É primeiro de janeiro, o povo curtindo o bom sono após a comemoração da virada do ano, as ruas desertas e a vizinhança tranquila a nos deixar livres para a meditação. Aí o canto do silêncio nos convida à conversa. Este ano, reinício da coluna nos dois sites, fruto do entendimento das redações.
De cara, com a devida legitimidade, o aperreio do papa Francisco, semblante fechado a resmungar a inconveniência de uma fã – fiel no jargão católico.
É característica da crônica a resenha do dia a dia. Também o toque pessoal do cronista e a licença para o uso da primeira pessoa. Melhor, a conversa com o leitor no interior da comunidade e a busca, de forma literária, para a excelência da vida em sociedade e para a otimização dos recursos comuns.
Se o termo não estivesse desgastado, poderíamos dizer para a busca da felicidade. Os tropeços podem vir; as decepções também. A limitação do cronista e o cansaço coletivo. Mas o levantar de novo, com todas as desculpas e compreensões – como fez o papa Francisco – nos coloca no patamar de homens e mulheres civilizados.
O balanço das nossas ações comuns é fundamental. Há que ser elaborado. Do cronista, Dom Mário afirmou “dizer algumas coisas que precisam ser ditas”, o que Anilton Bastos, nosso leitor assíduo, observou em outras palavras. E do doutor Paulo de Deus, a declaração que aquele “sabe se colocar”.
Do professor de língua portuguesa, doutorando e imortal da ALPA, Luís José, a observação que cada produção supera a anterior. A avaliação do leitor, seria bom saber. E se ele soubesse o quanto pode acrescentar... Se soubesse que os detentores do poder, ladinos, sábios e experientes, nos ouvem muito mais do que pensamos!
Na praça de São Pedro, no Vaticano, uma fiel se apoderou da mão do papa Francisco que cumprimentava os turistas e participantes da primeira missa do ano. Travou firmemente os dedos nos do pobre papa de 83 anos e o puxou violentamente para perto quase o derrubando por terra. Ela parecia desejá-lo só para si. A reação do xará Francisco não poderia ter sido diferente: diligentemente procurou se livrar da inconveniência – que deve ter pressuposto perigo (há o precedente do ataque a João Paulo II) - com vigorosos tapas na mão da egoísta.
Francisco já se desculpou. Confessou-se homem igual a nós outros. Explicou a sua reação. Justificou o semblante fechado e rubro de sangue que sabemos do susto e que achou poderíamos censurá-lo como grosseria. O papa ainda pronunciou algumas palavras de reprovação que os microfones não conseguiram captar. Com a sua experiência, devem ter sido precisas e oportunas para quem não soube se comportar.
Refeitos todos do susto, na luta nem sempre gloriosa de perdoarmos e nos esquecermos das ofensas uns dos outros, prossigamos firmes no caminho de 2020 com as bênçãos do Criador. Poderemos, aqui e acolá, nos irar. Mas solenemente prometemos que iremos às últimas consequências, na medida do possível, para não pecar.
Francisco Nery Júnior