esposo, o Príncipe Philip, fizeram um trajeto de cerca de 14 quilômetros em um automóvel aberto Lincoln preto, modelo 1935, usado apenas em ocasiões especiais, passando pela Avenida Boa Viagem, seguindo para Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo de Pernambuco.

Cerca de 30 mil bandeirinhas do Brasil e da Inglaterra foram distribuídas para que as pessoas acenassem para a comitiva ao longo do trajeto até o Palácio do Campo das Princesas.

Os dois foram recebidos pelo então Governador de Pernambuco, Nilo Coelho. Participaram deste evento o escritor e antropólogo Gilberto Freyre, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, autoridades e a elite econômica do Estado de Pernambuco.

Ela ficou cerca de duas horas na cidade, mas teve tempo suficiente para provar e gostar do suco servido em um banquete no Campo das Princesas. A rainha não se serviu de qualquer fruta, alegando já ter merendado a bordo de sua aeronave, mas tomou refresco de pitanga. Como gostou do sabor azedinho da pitanga, a Monarca então ganhou duas caixas da fruta, por determinação do Governador Nilo Coelho, as quais foram levadas ao Iate Real Britannia que a aguardava no Porto de Recife.

O Príncipe Philip imitou-a e aceitou depois uma dose de uísque, como complemento.

O Gabinete do Governador, onde a comitiva foi recebida, ganhou uma decoração especial com artesanatos pernambucanos. Entre os presentes para a Rainha estavam uma obra do grande pintor Lula Cardoso Ayres e outro do ceramista Francisco Brennand.

A Rainha Elizabeth II e o Príncipe Philip embarcaram, às 18 horas e 30 minutos, no Britannia, Iate Real da Marinha Inglesa, e seguiram para Salvador. Eles chegaram à capital baiana no domingo às 7 horas do dia 3 de novembro. 

A recepção à Rainha Elizabeth II no Recife, ficou marcada por uma situação inusitadaDurante o evento, um apagão deixou o Recife às escuras por cerca de 25 minutos. Os geradores de emergência do Palácio do Campo das Princesas não funcionaram. Aliás não sei se existiam.

Todas as velas que estavam decorando o ambiente foram usadas na iluminação. A Rainha não se abalou e continuou com a sua simpatia e com sorrisos.

Então a recepção continuou à luz de velas. Há versão que Deputado Estadual Marco Maciel teria dito: "O acender dos candelabros dá a este momento histórico um magnífico toque vitoriano".

Com o crescimento do consumo da energia de Recife a Chesf já havia construído uma Subestação de 69 kV dentro da região do Bongi, a fim de atender a demanda da Companhia de Eletricidade de Pernambuco - CELPE

Esta subestação tinha algumas Linhas de Distribuição (Alimentadores) para atenderem melhor todos os consumidores da Cidade de Recife.

Cada Alimentador deste é protegido por um disjuntor e sua cadeia de proteção. Assim, havendo um defeito este disjuntor, comandado pelo sistema de proteção, desliga automaticamente apenas esta linha.

Em caso de um defeito da área interna da Subestação 69 kV o seu sistema de proteção envia uma ordem para uma chave auxiliar (definida como chave 86WL), instalada nos painéis da Sala de Comando, que desliga toda esta Subestação.

Esta chave auxiliar 86WL além de desligar toda Subestação, por medida de segurança fica travada. Somente será liberada manualmente após o defeito ser corrigido. As letras WL em inglês significam With Locking e em português Com Travamento.    

A Equipe de Manutenção de plantão foi uma parte para a Sala de Comando e a outra para esta Subestação para analisarem o problema ocorrido.

Nada de anormal encontrou-se na Subestação, porém a chave auxiliar permanecia travada impedindo o religamento desta Subestação. A providência emergencial foi desligar a bobina da chave auxiliar e liberá-la manualmente sua operação voltado às condições operacionais, praticamente normais.

Por precaução os disjuntores dos alimentadores foram operados manualmente diretamente do pátio da Subestação, restabelecendo-se o fornecimento normal da energia elétrica para toda a Cidade de Recife.

No dia seguinte todos os cabos de comando e controle de dentro da canaleta entre a Sala de Comando e a Subestação foram inspecionados.

Acontece que por volta de 1966 houve um incêndio na Estufa que estava no prédio da Subestação Principal do Bongi. Foi então construída uma Estufa provisória de madeira, enquanto se construía a nova Estufa no prédio da Manutenção. Esta foi construída próxima ao prédio da Manutenção, porém em cima da canaleta a fim possibilitar a sua energização.

Por esta canaleta passavam também os cabos de comando e controle que interligavam a Sala de Comando à Subestação de 69 kV.

Nesta época os cabos não tinham um revestimento interno resistente a ataque de térmitas (formigas e cupins).

Segundo os especialistas, os cupins se alimentam de celulose. A hidratação é fundamental para a sobrevivência destes animais. Os cupins possuem mandíbulas muito fortes. Como são bem pequenos, eles conseguem penetrar nas tábuas, fiações elétricas e paredes de concreto para ir atrás de comida.

Exatamente embaixo desta Estufa provisória encontramos o revestimento dos cabos de comando da chave auxiliar 86WL corroído pelos cupins. Provavelmente o curto-circuito nos cabos corroídos tenha sido provocado por uma chuva fina que caiu na região da Subestação do Bongi no momento da recepção no Palácio do Campo das Princesas.

Depois da inspeção detalhada e das fotografias dos cabos estes foram recompostos, voltando a bobina da chave auxiliar às condições normais de operação.

Eu, Leonardo Lins e o Chefe Mário Santos entregamos um Relatório completo para o Diretor de Operação, Antônio Ferreira de Bragança Filho, o qual o enviou para o Comando do Quarto Exército, sediado em Recife. Ficando então esclarecido o motivo do apagão.

O Coronel Nivaldo Costa, no banco da frente, é o pai do ex-Presidente da Chesf, o Engenheiro José Carlos Aleluia Costa. 

A Rainha Elizabeth II em Salvador

Pela primeira e única vez, a Rainha Elizabeth II chegou a Salvador em um domingo, 3 de novembro de 1968, às 7 horas da manhã.

Ao lado do Príncipe Philip, a Rainha desembarcou do Britannia, o Iate Real da Marinha Inglesa, e logo visitaram o Mercado Modelo.

A recepção foi feita pelo Prefeito de Salvador da época, Antônio Carlos Magalhães, e pelo Governador da Bahia, Luiz Vianna Filho.

“Que encantamento estar em sua terra”, disse a Rainha para ACM.

No trajeto, esteiras de sisal com flores espalhadas por cima, no Mercado Modelo.

A Rainha recebeu uma penca de prata confeccionada pelo joalheiro Gérson Viana.


Foto: reprodução de www.correio24horas.com.br, de 8 de setembro de 2022


O cantor e compositor, Chocolate da Bahia, ficou frente a frente com a Rainha e tocou berimbau para ela. Ele relembra o momento. “Eu cantei uma música que fiz especialmente para ela, e ela quebrou o protocolo. Nunca tinha se visto isso acontecer, uma Rainha abraçar um tocador de berimbau”.

A saída ficou caracterizada por dois fatos curiosos. Primeiro, o lojista Américo Oliveira Lopes furou o esquema de segurança e presenteou o Príncipe Philip com um berimbau. Depois disso, a Rainha e o Príncipe se dirigiram para o automóvel aberto Lincoln Modelo K, de 1935, da Ford, que os levaria para percorrer alguns logradouros antes de chegar ao Palácio da Aclamação.

Ao sentar no banco, um susto, como narrou a Revista Manchete da época. “A soberana sentou-se na poltrona de couro do carro, fechou a boca de repente, abriu os olhos com surpresa e se pôs em pé um pouco mais depressa do que deveria, provocando a paralisação do cortejo. O banco, exposto ao sol por horas e horas, estava muito quente”, diz o texto.

O dia da visita histórica foi marcado por inúmeros compromissos oficiais, mas também por uma simplicidade surpreendente.

A Rainha tomou suco de pitanga, comeu beiju com queijo ralado e quebrou os protocolos de segurança, recebendo cumprimentos e presentes da população, que lotou as ruas da capital para recepcionar a Monarca do Reino Unido.

O passeio permitiu à Rainha Elizabeth II conhecer a essência da população, que a recebeu com muitos aplausos e acenos. A retribuição veio com sorrisos.

As ruas estavam enfeitadas com bandeiras do Reino Unido e do Brasil e muitos prédios foram pintados.

Algumas crianças, inclusive, conseguiram furar o bloqueio da segurança e se aproximaram do veículo oficial.

Apesar do calor, a Rainha veio preparada, pois estava com um vestido leve de seda, de cor rosa, além de um chapéu com algumas flores, colar e brincos de pérolas.

Quando o cortejo passava pela Igreja da Conceição da Praia, os sinos tocaram trechos do Hino da Inglaterra, do Hino do Brasil e do Hino da Bahia.

A comitiva depois subiu a Ladeira da Montanha e chegou à Praça Castro Alves e depois ao Palácio da Aclamação, na Avenida Sete de Setembro próximo do Campo Grande.

Diversos pontos de Salvador foram visitados, entre eles o Clube Inglês, a Igreja de São Francisco, no Terreiro de Jesus, o Museu de Arte Sacra, além do mais importante, o Palácio da Aclamação.

Neste último, a Rainha Elizabeth II e o Duque de Edimburgo foram apresentados a outros membros do governo, na presença de cerca de 120 casais da sociedade baiana.

Personalidades, intelectuais e artistas também se fizeram presentes na cerimônia que durou aproximadamente 35 minutos. Entre eles estavam o escritor Jorge Amado, o pintor, ilustrador e escultor Carybé e o Arcebispo Dom Eugênio Sales.

Durante o período da estada da Rainha Elizabeth II em Salvador ela teve sempre ao seu lado o Coronel Nivaldo Lins da Costa Chefe da Casa Militar do Estado da Bahia. Na passagem pelos logradouros de Salvador o Coronel Nivaldo Costa ficou sentado no banco da frente do automóvel aberto Lincoln Modelo K, de 1935, da Ford, na frente da Rainha Elizabeth II. O Coronel Nivaldo Costa é o pai de nosso amigo e ex-Presidente da Chesf o Engenheiro José Carlos Aleluia Costa.

De volta ao Iate Real, ao meio dia e meia a Rainha Elizabeth II e sua comitiva partiram rumo ao Rio de Janeiro, sua próxima parada.

No mar da Baía de Todos os Santos, o Britannia foi “escoltado” por alguns saveiros, em uma espécie de procissão, e que contou no total com outras cerca de 40 embarcações.

Assim a Rainha Elizabeth II e sua comitiva deixavam os domínios elétricos (Recife e Salvador) da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - Chesf.

A Rainha Elizabeth II com seu sorriso e fidalguia, conquistou todos, e venceu com a sua simpatia e com sua luz própria a batalha contra o BC. Porém, o BC aqui não era o 19º Batalhão de Caçadores (o nosso glorioso Batalhão Pirajá do Exército Brasileiro, sediado na Rua Silveira Martins, no Bairro do Cabula em Salvador) e sim o “Batalhão dos Cupins”.

GOD SAVE THE QUEEN

                                                                                              Luiz Fernando Motta Nascimento

Publicado em Revista da Academia de Letras de Paulo Afonso

Nº 5 - Ano 2023 (págs. 80 a 89)




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4 comentários


Joel Tadeu do nascimento

25/10/2024 - 19:55:29

Parabéns jornalista A g


Leonardo

25/10/2024 - 10:26:54

Parabéns ao autor memorialista. Papai, foi um dos fundadores da Chesf, havendo criado, juntamente com o tb Prof Apolonio Sales, a Associação dos Engenheiros do Nordeste, para mobilização técnica e apoio político ao Pj de construção da hidrelétrica de Paulo Afonso


Jaime Leivas Piuma

24/10/2024 - 19:52:44

Interesssnte e com inumeros detalhes o que é próprio do amigo Luiz Fernando Wz


Professor Galdino

24/10/2024 - 15:41:24

Transcrevo comentário da Professora Lúcia Rolim ex do COLEPA: "Eu era pequena quando a rainha esteve aqui. Lembro demais porque fiquei segurando uma bandeirinha do Brasil e da Inglaterra. Fui no ônibus da escola pública com minha turma toda pra ficar acenando as bandeiras diante do Palácio das Princesas numa distância programada. Não esqueço desses relatos nas páginas dos jornais e nos noticiários das emissoras de rádio.(Lúcia Rolim, no grupo de WhatsApa Amigos do COLEPA)


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