Ler de forma alguma é uma empresa simples. Tem suas demandas e suas implicações. A Arte de ler é o título de um livro de Auguste Émile Faguet (1847-1916). Faguet estudou e ensinou em várias cidades da França, e na famosa Sorbone. Em 1903 foi eleito membro da Academia Francesa. Seu livro, mais que um simples manual, é um curso sobre a arte de ler.
O filósofo francês Voltaire costumava dizer que: “Lê-se muito pouco, e quase todos os que querem instruir-se leem muito mal”. Entre nós, certa aversão à leitura é um mau exemplo que vem de cima... Aprecio o grego Platão em sua teoria do Rei-filósofo, para referir um “governante inteligente e confiável que ama o conhecimento e aceita viver uma vida simples”. Falava ele dos “governantes de Calípolis, sua cidade utópica”. Seu argumento é elementarmente lógico: qualquer profissional, para exercer seu ofício, necessitou de preparo. Se um governante não o tem, deverá procurá-lo.
Um epigramatista (versejador satírico) dizia no começo do Século XX:
Dos homens eis a dura lei funesta:
Muitos chamados, poucos escolhidos;
Quanto aos livros, a sua sorte é esta:
Muitos folheados e bem poucos lidos.
“Saber ler é evidentemente uma arte e há uma arte de ler”. É como pensava Sainte-Beuve, que também dizia: “O crítico não passa de um homem que sabe ler e que ensina a ler aos outros”.
Esta série cumpre uma promessa feita nesta coluna, há algum tempo. Seus textos serão enxutos e de estilo prático. Comecemos.
Qual é o fim (a finalidade) da leitura? Alinho algumas respostas:
· Por que é que lemos? – Deve haver um propósito. Não se trata de puro passatempo. É diletante? Sim. Mas não é só isto.
· Será para nos instruirmos? Há de haver um objetivo. Ler faz-nos crescer. É ler pelo prazer da instrução.
· Será para julgarmos as obras? Será uma leitura crítica, mas para fazer crítica é preciso conhecer o conteúdo da matéria.
· Será para com ela nos deliciarmos? Quem ama os livros conhece o prazer da leitura. Ler enleva e eleva o espírito.
Fecho esta matéria com uma consideração de Émile Faguet, na qual ele já nos dá a primeira lição, ao responder às perguntas acima.
Se é para nos instruirmos, devemos ler muito devagar, notando com a pena na mão tudo o que o livro nos ensina, tudo o que ele contém de desconhecido para nós – e depois devemos reler, muito devagar, tudo o que escrevemos. É este um trabalho bem sério, bem grave e em que não entra prazer algum, a não ser o de que nos sentimos cada vez mais instruídos.
Em nossas leituras devemos evitar o senso de obrigação. Se é por obrigação, nunca se desenvolve o salutar hábito de ler.