Nota do Editor:

Este site, que tem alcançado bom número de acessos diários, tem também recebido, frequentemente, sugestões de textos para publicação, enviados de várias partes do Brasil. Como temos os nossos colunistas regulares e o site sempre foi aberto para os membros da ALPA e escritores, poetas outros de Paulo Afonso, temos publicado pouco esse material recebido. Hoje, recebemos uma crônica de um jornalista, escritor, poeta mineiro de Jacutinga, sobre um tema realmente muito interessante: conversas no Salão de Barbeiro. Lembrei imediatamente do Abel Barbeiro (in memoriam), - que se orgulhava de ter cortado o cabelo de Pelé, quando trabalhou em Santos/SP - e de Zé Barbeiro que, quase aos oitenta anos continua mestre da tesoura...

Conheçam um pouco sobre Rodrigo Alves e leiam a sua crônica A barbearia da conspiração. Por certo, quem já foi ao salão de barbeiros conhece muito bem o cenário e o que se passa ali. (Editor do site www.folhasertaneja.com.br)

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2022 relançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores, disponível na Amazon, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino. 

Crônica: A barbearia da conspiração 

Por Rodrigo Alves de Carvalho 

Consegui, após duas semanas postergando, um horário para aparar os poucos cabelos que ainda me restam na barbearia aqui do meu bairro.

Se bem que, mesmo marcando o horário e chegando com uma certa antecedência, sempre acontece de termos que esperar muitos minutos para chegar nossa vez.

Contudo, esse tempo passa rápido, porque a conversa entre os outros clientes que também estão esperando a vez de aparar as madeixas ou fazer o pezinho rende bastante assunto, algumas vezes, de bom proveito, mas na grande maioria das vezes, de pura conversa fiada, principalmente, quando o barbeiro em questão adora comentar as notícias de caráter duvidosos que recebe pelas redes sociais.

— Recebi uma mensagem em um grupo do WhatsApp, de uma mulher que se diz médica ginecologista, dizendo que um novo tipo de Dipirona que está sendo fabricada na Rússia, agora está espalhando um novo vírus que causa uma doença que gruda os olhos, como uma conjuntivite, mas a pessoa nunca mais consegue abrir! – Comentou o barbeiro.

— É por isso que eu não tomo Dipirona. – Retrucou um dos clientes coçando os olhos. — Mas pode ter certeza que os Estados Unidos já devem estar criando um colírio tira grude para descolar os olhos.

— Isso tudo faz parte de um plano de conquista pela Nova Ordem Mundial! – Diz o barbeiro.

— Já ouvi falar nisso... – Completa um outro cliente com uma proeminente calvície no centro da cabeça — Existe um grupo de magnatas bilionários que querem conquistar o mundo! No Whats sempre recebo uns vídeos esquisitos de umas antenas virada para o céu, que controla o tempo.

— Deve ser por isso que está fazendo tanto calor! – Se adianta um senhorzinho sem a mínima noção do que é Whats, mas preocupado com o controle do tempo pelos magnatas, também sem saber o que é isso.

— É por isso que tem ciclone em algumas partes do Brasil, tempestades em outras e calorão noutros lugares! – Exclama o barbeiro.

— E o tamanho das pedras de gelo que estão caindo em alguns lugares. São do tamanho de tijolos Baiano! – Complementa o cliente sentado na cadeira, ao receber as últimas espanadas na nuca antes de se levantar.

Finalmente chega a minha vez. O barbeiro joga a capa sobre meu tronco, aperta sobre o pescoço, quase me tirando ar e começa a passar a maquininha aos lados da cabeça, sobre as orelhas.

— E você. O que acha dessa Nova Ordem Mundial que quer conquistar o mundo?

Sinceramente, minha maior preocupação naquele momento, era que o babeiro não tirasse muito o cabelo acima da cabeça, para eu não ficar com o cocuruto mais ralo do que já estava. Mas, me pronunciei com um certo desinteresse.

— Em último caso. Tomo a Dipirona russa, fecho meus olhos e não preciso ficar olhando esses magnatas que fabricam pedras de gelo do tamanho de tijolos Baiano.

Não me perguntaram mais nada.

Contudo, continuaram discutindo entre eles sobre as teorias da conspiração que acontecem frequentemente naquela barbearia.