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Opinião/Reflexão/Crônica

Adeus, Tarcísio

Publicada em 28/01/21 às 00:07h - 654 visualizações

Edson Mendes


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Adeus, Tarcísio


Uma vez eu disse a Tarcísio: Caso me encontrem no Bar Real igualmente o velho Maria, nem precisa me acordar, estarei dormindo – profundamente, doucement. Faço questão apenas de duas coisas: que o enterro seja às 3 da tarde, e que minha playlist toque ininterruptamente...  Peço ainda que, na saída do féretro, haja uma parada no Pirata, para um discurso de saudade. Com os pés já no outro mundo, quero ver com estes olhos, que a terra vai comer, algumas mulheres que amei – damas, ladies, costureiras, prostitutas, senhoras – sei que são apenas ectoplasma, mas ectoplasma também tem alma, não é?

Ele riu muito quando acrescentei: “Seu Tarcísio Pereira será o mestre de cerimônias. O Rei do Brasil, em se falando de Livrarias, pagará as pacas caras, e as baratas também, algumas biritas e lauto farnel, com o meu cartão Credisete 17.0101-26451.07, vencido em janeiro/89 – mas isso é lá com ele!”

E aí ontem resolve Tarcísio se adiantar e seguir viagem antes de nós, que o amamos fraternalmente, visceralmente, como se ama um pai, um filho, um irmão - um homem digno, generoso, amoroso, carinhoso, empreendedor, idealista, íntegro, honesto, que, na selva escura de nossos dias manteve puros e limpos e claros seus pensamentos, palavras e obras.

Na cobertura inicial de certa mídia, bisonha e pífia, barrigas narizes e gavetas roubaram-lhe espaço, e aos poucos segundos de cenho franzido logo se sucederam os sorrisos e esgares das próximas notícias. Mas sabemos, oh! como sabemos, o quanto essas fugazes efemérides são apenas fugazes e efêmeras. Tarcísio Pereira ficará para sempre no panteão dos grandes, e em todo o país eu sei que a esta hora sua morte nos comove e seu exemplo, que moveu a tantos, continuará luzindo no céu dos inesquecíveis, na lembrança fiel dos amigos, dos autores, dos leitores, dos livreiros, da arte, da cultura - nas orelhas, nas folhas, nas páginas, nos colofões dos livros que tanto amou e aos quais dedicou toda sua vida.

Dona Cecita e Júlia me disseram que ele estava melhor, e aí eu falei: “Dê um beijo nele, viu? Vamos comemorar. E esperar o dia certo para tomar vacina com cerveja - ou guaraná!” No dia 22 de dezembro, mandei pra ele esta mensagenzinha de Natal, mas ele não viu. Mando agora de novo, outra vez...

 

“canção de natal

 

enquanto você se lembrar de mim

eu viverei

enquanto eu me lembrar de você

seremos felizes

a vida é um jardim

e os amores são flores

todas as sementes

germinam

como disse frida:

eu pinto flores para que elas não morram”

Adeus, Tarcísio. Até outro dia.

 

Edson Mendes

Recife, 22.12.2020
Recife, 26.01.2021




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3 comentários


Paula Francinete Rubens de Menezes

28/01/2021 - 18:57:19

Parabéns, Edson. Belo texto, merecida homenagem.


F. Nery Jr.

28/01/2021 - 11:19:29

Caro Edson, colega imortal, pintemos as flores e vivamos na lembrança dos que ficam. Abraços.


Virgílio Agra

28/01/2021 - 08:48:07

Na leitura dessas linhas me lembrei do tempo em que eu, estudante no Recife, era frequentador da Livro 7.Parabéns pelo texto.


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