Tornou-se icônica a frase, atribuída a Monteiro Lobato: “Uma nação se faz com homens e livros”. Como representação, convém que o seja. Algo existe sem o homem, que é agente primeiro dessa relação? E, sem livros, que é o homem, que é a formação, que é a história, que é a memória? Homens e livros formam uma relação vital.
Castro Alves bendizia o que semeia “Livros... livros à mão cheia...” – como fator do pensar – “...manda o povo pensar!” No Século VIII a.C., Salomão já afirmava que “não há limites à produção de livros”. Seu nome significa “paz” ou “pacífico”, apelativo sempre associado às ideias de sabedoria e riquezas.
Considero que a melhor forma de se falar de homens e livros é dizê-la pensando em relação, senão no sentido buberiano estrito, pelo menos como observação. Merval Rosa costumava dizer que tinha “uma relação mística com a página escrita”. De fato, leu muito e escreveu muito. Ensinou muito.
Ler não se coaduna com o frenetismo da cidade grande, a correria para ter vez..., a corrida pela subsistência – faltam espaços e alguns deles são absolutamente inadequados à vida humana. Investe-se pouco, muito pouco!, em escolas, menos ainda em bibliotecas. Eis aí um produto raro.
Ler devagar, é o primeiro passo para o conhecimento, segundo o mestre francês Émile Faguet, da Academia Francesa de Letras. Em sua obra A Arte de Ler, Faguet ensinou que uma leitura que se pretenda proveitosa deve ser feita sem pressa, como a saborear as palavras – “Devemos ler muito devagar, notando com a pena na mão tudo o que o livro nos ensina, (...) e depois devemos reler, muito devagar, tudo o que escrevemos”. Sugiro: evitar ler com ideias preconcebidas.
Ler é uma relação de mentes e corações. Não é uma corrida de velocidade, é uma relação calma, de amor. É preciso amar os livros e, então, tornar possível uma convivência saudável com eles. O leitor precisa conhecer, por exemplo, o significado gramatical, morfológico, das palavras; empregá-las conscientemente, e enxergar sua função sintática nas frases e períodos. É comum confundir-se um Adjetivo com um Advérbio, para citar só um exemplo. Com o coração se abraça o que as palavras dizem. Quem assim considera, quer dizer relação. Palavras têm conteúdo e valor.
Deter-se sobre uma palavra ou frase é o melhor meio de tratá-la numa relação ampla e essencial. A palavra torna-se parte do ser do leitor, como conhecimento e como expressão da própria vida. Sou exigente? Sou-o comigo mesmo. Pesa-me o labor no uso das palavras, como lhes respeitar o sentido e fazer valer seu vigor como expressão da língua. As palavras têm vida. Nisto cumprem seu papel, na escrita e na fala.
Do Recife, Válter Sales