Gosto de ver vídeos de animais. Aliás, sempre gostei. São irracionais e vivem e agem dentro de sua natural coerência. O reino animal tem sua lei: a lei da subsistência. E para continuar vivo é necessário devorar suas vítimas. Vejo-os, às vezes tomado de raiva, vendo o mais forte trucidar o mais fraco. Mas não me causa estranheza tamanha selvageria: são irracionais.
Os leões formam-se em alcateias, por extensão, manada de quaisquer animais ferozes. Uma lenda africana diz que houve um tempo em que o leão sabia voar; porém, para a mitologia, é a águia o rei dos animais no ar. Já o reinado do leão é terrestre. São fábulas, lendas, alegorias, todas com propósito representativo.
O leão é celebrado como rei dos animais, por vezes encurralado, ferido, morto. Seu reinado, contudo, não se abala. Ao que parece, ele não se dá por vulnerável; ao rugir, vê que todos fogem. Mas é preciso manter-se a vida de qualquer jeito. O leão se arrisca, desabalado, e crava seus poderosos caninos na traqueia das vítimas, sufocam-nas, até que não mais respirem. Então, saciam a fome, rasgando suas carnes com chocante voracidade.
As hienas são mais impiedosas: geralmente em grupos, ululam (às vezes parece um choro, ou um sorriso, algo sarcástico); cercam suas presas e as devoram enquanto agonizam. Comem tudo, da pele aos ossos. São insaciáveis. Hienas não têm limites... Sofrem terríveis ataques dos leões, afastam-se, num silêncio comedido, mas logo retornam. Os leões deixam ao léu o que a eles não mais interessa. Uma vez saciados, vão-se, preguiçosamente, a um tempo de calmaria e repouso.
Esse processo repete-se em períodos determinados pela sanha avassaladora e a necessidade de sobrevivência. Outras vezes vão reencontrar-se predadores e presas e, novamente, sagazes e traiçoeiros, leões e hienas fazem uso dos mesmos ardis e, assim, dão continuidade à espécie.
Eu, de parte, ponho-me a conjecturar sobre a natureza animal, quase sempre com alguma perplexidade.
Do Recife, Válter Sales