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PONTO DE CORTE - Válter Sales

O Menino e a Manjedoura III

Publicada em 25/12/24 às 22:02h - 42 visualizações

Válter Sales


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O Menino e a Manjedoura III
 (Foto: imagem ilustrativa)

O Menino e a Manjedoura III

Válter Sales

Recife, 25.12.2024

Encanta-me a simplicidade da manjedoura do filho de Maria.

“... o seu nome será (...) Príncipe da paz” (Is 9.6).

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt 10.34).

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12).

Ousaria alguém, de bom siso, apontar uma contradição na Bíblia, envolvendo essas três passagens? A uma primeira e apressada leitura, sim. A um cuidadoso e demorado estudo de seu conteúdo e propósito, decerto não.

O grande profeta Isaías fecha sua citação nomeando Jesus como “Príncipe da paz”. O mesmo Jesus diz que “não veio trazer paz à terra, mas espada”. Já o autor da Epístola aos Hebreus relacionada a palavra de Deus com uma “espada de dois gumes”.

Não se trata, é verdade, de textos passíveis de compreensão à primeira vista, numa “leitura dinâmica”, aliás, muito pouco recomendável. Émile Faguet, erudito francês, em seu livro A Arte de Ler, recomenda que toda leitura deve ser feita sem pressa – “Ler devagar”, e acentua: “´É preciso ler devagar um livro tanto para se ter prazer na leitura quanto para se instruir ou criticá-lo. Flaubert dizia: ´Ah! Esses homens do século XVII! Como sabiam latim! Como liam devagar!`”.

Um meticuloso e persistente estudioso da Bíblia deteve-se anos (diz ele) sobre o texto de Mateus 10.34. Consultou versões várias, intérpretes abalizados, exegetas, hermeneutas, comentários, dicionários, enciclopédias, o que lhe veio às mãos. Depois de estudar bastante, chegou à conclusão de que a espada a que Jesus se referiu indica Compromisso.

De começo, o Príncipe da paz de Isaías não combina bem com o Jesus que “não veio trazer paz à terra, mas espada”. Ambos falam da mesma pessoa. Ocorre que a “espada” de Jesus não é um instrumento de violência, de guerra exterminante do ser humano ou das instituições. Pode até parecer obscuro, mas é instrumento usado para reformar o ser humano. Para o autor aos Hebreus, a espada é a “palavra de Deus, viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes”. Ela “penetra até ao ponto em que se dividem alma e espírito”.

Confesso que não sei onde se situa esse ponto! E tenho dúvidas de que algum ser humano o saiba! Quanto a juntas e medulas, os anatomistas têm algo a dizer. Quanto ao discernimento de pensamentos e propósitos do coração, creio que teólogos e psicólogos entendem. Mas a espada continua cortante ao nosso juízo.

Shedd não ousou defini-la, mas ateve-se ao Potencial da Palavra de Deus para discernir (gr. Kritikós) os motivos obscuros do subconsciente, e lhe emprestou uma bela estrutura sermônica (ver Bíblia Shedd).

A tradução King James Atualizada, obra de 400 anos, alude à “expressão total de Deus, que foi revelada aos seres humanos por meio da pessoa de Jesus Cristo”. É a palavra encarnada, “dinâmica e ativa de Deus, no cumprimento de todos os seus planos...”, que “revela os sentimentos e intenções mais íntimas” e os traz à nossa consciência.

A antiga versão de Casiodoro de Reina (1569), mais conhecida como Reina Valera, por haver sido revisada por Cipriano de Valera (1602), e também sofreu sucessivas revisões em 1862, 1909 e 1960, por seu turno, não se atém à questão em discussão.

Aqui ficamos nós a imaginar possíveis aplicações, dentro dos propósitos de Jesus, cuja palavra impôs verdadeira revolução ao mundo, sobretudo o mundo das religiões. Lembremos do que ele disse de si mesmo, e João reproduziu (14.6b) “... Eu sou a verdade...”. Talvez aí tenhamos a chave hermenêutica para entender Mateus 10.34.

A palavra da verdade é, de fato, uma espada cortante. Quem sabe de si mesmo, dos próprios deslizes, sofre de intolerância à verdade. É muito doloroso encarar a verdade, quando nos sabemos em falta. Em geral, bastamo-nos em racionalizações.

A espada de Jesus feriu de morte a religião formal dos fariseus, dos escribas, dos anciãos, dos “mestres aos próprios olhos”, do judaísmo em geral. A religiosidade artificial, mecânica, viciosa. A religião ensimesmada, preconceituosa, que descarta os próprios irmãos; Jesus feriu de morte as tradições antigas, caducas – sombra do que viria (Cl 2.16, 17).

A espada de Jesus feriu de morte o profissionalismo ministerial, a luta ingente por posição, sede de poder, de afirmação pessoal, à revelia dos valores éticos do Reino; feriu a subjugação dos propósitos mais puros e mais elevados da causa do Cristo a demandas pessoais e interesseiras, traduzidas como serviço sincero na agradável comunhão dos irmãos de fé. Essas demandas costumam ter validade curta e efeito meteórico.

A espada de Jesus feriu de morte a religiosidade mais atrelada aos formalismos institucionais e menos traduzida numa vida intimamente relacionada com a Pessoa Bendita do Salvador.

Não é propósito deste articulista, por temperamento e por formação, censurar o que se está fazendo em nossos arraiais. Aliás, nem o clima natalino se presta a tais manifestações. Mas, convenhamos; é difícil conviver com a superficialidade e, até, coisificação (perdão pelo talvez inadequado termo), do que se está fazendo em igrejas e instituições de formação ministerial. A censura recai sobre o culto e sobre a formação de ministros para o culto.

Um culto oferecido ao Deus Todo-poderoso, Perfeito, Eterno, oferecido sem critérios, muitos dos quais elementares, seja na ordem interna de suas partes ou no sentido ascendente dessas partes, esse não! Mas o que nos leva e nos eleva à culminância da adoração! Quer-se cultos sem artifícios teatrais, sem limitação da Palavra e pobreza da arte, mas prestados na total dependência e unção do Espírito de Deus. Não cultos transformados em Shows, que facilmente podem descambar para o mercantilismo e para a promoção pessoal dos artistas. Não raro são eles o motivo de muito desencanto.

Certamente, a espada de Jesus veio promover guerra a essas práticas, que vão distanciando as pessoas da Pessoa do Ser-a-ser-adorado em espírito e em verdade (Jo 4.24).

Preocupa-me que o espírito com que nos conduzimos na demanda do Reino de Deus, e em nossa vocação cristã, não corrobore aquele espírito que nos deveria conduzir na vida diária e em nossos cultos ao Senhor, para que sejam aceitos (Is 1.10-15; Sl 33.3, 4).

Quero uma adoração calçada numa vida estreitamente relacionada – relacionada no dia a dia com Deus, com Jesus e com o Espírito –, sem desprezo da unção ou júbilo no Espírito, mas, também, sem negligência da arte. O Deus da Sagrada Escritura é muito exigente! E Ele faz muito bem em sê-lo, pois os humanos costumam confundir os reais valores espirituais com o que é superficial e facilmente imitável.

Encanta-me que a simplicidade da manjedoura do filho de Maria não haja descambado para a inconsequência dos destinos assumidos pelos homens, inclusive na prática da religião. Fascina-me a coerência com a manjedoura de Jesus – em nossa vida ordinária.

A paz que só Ele propicia afinal virá, quando, verdadeiramente, nos compusermos com o espírito do Senhor (Jo 14.27; 1Co 6.17).

Com sua espada cortante, Jesus continua sendo o Príncipe da paz.

                                                                                   Recife, 25.12.2024

                                                                                        Válter Sales




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