A Última Aventura Esportiva de Leide
* Gilmar Teixeira
Membro fundador da Academia de Letras de Paulo Afonso - Cadeira 8
Tem gente que nasce com espírito de atleta, alma de artista e coração de explorador. Minha irmã Leide é dessas — ou melhor, era. Hoje, aos 68, ela diz que a única aventura que encara é atravessar a rua com o sinal fechado.
Mas nos tempos áureos, quando Paulo Afonso respirava juventude e os anos 70 e 80 ferviam em suor esportivo, Leide era a própria chama olímpica — literalmente.
Nas olimpíadas estudantis, a estrela era ela. No COLEPA, bastava ouvir falar em jogos que já sabiam: Leide vai brilhar. E brilhava. Atletismo, vôlei, handebol, natação, corrida de bicicleta... se tivesse campeonato de cuspe à distância, Leide treinava e levava medalha. Todo ano era a mesma cena: disputa feroz com Geusa, Castinha do COLEPA, Sônia Limeira do SETE e Marinelza do CIEPA. Mas quando a pira olímpica era acesa, lá estava Leide na frente do desfile, soberana, acendendo a chama que era dela por direito — e por suor.
Só que Leide não se contentava com quadras e pistas. Ela queria mais. Queria o Raso da Catarina com suas trilhas perigosas, a Serra do Retiro com seus espinhos, o céu com seu voo livre. Asa delta? Topava. Paraquedas? “Me dá duas cordas que eu vou!” Convidou, ela ia. E é aí que entra o episódio que, até hoje, arranca gargalhadas — e dores lombares — de Leide: o fatídico dia do Bungee Jump do Velho Chico.
A Rede Globo veio em peso, com o Esporte Espetacular, para cobrir os esportes radicais de Paulo Afonso. E quem mais se ofereceria pra pular de uma ponte metálica com quase 100 metros de altura sobre os cânions do São Francisco? Claro, Leide! Eu fui junto, de testemunha e fotógrafo improvisado.
Leide estava radiante. Queria se amostrar. Mandou parar um caminhão-baú no meio da ponte, só pra o salto parecer mais radical. E pulou! Que cena! A cabeça tocando as águas do Velho Chico, e a corda elástica jogando ela de volta quase até a ponte. O povo aplaudindo, os bombeiros descendo, eu tremendo com a câmera. E ela? Rindo.
Mas riu até começar a subida. Oito andares de escada improvisada no cânion, cada degrau uma nova dor. Chegou lá em cima com o corpo quebrado, mas o ego inteiro. Deu entrevista à Globo como se estivesse saído de um banho de cachoeira. Só que, no carro, o silêncio. “Vamos logo”, ela disse, “antes que Serginho mande eu pular de novo.”
Hoje, Leide ainda pratica o esporte preferido dos veteranos: contar histórias. Mas quando menciono o Bungee Jump, ela logo retruca: “Não me fale disso, que só de lembrar dói até a alma!” — e aí rimos todos, como se aquele salto fosse ontem.
A verdade é que Leide não precisava pular de ponte nenhuma pra ser nossa heroína. Ela já era, e sempre será, aquela que topava tudo — até enfrentar seus próprios limites com um sorriso. E uma queda de quase 100 metros.
* Gilmar Teixeira