Começamos a fazer um Curso de Manequim e Modelo, na Escola Padre Ugo Meregalli, há algum tempo atrás. Descobrimos que seria Bom para todas nós, pelo fato das disciplinas serem voltadas, também, para melhorar a nossa qualidade de vida.
Lembramos de uma menina que vimos na rua, fumando maconha, pedindo roupa e comida e sem lugar certo para viver. Ela passava o dia na rua, nas pistas pedindo esmolas e à noite nós não sabíamos onde ela dormia.
Depois da primeira aula do Curso, tivemos o mesmo pensamento: vamos convidar a menina da rua. A encontramos, durante uma chuva forte. Estava toda molhada. Perguntamos seu nome e pedimos que ela trocasse aquela roupa para não pegar um resfriado. Ela disse que se chamava Ana e que não tinha outra roupa. Providenciamos roupas para ela e a levamos a um lugar protegido. No começo estava assustada, até então ninguém tinha feito nada por ela. Aos poucos ficamos sabendo a sua história. Perdeu os pais muito cedo, numa enchente. Começou a andar com outros meninos e meninas, lutando para sobreviver. Se sentia totalmente excluída. Pela forma como vivia, as pessoas a maltratavam e não ajudavam em nada.
Quando dissemos que ela deveria frequentar o Curso, resistiu de imediato, disse que se sentia feia e suja e que ninguém iria gostar dela.
Ficamos preocupadas com o destino de nossa nova amiga. Lembramos de uma Freira muito caridosa que sempre ajuda a quem precisa. Levamos Ana até ela e, depois que contamos a sua história, tivemos uma linda surpresa. A Religiosa disse que um casal sem filhos estava procurando uma menina para adotar. Era a oportunidade de Ana, estávamos certas disto. Como experiência, o casal aceitou a menina.
Convencemos então Ana a frequentar o Curso. Não contamos nada ninguém, até mesmo para que ela se sentisse segura. E assim, durante três meses, sempre nos finais de semana estávamos lá, viajando com o nosso Professor num Trem imaginário, a caminho do sucesso. Durante a viagem, algumas companheiras desistiram, Ana em momento algum pensou em desistir.
A vida de Ana começou a mudar: tinha uma Família, novos amigos, estava aprendendo a viver melhor, através do Curso. Já não falava alto e estava se sentindo bonita e feliz. Quando soubemos, através dela, que o casal resolveu adotá-la de verdade, não foi surpresa para nós. O que ela precisava era de amigos, de carinho, de amor, de segurança. E Deus nos deu a oportunidade de dar a ela tudo isto.
Finalmente chegou o fim do Curso, a última Estação de nossa maravilhosa viagem. O Desfile aconteceu em um lugar lindo, as nossas Famílias estavam lá esperando nossa chegada, inclusive a Família de nossa querida Ana. Fomos aplaudidas, abraçadas e elogiadas. Já temos alguns trabalhos programados. Estamos felizes.
Pedimos a você que procure ajudar a quem precisa, abra seu coração. Não se preocupe tudo de bom vai lhe acontecer.
E se um dia você encontrar uma menina na rua, sozinha, com fome, sem roupas, sem Família e sem amigos, ajude, estenda sua mão, pode ser que ela também se chame Ana!
Fim
(Por Valdomiro Nascimento)
PS: - Esta Estória foi escrita pelas alunas do Curso de Manequim e Modelo, ministrado por Valdomiro Nascimento, de setembro a dezembro de 2006, Oficina do Programa Escola Aberta, do Governo Federal, desenvolvido pelos Ministérios da Educação, Trabalho e Emprego, Esporte e Cultura e com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura), realizado pela Secretaria Municipal de Educação de Salvador, na Escola Padre Ugo Meregalli, no Bairro de Jaguaribe II – Estrada Velha do Aeroporto – Salvador, Bahia.
O mundo precisa de cidadãos como meu Amigo Valdomiro e o professor Galdino, o qual não conheço pessoalmente, mas, já admiro, para estender a mão a pessoas, como Ana, para descortinar um mundo igualitário e digno, não seres inferiores, que se sentem superiores, e não hesitam em nos empurraram para baixo. Parabéns pela matéria!
Gratidão à Folha Sertaneja por compartilhar conosco história tão inspiradora. Precisamos de mais Valdomiros e Galdinos neste mundo.
De fato, como disse o comentarista, "As escrituras sagradas dizem que um coração alegre, aformoseia o rosto".Uma atitude tomada há 15 anos, sem o interesse de alguém da organização aparecer como o tal, resultou nesse benefício direto para algumas, uma que tenha sido, jovem naquele distante ano de 2006. Tenho acompanhado por aqui e aplaudido o trabalho de Derinho Oliveira também voltado para esta área da valorização da beleza singela de meninas que não são enxergadas por muitos por serem pobres, negras, morarem na periferia até que sua beleza interior explode nos seus olhos radiantes, no seu jeito de menina e nelas explodem as grandes mulheres que estavam escondidas na sua simplicidade... Fico sempre feliz em divulgar histórias como esta, como a da doceira Dora, coincidentemente também enviada por Valdomiro. Quantas meninas Anas existem à nossa volta e precisam só de um olhar que lhes dê a oportunidade de mostrar o seu brilho intenso, escondido nas roupas simples e no rosto sem maquiagem... Disse muito bem o comentarista... Não era apenas um curso de modelo e manequim... Era a abertura de uma grande janela para a vida...
Como é extraordinário saber que a maior e mais importante beleza vem do interior. É encantador notar que a autoestima é fundamental para transformar também o exterior. As escrituras sagradas dizem que um coração alegre, aformoseia o rosto. Esse trabalho de Valdomiro, muito mais que um desfile de modas, muito mais que um evento fashion, muito mais que uma atividade de despertamento da beleza, é um projeto de valorização da vida, sobretudo. Parabéns. Quantas Anas você acolheu, deu famílias, deu oportunidades, deu norte.
É importante dar visibilidade a um trabalho tão bem feito como esse que Valdomiro realizou em nossa escola no ano 2006. Promoveu a autoestima das meninas, ajudou no desempenho escolar e, principalmente,desenvolveu o auto-respeito e a consciência na capacidade própria de realizar sonhos. Valeu Val! Parabéns!
Nossos agradecimentos ao Professor Antonio Galdino pela Divulgação deste Trabalho tão importante!Estamos felizes!