Se o futuro é uma invenção dos impacientes, o que é o passado? Talvez a escola dos marinheiros aprendizes.
Aprendemos, com Abraham Maslow e Frederick Herzberg, que há fatores higiênicos e motivacionais essenciais à indústria, e indispensáveis à satisfação das necessidades básicas dos homens - fisiológicas, de segurança, afeto, estima e autorrealização.
O Dr. Alves de Souza sabia disso, quando veio residir na Forquilha com Dona Nair, no quase fim de mundo deste sertão cheio de pó e de pedra, de malárias e maleitas; aqui deixou seu coração sepultado no chão do Belvedere, mas que ainda vive e bate em nossos corações reconhecidos.
Em recente episódio*, representantes da Chesf, ao abordar a transferência do Hospital Nair Alves de Souza para o poder público, demonstraram, contudo, insensibilidade e ingratidão surpreendentes.
Não somos contrários aos fatos; à empresa contemporânea não cabe suprir as deficiências do Estado, como definiu a Justiça, mas também não podem seus dirigentes tripudiar dos vínculos históricos, heroicos e sentimentais que nos unem, indissoluvelmente.
Disseram eles que a economia resultante da transferência só não daria para pagar os honorários dos advogados que lutam pelo título do Flamengo contra o Sport... “O que é que a Chesf, meu Deus do céu, uma empresa de engenharia elétrica, tem a ver com o mingau que vai ser servido a pacientes?”. “Que é que a gente vai fazer com isso?”. “Veja a que ponto...”. “Graças a Deus...”. “O pessoal de gestão de suprimentos tem que entender de mingau, né? “...
A chacota e o riso não nos ofendem – nos envergonham!
Nós amamos a Chesf, nós somos a Chesf, Paulo Afonso e a Chesf são e serão sempre, aqui neste topográfico coração do Brasil, a Redenção do Nordeste, o orgulho da engenharia nacional, o cadinho de valores e princípios que edificaram às margens do rio da integração esta cidade moderna, inventiva, criativa, inclusiva, diferente, tecnológica, eterna.
Os que pensam apenas no lucro e na economia não servem aos interesses corporativos. Pensam limitados, agem limitados, limitam-se às suas metas particulares de desempenho, não às intenções estratégicas da gestão responsável, solidária, social, sustentável, contemporânea.
O Santo Agostinho ensina que devemos odiar o pecado, mas amar os pecadores. O homem prudente é aquele que pensa e age como pensa. Talvez este episódio não seja um comportamento organizacional, mas apenas um lapso momentâneo. De pessoas que, humanas como todos nós, estão sujeitas à tentação do pecado. Um trade off ou um gap, quem sabe?
A segunda melhor coisa do mundo é aprender. A primeira é errar.
Edson Mendes
12.12.2020
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Embora tenha capital privado, a Chesf, parte da Eletrobras, é, assim, uma estatal. Pertence, portanto, ao povo. Nada estranho que pessoas do povo, doentes em um hospital, mereçam a preocupação da liderança da empresa sobre seu mingau lá no hospital já que não podem, por recomendação médica, comer rabada, vatapá ou caruru. O confrade Edson me adiantou o texto publicado pela Folha. Agradeci e lhe enviei: Rapaz, quando li o que disseram os diretores da Chesf - e a postura de gozação ou seja lá o quê - sobre a transferência do HNAS -, também fiquei chocado. Confesso que não entendi o que pode ter sido uma "mancada" deles como você muito bem descreve na parte final do seu artigo. Eu faria minhas as suas palavras nesse texto lógico, respeitoso e bem concatenado; sem baixas nem acréscimos. Acho que eles poderiam nos pedir desculpas. Foram infelizes, pode ser.