Nesse mês de Março/Mulher, e nesses destaques que o site tem feito homenageando todas as mulheres, mas especialmente aquelas que vivem, moram, trabalham em Paulo Afonso, desejamos abraçar nesse momento àquelas mulheres dedicadas à educação, diretoras de escolas iniciais, de ensino fundamental e médio, assim como todas as demais envolvidas no delicado processo de ensino e aprendizagem, professoras, coordenadoras e outras profissionais que atuam nesta área.
E gostaria também de fazer uma viagem aos primeiros tempos de Forquilha e da Vila Poty para destacar, também nessa homenagem, aquelas profissionais da educação dos primeiros anos de Forquilha e Vila Poty, que viveram em tempo de grande dificuldade nessa região, no meio da caatinga, quase isoladas do mundo.
E trazer à memória que, nas escolas mantidas pela Chesf, as mulheres estiveram no começo e no fim de uma caminhada histórica. Mas, que também foram as mulheres que estiveram à frente de escolas filantrópicas, públicas e particulares em muitos momentos da história de Paulo Afonso.
No caso da Chesf, criada como empresa federal, precisava cumprir o que determinava a Constituição Federal de 1946 que dizia que as empresas tinham que oferecer o ensino gratuito aos filhos dos seus empregados. E a Chesf destinou recursos para construir a Escola Adozindo Magalhães de Oliveira. Ao seu lado, construiu também a Escola do Senai, para treinar mão de obra de que ela precisava. E fez também um alojamento para as professoras.
Logo, a Chesf viu que a quantidade de meninos e meninas que precisavam de escola era enorme e construiu mais duas escolas: a Alves de Souza e a Murilo Braga (hoje Colégio Carlina). E, ainda nesse começo da história, já se pensava em como atender a estas crianças quando elas terminassem o ensino primário (1ª a 4ª série) e, sem orçamento para isso, lutou-se muito para se construir o Ginásio Paulo Afonso. À frente dessa luta, o chesfiano, chefe do serviço de Transporte da Chesf, Enoch Pimentel Tourinho (de quem falaremos em outro texto, nesse espaço de Personagens em Destaque).
Nas Escolas Reunidas da Chesf despontaram as presenças das educadoras. E foram muitas. D. Maria Amélia (chamada de D. Amelinha), sua irmã, Matilde e dezenas de outras tinham por base a Escola Adozindo. Na Escola Alves de Souza, dentre muitas, D. Amanda Jatobá. Na Escola Murilo Braga, a professora Lindinalva Cabral dos Santos, que foi a minha primeira professora e a primeira professora, a gente também nunca esquece... Lindinalva, Amanda e Maria Amélia foram minhas professoras no curso primário.
Professora Etelinda Viana Martins, do Curso de Admissão ao Ginásio, no GPA
Outro nome marcante para grande número de estudantes daqueles tempos foi a Professora Etelinda Viana Martins, ao mesmo tempo rigorosa e meiga, cobradora de resultados e uma manteiga derretida quando um dos seus alunos do Curso de Admissão ao Ginásio não se saía muito bem...
Estive muitas vezes com ela em seus últimos anos de vida que chegaram aos 96, de ternura e encantamento.
Fora da área privilegiada da Chesf, milhares de crianças não tinham escola. Isso mexeu com os sentimentos de Gilberto Gomes de Oliveira (da Igreja de Cristo Pentecostal no Brasil) e João Cartonilho (da Primeira Igreja Batista de Paulo Afonso). Juntos, com o forte apoio a Igreja Batista, eles resolveram criar a Escola Evangélica Antônio Balbino (nome do governador da Bahia, na época). Esta EEAB foi fundada em 13 de abril de 1955.
Vilma Eugênia de Oliveira, da EEAB e Ginásio/Colégio Sete de Setembro
E aí, novo destaque de mulheres educadoras. D. Vilma Eugênia de Oliveira, esposa de Gilberto Oliveira, recusou um emprego na Chesf, sonho de todos, para se dedicar integralmente a esta escola filantrópica, que sobrevivia de apoio de alguns comerciantes e da doação de R$2.500 cruzeiros pela Chesf, autorizada pelo presidente Antônio José Alves de Souza.
Para dirigir a escola, no seu primeiro ano, veio a Professora Lindinalva Cabral. A partir de 1956, passou a ter como diretor o Pastor Onésimo Nascimento, da 1ª Igreja Batista. Como professora leiga, a Sra. Adeilda Carvalho.
Depois, a escola cresceu e chegou a ter 500 alunos e, naturalmente outras dedicadas professores para dar conta das três salas de aulas em lugares diferentes: no salão anexo da 1ª Igreja Batista, no salão do Distrito de Paulo Afonso e em uma casa de tábuas cedida pela Chesf, das muitas que a empresa hidrelétrica construiu na Vila Poty.
Lembrar que das raízes dessa escola, nasceu o Centro Evangélico de Recuperação Social e, mais à frente o Ginásio e Colégio Sete de Setembro.
Darcy Maria Gonçalves, quando concluinte do Ginásio Paulo Afonso
Lembrar também que a primeira escola pública de Paulo Afonso a oferecer o Curso de Magistério foi o IMEAPS, criado pelo prefeito Adauto Pereira de Souza e que teve como diretora sua esposa Darcy Maria Gonçalves Pereira de Souza...
Noêmia Cortes, Vera Gouveia e a Professora Creuza
Lembrar ainda que o CIEPA, que se originou do IMEAPS teve diretoras poderosas nos seus primeiros tempos como Noêmia Cortes, Vera Gouveia e a Professora Creuza, dentre outras nos anos à frente...
Laura Emetério
Lembrar de D. Laura Emetério que além de cuidar dos pastoris de Natal, dava aulas de artes, primeiro no GPA e depois no Ginásio/Colégio Sete de Setembro...
Além de muitas escolas infantis, lembrar também que depois vieram outros grandes colégios, públicos e privados, dirigidos também com sabedoria por mulheres como Jocelina Campos nos primeiros anos do Colégio Carlina, Viviane, no Colégio Modelo Luiz Eduardo, hoje Colégio Paulo Freire, De Geane, que da Escolinha Infantil fez nascer o Colégio Monteiro Lobato, Marileide Queiroz que também começou numa pequena escolinha infantil e nasceu o Colégio Montessori, e de Patrícia Alves que gerencia o Colégio Boa Ideia que era, na Chesf, uma escola do Fundamental 1. E muitas outras diretoras, coordenadoras e professoras de muitas escolas da rede municipal e da rede particular de ensino em Paulo Afonso.
Voltando à Chesf e aos cuidados desta empresa com a Educação, a construção do Ginásio Paulo Afonso foi o grande desafio daquela época, mas ele foi construído e, para isso, foram muitas doações de empresários, realização de festas populares, valor de um dia de trabalho dos empregados e dos diretores da Chesf...
E, nessa homenagem às mulheres educadoras dos primeiros tempos, e de todos os tempos, e especialmente falando do sistema de ensino implantado pela Chesf e que durou mais de 50 anos, de 1949 até o ano 2000, do seu difícil começo e do seu fim triste e doído, foi muito marcante a presença de mulheres poderosas.
Na Escola Alves de Souza, em 28 de junho de 1949, assim dava aulas a professora Ezilda Carvalho, esposa de Aprígio, como narra Luiz Fernando Motta Nascimento e registrei no meu livro Caminhos da Educação.
E, nesse meio século de vida, de atuação de centenas de profissionais da educação que fizeram do Ginásio/Colégio Paulo Afonso, uma referência de qualidade de ensino no Nordeste, coube às mulheres serem as diretoras nos primeiros 10 anos do GPA e nos 10 últimos anos do COLEPA.
O Ginásio e depois Colégio Paulo Afonso teve 14 diretores sendo, curiosamente, 7 homens e 7 mulheres.
Nos primeiros dez anos de vida (de 1951 a 1961) do Ginásio Paulo Afonso, o GPA, criado no meio da caatinga em 1951 nessa terra distante de tudo, quase fora do mundo, três fortes mulheres foram suas diretoras: Antonieta Moraes (1951/1952), Idalina Castro Wood (1952/1954) e Neyde Cerqueira Lima (1955/1961).
Nos últimos dez anos do Colégio Paulo Afonso (de 1991 ao ano 2000), o COLEPA, ao encerrar o seu ciclo no ano 2000, foi dirigido por mulheres também guerreiras: Maria Inez Brito (1991/1992), Vilma Bagdeve (1993/1994), Olga Damasceno (1995/1997) e Nancy Coelho (1998/2000).
Hoje, na cidade/ilha de Paulo Afonso, nos seus bairros populosos e na zona rural do município estão nesse primeiro quarto do Século 21, dezenas de respeitadas escolas públicas e privadas, que oferecem a milhares de estudantes o ensino em elevado nível de qualidade e em muitas delas estão mulheres na sua direção, coordenação e como professoras e outros profissionais da educação compartilhando, com natural orgulho em outdoors e nas redes sociais, as fotos dos seus alunos que se destacaram nos vestibulares por esse Brasil fora.
Diferente dos seus primeiros tempos, quando o ensino em Paulo Afonso era limitado ao chamado Segundo Grau, hoje Nível Médio o que impedia que os estudantes chegassem a uma Universidade ou exigia grande esforço dos pais para que alguns estudassem em outros centros, Paulo Afonso é, atualmente um grande polo do ensino superior, com quatro grandes universidades presenciais: Centro Universitário do Rio São Francisco (UNIRIOS), particular, Universidade do Estado da Bahia, UNEB, pioneira em Paulo Afonso, há 40 anos, mantida pelo Estado da Bahia, Instituto Federal de Educação – IFBA (federal) e Universidade do Vale do São Francisco – UNIVASF (federal).
O nosso aplauso a cada profissional da educação pelo seu trabalho incansável e nosso abraço, nesse mês especial a todas as mulheres que atuam, ao lado dos seus colegas, nesse universo mágico onde se tem a oportunidade de se mostrar aos estudantes que há vida, futuro, sonhos muito além do que os seus olhos podem enxergar!
Lembrando as mulheres educadoras de ontem, as pioneiras, parabenizamos e aplaudimos as mulheres educadoras dos nossos dias.
Sobre as muitas professoras desses primeiros tempos da Chesf e da Vila Poty, todas igualmente importantes, cito aqui aquelas que a memória me traz pela convivência mais pessoal, como estudante...Há, certamente, centenas, milhares de outras na memória de quem lê esse resgate histórico...
Fica o convite: vamos abrir o Baú de Memórias e lembrar das professoras (professores também) que marcaram a tua caminhada de estudante?
Excelente! Uma viagem no tempo! Fui aluno (dei trabalho) a Lindinalva, Maria Amélia, Conceição, Amanda, Etelinda entre outras que marcaram minha infância e pré adolescência.Um nível de ensino que não ficava atrás de nenhuma capital do Nordeste.Muitos saíram desse maravilhoso berço de ensino, direto para grandes universidades da região, sem mesmo fazer cursinho pré vestibular.Paulo Afonso sempre foi uma cidade de um nível cultural bastante diferenciado, principalmente por ser uma cidade cosmopolita. Tenho orgulho de ter sido adotado como filho dessa terra.
Ao Jornal Folha Sertaneja e em especial ao amigo Galdino por esse resgate histórico onde presta homenagem às professoras pioneiras de PA, onde ainda acrescento: Conceição, Elvira, Zélia, Iraci e tantas outras.G2G
Muito emocionante esse documentário,esse resgate é de suma importância. Parabéns a Galdino por estar sempre me xendo nessas memórias.
Parabéns ao JORNAL FOLHA SERTANEJA, pela excelente homenagem prestada às mulheres pioneiras na educação de nossa cidade. Tive a felicidade de estudar com quase todas elas.Minha eterna gratidão