Aves voam com as próprias penas. E não seria com as próprias asas? Sim, asas cobertas de penas. Sem as penas, as aves não voariam. Se debateriam, como um bebê-ave, ensaiando voo.
Há quem não sabe o que fazer com as próprias asas, ainda ou sobretuto com seus penachos... Debate-se de galho em galho à procura de onde apoiar-se, de onde lhe convém ficar e, talvez, fazer sombra a outrem.
Os pavões destacam-se no galinácio. Querem ser vistos e lograr proveito de sua exibição. São vistos, mas parecem solitários... O pavão é só ele, o resto é plateia.
Aves há que, de inquietas e inseguras, vivem a brigar por espaço. Irrequietas, até que sobressaiam. Aves são como gente – gente em qualquer lugar. Sem espaço, constumam voar em busca de onde pousar. De onde saem deixam arestas e para onde alçam voos levam sua matéria-prima, com a qual produzem novas arestas – são elas as próprias arestas.
Aves-gente ranzinzas têm sempre consigo um motivo para rusgar. Os motivos são elas mesmas, com seus velhos hábitos – vícios herdados (talvez de uma educação defeituosa, de que por razões de afeto não abrem mão) ou construídos no curso da vida, em relações estreitas, de que não se desvencilham facilmente, porque arraigados no espírito.
Aves ou pessoas de penacho grande também podem mudar. No primeiro caso, a Natureza se encarrega de fazê-lo. O segundo caso envolve razoabilidade. Já a razão cobra humildade.
Uma boa educação, em qualquer estágio da vida, pode favorecer com uma mudança que as torne construtivas e sempre bem-vindas aonde pousarem.
Do Recife, Válter Sales