Sérgio Moro conversa com os senadores
Para início de conversa, e para massagear o nosso ego historicamente maltratado, devemos reconhecer que há avanço no Brasil. O ministro da justiça, Sérgio Moro, conversou com os senadores em ambiente de cordialidade e respeito na comissão de Constituição e Justiça do senado que passou por uma renovação esperançosa nesta legislatura. Setenta e cinco por cento dos senhores senadores hipotecaram solidariedade e desejaram sucesso ao ministro, nosso herói do momento, espécie de penhor do governo Bolsonaro, muitos com palavras doces e agradecidas. O ministro, como amplamente divulgado, procurou dissipar dúvidas sobre sua condução ética como juiz na condução da operação Lava-Jato.
Esta é a nossa visão ou o nosso momento. Mas como estão nos vendo lá de fora? Qual a percepção que os estrangeiros têm do Brasil, fundamental para a inserção do país no contexto mundial? Procurei pesquisar em jornais de todo o mundo. Foi no Le Monde que encontrei o melhor resumo que passo a traduzir para os meus leitores na esperança de ajudarmos a construir um ambiente de otimismo para o nosso país, ainda desejando, ou sugerindo, a manifestação dos mesmos na certeza que cada um tem muito a contribuir.
Mais embaixo, segue o texto original do Le Monde de ontem para gáudio, deleite e pesquisa dos que amam o francês. Abaixo, a tradução:
O Brasil é um país de psicologia complexa. O mito do super-herói consola subliminarmente o desânimo [embaraço, desordem, barafunda] de uma população sujeita a toda sorte de dramas (sociais, políticos, humanos). [O povo] recorre, então, ao sonho de um personagem excepcional e heroico que porá fim ao sofrimento, à violência, ao medo, ao desemprego, à fome, ao abandono.
Uma grande parte da população adere ao conceito de salvador da pátria, ou ao conceito de mãe da pátria (houve um tempo em que Dilma Rousseff era assim chamada), tanto quanto aos mitos (termo atribuído a Bolsonaro pelo seu eleitorado) – daí o comprometimento profundo do qual Sérgio Moro termina sendo beneficiado.
A cada vez que o povo brasileiro se vê confrontado com decepções da parte dos seus heróis, o desânimo é grande. Carece, portanto, encontrar um culpado, um bode expiatório, aquele causador do mal advindo.
Depois da publicação dessas mensagens comprometedoras [entre Moro e os procuradores da Lava-Jato], o hashtag DeportaGreenwald (“Expulse Greenwald”) veio à tona, mas Greenwald, jornalista na origem das revelações, afirma que, a despeito das ameaças, “de fato repugnantes, explícitas, grotescas, que são bastante inquietantes, e que nós levamos muito a sério”, ele não deixará o Brasil.
Tristes, [patéticas] zonas tropicais onde incessantes terremotos políticos conduzem o país a um futuro incerto e fazem aflorar o pior de nós mesmos.
(Tradução do francês de Francisco Nery Júnior)
Tsunami psychologique
Le Brésil est un pays à la psychologie complexe. Le mythe du super-héros console secrètement le désarroi d'une population livrée à toutes sortes des drames (sociaux, politiques, humains). On finit par rêver d'un personnage exceptionnel et héroïque, qui mettra fin à la souffrance, à la violence, à la peur, au chômage, à la faim, à l'abandon.
Une grande partie de la population adhère au concept de sauveur de la nation, à celui de mère de la patrie (il fut un temps où Dilma Rousseff était appelée ainsi), ainsi qu'aux mythes (surnom attribué à Bolsonaro par son électorat) –d'où l'attachement profond dont bénéficie Sérgio Moro.
À chaque fois que le peuple brésilien est confronté à des déceptions de la part de ses héros, le désœuvrement est grand. Il faut alors trouver un coupable, un bouc émissaire, celui par qui le malheur est arrivé.
Depuis la publication de ces messages compromettants, le hashtag #DeportaGreenwald («#ExpulsezGreenwald») a vu le jour, mais Glenn Greenwald, journaliste à l'origine des révélations, affirme que malgré les menaces «vraiment répugnantes, explicites, grotesques, qui sont assez inquiétantes et que nous prenons très au sérieux», il ne quittera pas le Brésil.
Tristes tropiques, où les incessants séismes politiques projettent le pays vers un avenir incertain et font ressortir le pire de nous-mêmes.