A imprensa francesa está apavorada com os incêndios na floresta amazônica que a Europa considera “o pulmão do mundo”. A Alemanha, mais comedida, também começa a colocar pressão sobre o governo brasileiro. O Le Figaro publica: “Macron acusa Bolsonaro de ter ‘mentido’. A França rejeita o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosur ‘neste estado de coisas’”.
O Le Monde estampa a manchete: “Incêndio: a Amazônia paga [pela] a política do presidente brasileiro.” Os excertos seguintes foram retirados do Le Monde de 23.08.2019:
“Aproximadamente 74000 incêndios foram detectados a partir de janeiro no Brasil, uma cifra em alta de 84% com relação a 2018 na mesma época.”
E continua, sobre a chuva pejada de fuligem que caiu sobre São Paulo: “Uma camada de fumaça vinda da floresta amazônica, como de países vizinhos como a Bolívia, se colocou sobre os estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná misturando-se com uma corrente de ar frio.”
“’Um 19 de agosto parecido com o 11 de setembro’, declarou, alarmado, Mauro Paulino do Datafolha. A garoa, chuva fina de São Paulo, não era mais a mesma: a água da chuva estava preta”, continuou o jornal.
O nosso presidente tem que entender que vivemos em um concerto de nações independentes. Enquanto elas não chegarem à conclusão que, na época das comunicações instantâneas e das viagens rápidas, deveria ser fundamental uma espécie de comando mundial (citemos a União Europeia), há que se trilhar o caminho do entendimento. Contra fatos não há argumento.
Estão desmatando desordenadamente a Amazônia como desmataram a Mata Atlântica. De Jean Jacques Rousseau: “Já que nada autoriza um homem [uma nação] se julgar superior ao outro, o único caminho é o entendimento”. O contrário seriam as carnificinas a que os homens têm se entregado durante séculos.
Ao invés de espernear, Bolsonaro poderia anunciar a intenção de estabelecer estudos para a exploração compreensiva e responsável da Amazônia.
Os brasileiros depositaram sua confiança em Jair Bolsonaro em pleito democrático. Nós ainda o respeitamos. Mas essa confiança também nos autoriza lembrar ao presidente que não se pode governar aos pontapés. Não se jogam pedras esperando flores em troca. Um presidente da República tem que ser comedido e mesmo elegante. Do contrário, terminaremos isolados pelo resto do mundo.
Francisco Nery Júnior