Dois cronistas de alto coturno.
Rubem Braga nasceu no dia 12 de Janeiro de 1913, em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, mas viveu a maior parte de sua vida em Niterói e Rio de Janeiro, onde e de onde fez carreira. Aí viveu até o dia 19 de Dezembro de 1990. Estudou direito em Minas Gerais (1932), tendo começado no Rio. O Direito, contudo, não seria sua escolha para a vida, mas o jornalismo, a crônica.
Conhecido como escritor e jornalista, tornou-se famoso na crônica em jornais e revistas. Fez a cobertura da Revolução Constitucionalista de 32. Associou-se a Samuel Wainer no Diretrizes, semanário de esquerda. Em 1936 lançou seu primeiro livro o Conde e o Passarinho. Em 1944 foi para a Itália cobrir as atividades da Força Expedicionária Brasileira, na II Guerra Mundial, em que fez anotações que resultaram no livro Crônicas de Guerra – “Entre a guerra e a paz eu escolhi a paz, assim eu decidi dentro do meu coração”.
De tom irônico, lírico e bem humorado, sua crônica, por vezes ácida, fazia a crítica social, a denúncia das injustiças, a falta de liberdade e o combate aos governos totalitários. Em 62 anos de jornalismo, escreveu mais de 15 mil crônicas, muitas das quais hoje em livros, cerca de uma dezena.
Em seus textos, discorria sobre os mais variados assuntos: arquitetura, escultura, pintura, urbanismo, desenho, fotografia, artesanato, sempre enfocando os artífices. Apreciava exposições, serestas, o cigarro e uma boa bebida. Foi um observador arguto, meticuloso. Cultor da boa escrita.
De sua vida mais reservada, fala-se com discrição e parcimônia. Certo é que amou, além das letras, as mulheres.
Rubens Lopes nasceu em Caieiras, São Paulo, no dia 1º de Outubro de 1914. Bacharel em Ciências e Letras (1933), em Ciências Teológicas (1936), em Ciências Jurídicas e Sociais (1959) pela Universidade de São Paulo – “Fiz um ótimo curso direito”.
Professor de Português e Literatura, no Mackenzie, São Paulo. Pastor de uma única igreja, na qual começou quando ainda seminarista. Ocupou diversos cargos na denominação batista, como Convenção Batista e Ordem dos Pastores Batistas do Estado de São Paulo; Convenção Batista Brasileira, nada menos que 14 vezes, sempre na presidência.
Em 1965 lançou a Campanha Nacional de Evangelização, falando a todas as Assembleias e governadores. Em 1969, a Campanha de Evangelização das Américas, quando visitou todos os presidentes do Continente, e a Campanha Mundial de Evangelização, em Baden, Viena. Vice Presidente da Aliança Batista Mundial, cidadão honorário de Tennessee, Estados Unidos da América; cidadão honorário de Winnepeg, Canadá, e de Osasco, São Paulo.
Na capital paulista é nome de rua e de praça. Coronel honorário da Milícia do Mississipe, Estados Unidos. Chefe honorário da Polícia de Jackson, Mississipe. Claviculário de Menphis, Estados Unidos. – “Uma vida pequena, tão pequena que cabe em duas páginas – A minha vida (...) Agora é continuar na estacada até o fim. Fazendo mais um pouco. De armas na mão, para morrer de pé. Com uniforme de campanha; uniforme de gala, só no céu”.
Rubens foi um homem de livros e dos livros. Reis Pereira referiu-lhe a “famosa biblioteca”. Produziu muitos textos para jornais e para programas de televisão, em que foi pioneiro na TVE paulista. De uma seleção de suas crônicas resultaram dois livros: Ao por do sol e Um pouco de sol. Seu grande destaque, porém, foi o púlpito, o que lhe valeu o título de “príncipe dos pregadores batistas do Brasil”.
De extrema fluência, mente criativa, dicção perfeita. Lia o texto e o expunha sem esboço diante dos olhos. Só o texto e a pujante erudição. Neste particular ninguém o superou. Mas não era dado a verborragia: a linguagem, as figuras, o domínio da gramática, o raciocínio lógico, tudo transbordava com elegância e beleza invulgar.
Depois de toda essa trajetória, Rubens se recolheu. Como sempre desejou, morreu em seu gabinete pastoral – de estudo e de trabalho –, a serviço do Reino de Deus, no dia 3 de Janeiro de 1979. Morreu solitário, como pastor.
Rubem e Rubens. Azes da palavra escrita. Um, arreligioso, voltado para a cotidianidade secular. O outro, um pregador da Bíblia, de encantamento tribunício. Devotado ao cultivo dos valores da alma.
Dois artistas: Rubem é singular. Rubens é plural.