“Também nós cremos; por isso, também falamos” (2Co 4.13b).
Voltar é corajoso, oportuno e sábio, quando se apercebe de equívoco na caminhada. Estagnar-se diante das dúvidas e ser falto de fé em suposições é simplesmente ignorar possibilidades ou alternativas viáveis.
Se faltam ciência e segurança, sobram a quem disso padece impressões de verdade, que desfalecem às primeiras provações.
O que confrange o espírito e encolhe o pensar, o que desnuda a alma e incapacita o ousar, também produz o finar-se dos sonhos e esmorece a crença. Redunda em falência.
Recolhem-se da sabedoria de Salomão (c. 971-931 A.C.) palavras que nos encantam e nos fascinam sobre a excelência da Sabedoria – “Não clama, porventura, a Sabedoria, e o Entendimento não faz ouvir a sua voz? No cimo das alturas, junto ao caminho, nas encruzilhadas das veredas ela se coloca; junto às portas, à entrada da cidade, à entrada das portas está gritando: A vós outros, ó homens, clamo; e a minha voz se dirige aos filhos dos homens” (Pv 8.1-4).
Aqui não se faz como quem olha de soslaio. Vai-se direto ao âmago da questão. Grafa-se certo anseio como grito exangue; como filhote de ave que balança as asinhas ainda inseguras, ensaiando voo próprio. Por fim, lança-se ao enorme espaço. É a vontade de quem veio do nada, mas arremessou-se e logrou crescer um pouco e libertar-se pela via do estudo. Quanto valeram o passado e o curso da caminhada! Hoje, vê-se perplexo com o avultamento dos filhos da esperteza, mas ousa fazê-lo sem delírios e sem perda da esperança.
Vê como imperioso interrogar-se:
Para onde vamos, espíritos iluminados? A quem recorrer, aprendizes sem pestalozzis? O que examinar, bereanos sem paulos? E vós, corifeus sem indumentária adequada, a que festivais pretendeis conduzir-nos?
Voltai, luzes do saber; voltai, arquitetos da instrução! Vinde, outra vez, paladinos do sábio conselho; vós que conjugais o entendimento com o viver, vós que honrais a cátedra e dignificais o púlpito, vós que encarnais as auras do saber, vós que vos situais junto ao cimo de suas alturas e o traduzis e o implantais na mente e no coração do povo. Voltai!
Volvei, cambaleantes do conhecer. Parai, diletantes da elocução!
Voltai, nestes tempos de mistificação escancarada, de resvalos e de desencanto. Voltai, mestres, ainda há fome e sede de saber; há sonhos e vocação. Ainda há esperança, ainda há tempo de reversão.
Cuidai-nos bem, vós que julgais secundar-nos. Ainda cremos e queremos.
Oh, vós detentores de espírito triunfal, conheceis vossas disposições? Ou “nem sabeis de que espírito sois”?
Do Recife, Válter Sales