Mandou-me um site de lançamento das Memórias Póstumas de Brás Cubas, em inglês, primeira ou segunda mais importante obra do escritor carioca, ao lado de Dom Casmurro. Fez-lhe rasgados elogios e cravou:
- “Grande Machado!!!... esse sim, dava gosto ouvir!!...” (É pródiga em pontuação).
O verbo conjugado e o deleite retórico não casam com a cronologia machadiana. Ademais, Machado não era dado a discursos. Padecia de bloqueios de sons. Decerto lera Stendhal acerca de numerosas falas.
Informei-a de que Machado de Assis viveu, como meritório homem de letras, na segunda metade do Século XIX e na primeira do Século XX, mas continua atual! Muito citado e pouco conhecido, mormente no Brasil escolar. É pena.
Já antes me provocara sobre Platão – um Platão político, de passeatas em protesto, ou bajulice. Queria persuadir-me a participar dessas manifestações ostensivas. Falei-lhe das Quatro Virtudes, do mestre grego, e de posicionamentos sem estardalhaço.
Não houve retorno. Silenciei.
Sou meio taciturno, reconheço. “Eu sou isso”, diria Clarice Lispector. Gosto de estar quieto, na companhia de bons livros. Coloquiamos, autores e leitor, sempre que lhes alcanço o raciocínio. Quando ao redor tudo é silêncio, há interação; consigo ouvi-los melhor. Somos bons companheiros. Eles são compreensivos comigo. Faço assim minha política: bem particular.
O “Laudate Machadium” fez-me recordar Dona Maria Siqueira (hoje no outro lado da eternidade), que jamais leu o “Bruxo do Cosme Velho”, nem se incomodou com a casmurrice do incrível mestre das letras nacionais.
Decerto diria:
– Meu filho, fica quieto!
Válter Sales