Não foi bem um encontro. Mas certamente foi um abraço. Andando pelas ruas de Toulouse, um encontro casual com a esquerda francesa. Ser esquerdista na França pode parecer um pleonasmo, mas nunca será perda de tempo meditar sobre o que poderia estar motivando o atual movimento dos coletes amarelos.
Políticos como Richard Nixon sempre acharam que nunca serão bastantes as concessões. Eles, o pessoal que arvora para si o manto da liberdade, igualdade e fraternidade, agora representados pelos coletes amarelos na França, sempre estarão a querer mais. Talvez a minha leitura, segundo a qual a direita está em posição de conceder, ou simplesmente ceder, à esquerda seja um momento histórico da evolução da humanidade. Poderia ser uma fotografia do momento surgida da câmera do autor.
Assim entendendo o momento, bati de frente com uma manifestação dos coletes amarelos no centro de Toulouse. Da minha casa, já tinha tido a oportunidade de ouvir várias vezes o rufar dos tambores e o rugir das suas gargantas. Espetáculo de democracia e direito de expressão, poderíamos escrever. Afinal, se olharmos com cuidado, senão carinho, verificaremos que o mundo ainda é bastante desigual.
O presidente francês Emmanuel Macron é banqueiro, teve uma boa formação acadêmica e já foi ministro da economia. Embora muitos o vejam como homem do centro político com queda para a esquerda, a confiança do povão vem diminuindo. As reformas liberais de Macron têm desagradado aos mais pobres que veem o seu poder de compra diminuir.
O cinto sempre foi o melhor termômetro da satisfação do povo. Quando a barriga aperta, não há esquema político que sobreviva. Esta afirmação certamente adquire valor agregado ao ser dita do coração da França para o leitor de Paulo Afonso.
Assim prossegue o movimento dos coletes amarelos contra o que eles consideram perda de conquistas duramente adquiridas. Iniciado quase que espontaneamente há poucos meses, o seu nome se deve ao fato de ser obrigatória a presença de um colete amarelo na mala de todo veículo francês para fins de sinalização em caso de acidente.
O nosso abraço, sem levar em conta a cor do abraçado, significa uma insatisfação latente contra um mundo ainda incompreensivelmente desigual.
Francisco Nery Júnior
Acadêmico da ALPA, cadeira Nº 18
De Toulouse, França, para o jornal Folha Sertaneja
O imortal Francisco Nery, com seu jeito singular de escrever, nos faz viajar com ele através de suas narrativas. Muito gratificante ler seus textos. Parabéns, Nery. A ALPA agradece sua contribuição literária!
Excelente matéria. 👏👏👏