No topo do meu prédio da Getúlio Vargas, mantive, por longo tempo, três árvores em containers gigantes. Creio ter sido uma visão futurística. O tempo, a velhice, o cansaço e as viagens atrapalharam tudo. Um dia, as desci por guindaste e as fiz plantar por Tonho, um ajudante de fibra dos bons da nossa cidade, na praça em frente. Estão lá até hoje, fortes e altaneiras. Cumprem o seu papel. Os homens nem sempre o fazem.
Seria alta presunção afirmar que esta matéria se dirige aos gestores, representantes e arquitetos da cidade e região. Eles são ligados e competentes. Deles a reação.
Em 2050, as cidades abrigarão dois terços da humanidade. Está publicado. Teremos que decidir se queremos Paulo Afonso como uma cidade sauna, horrivelmente quente, ou uma cidade “natureza”, humanizada, amena e agradável.
Tal tipo de cidade se impõe como preciosa aliada na luta contra o aquecimento global. Na Europa e na América, publica o Le monde de Paris, começam a surgir as fachadas vegetalizadas como em Milão, Estocolmo e Bruxelas, abelhas nos terraços de Copenhague, Paris e Chicago e florestas urbanas em Barcelona e Toronto. Surgem galinheiros nos playgrounds dos prédios em Montreal e em Valença.
Se seguirmos o exemplo dos americanos e europeus, Paulo Afonso será, nas próximas décadas, uma cidade bastante mais agradável, tomando como certo que salvaremos o rio São Francisco da morte certa. Em outras palavras, se conseguirmos convencer os poderes constituídos e a população agora, já e neste momento que se impõe a reconstituição das matas ciliares e a proteção das nascentes dos afluentes do rio. Isto se faz recompondo a vegetação nativa e acelerando o tratamento dos esgotos. Os cariocas recompuseram a floresta da Tijuca. Podemos fazer o mesmo ao longo do São Francisco.
Francisco Nery Júnior