“A palavra convence, o exemplo arrasta”. Esta frase é atribuída ao pensador e filósofo chinês, Confúcio, nascido entre 552 e 489 a.C. Qual é o seu sentido e alcance? Como se caracteriza seu pensamento, quis o autor sublinhar uma “moralidade pessoal e governamental, os procedimentos corretos nas relações sociais, a justiça e a sinceridade”.
O falar é moral, aprende-se em quaisquer compêndios de Ética. Já o falar despido de conhecimento reverte-se contra a própria parolagem. É como bumerangue, que volta a quem o arremessou; ou como um eco de palavra que não encontra a que ou a quem se aplicar, retorna do vazio ao próprio vazio.
A palavra é portadora de algo que se pretende expressar. Mas ela não vai só. Quem a profere vai com ela. Infere-se da filosofia de Martin Buber, filósofo, escritor e pedagogo austríaco, naturalizado israelense (1878-1965), que a palavra é presentificação e atualização de seu emissor. Quando falamos, vamos com a nossa mensagem até onde se pretende que ela chegue. Nossa palavra somos nós mesmos. Daí advém o seu caráter moral.
A palavra é agente de ideias. Não havendo ideias, a comunicação dilui-se, confina-se com o nada. Enfeixa-se a si mesma. É como nuvem que se dissipa e de que logo nos esquecemos – “...nuvens sem água impelidas pelos ventos...” (Judas 12 - Livro bíblico) –, pois o universo das ideias é pródigo em manifestar algo sempre novo no desdobrar-se das evidências.
Não nos devemos esquecer de que a palavra, seja ela qual se diga, produz consequências: boas ou más. Quais sejam, falam de nós mesmos. Somos responsáveis por palavras que edificam e por palavras ociosas. E, como expressam caráter, já não há fugir de seus efeitos. Estamos nós lá.
O pretensioso falar não constrói eloquência nem sabedoria. Recorte do jurista italiano Eurico Ferri (1856-1929), citado por Evandro Lins e Silva, in A defesa tem a palavra, é lúcida orientação para vencer o pânico (a plateia intimida o orador inseguro). Dizia ele: “´Para vencer o pânico, soltar a língua e dar eficácia à expressão, mais que exercícios e regras acadêmicas importa o saber, ´ter na cabeça ideias e, por conseguinte, coisas que dizer: eis aqui o primeiro grande segredo da eloquência`”.
Ler é “lei” nesses propósitos. Ler o que merece ser lido. Lembra-nos o mestre, em nossa primeira grande escola, Manfred Grellert: “Ler desenvolve a mente na capacidade de criar imagens...” ou iluminá-las com palavras adequadas. De fato, as palavras iluminam as ideias que as fomentam. Sem ideias, o falar será pobre e desconexo. Será um pensar falto de metodologia e de lógica – o “não pensar”. Como é impossível não pensar em nada, pois seria completa imersão nas distrações, refugiar-se numa boa leitura é um bom remédio.
Ah, adverte-se de que o espaço reprime o prolixo. Então, resguardemo-nos para instruções de Émile Faguet sobre a arte de ler.
Do Recife, Válter Sales