Nós todos morreremos, amanhã ou depois. Isso é certo como dois e dois são quatro - cinco, seis, nem sei mais... Alguns enfezados, cheios de bile como certos sapos, de peçonha como certas cobras, de raiva como certos cães. Outros de empáfia, presunção, soberba e mágoa. Alguns de solidão, de fome, de tristeza. De alegria também, de euforia, de alforria, quem é que pode saber? Muitas coisas sabemos, mas só de uma temos todos a mesma certeza: esse dia chegará. Você pode até admitir como destino, sina, penitência, castigo. E aceitar que, em sendo assim, receberá no outro mundo a recompensa da vida eterna. Como dizem as escrituras, as crenças, os credos. Mas eu tenho certeza de que você não tem outra certeza senão a da fé, e a fé, eu sei, além de mover as montanhas, também é um refrigério para nossas dores e um alívio para nossas aflições. Eu sei. Mas enquanto isso, por que não antecipar um pouco das futuras benesses do pós-futuro? Fazendo o bem, ou fazendo o mal, com picuinhas ou gentilezas, afetos ou desafetos, não morreremos todos igualmente no dia definitivo? Se houver outra vida, seremos cobrados pelo que lá façamos ou pelo que aqui fazemos? E se não houver, nada nos importa lá, mas por aqui talvez importe o que fazemos, como fazemos e por quê fazemos. Se o fim é o mesmo, talvez antes do fim possamos ser menos infelizes. Sem bile, sem soberba, sem mágoas, sem rancores. A cada um, portanto, é dado antecipar o fim ou esperar pelo fim. Se o mal nos corrompe, ele se antecipa, se o bem nos protege ele se posterga. Vieira disse um dia: Suposto, pois, que todos havemos de morrer e todos imos para a sepultura, o maior favor que Deus pode conceder a um mortal é que morra e chegue lá mais tarde. Você, o que diz? Faça o amor, não a guerra. Boas Festas. Feliz Ano Novo.
30/12/2021
Gosto demais dos seus artigos. Feliz Ano Novo com escritos excelentes a nos presentear.vX2h6 m