Apolinário Domingos Neto terá a sua trajetória de vida contada através do romance regional: De Gameleira à Colônia, uma saga nordestina, de autoria do escritor, poeta e Imortal da Academia de Letras de Paulo Afonso, Marcos Antônio Lima.
A obra contém 277 páginas, dividida em sete capítulos, que retratam amiúde, histórias relacionadas à reforma agrária, cultura religiosa, e perseverança sertaneja. O livro será lançado no próximo dia 27 de abril, às 15h30min horas no Clube do Povoado Colônia, no município de Santa Brígida – BA.
Apolinário Domingos Neto, nasceu em julho de 1922 no Distrito de Mariana, situada no sertão pernambucano, filho de Manoel Domingos da Silva e Maria Paulina de Jesus e imigrou para o Distrito de Santa Brígida – BA em meados de outubro de 1948. As poucas tralhas em que consistia toda a sua bagagem couberam no lombo de seu jumentinho “Passageiro”. Caminhando lado a lado de sua jovem esposa Idalina, fizeram a pé, todo o percurso que separava Mariana em Pernambuco, do Distrito de Santa Brígida na Bahia, para tornar-se a pedra mor do Povoado Colônia de Santa Brígida – BA.
Hoje, Apolinário tem 96 anos e é forte quanto a aroeira, árvore símbolo da região que tantos homens destemidos pisaram.
O Jornal Folha Sertaneja publica alguns trechos da entrevista, que o escritor Marcos Antônio Lima fez com ele e que foram a base para o seu livro De Gameleira à Colônia, uma saga nordestina, que será lançado no final do mês de abril de 2019.
Marcos – Seu Apolinário, nos conte um pouco de sua história, começando por sua chegada a Santa Brígida.
Apolinário – Vixe que tem muito tempo, meu filho. Tudo isso aqui era só mato. Foi no ano de 1948, quando eu e minha esposa Idalina e nosso jumentinho “passageiro” fizemos todo o caminho de Mariana – PE até aqui andando a pé, e cá estamos. Naquele tempo a seca estava brava, o meu pai tinha sido o primeiro da família a vir pra esses lados. Ele tinha acompanhado o beato Pedro Batista quando passou pelo Pernambuco, e como o meu pai já se encontrava por aqui, foi por isso que eu vim. Vim fugindo da seca.
Marcos – Sabemos que o senhor é um dos principais fundadores do Povoado Colônia, juntamente com Sr. Manoel Bezerra, Dona Nóca e o próprio Curador Pedro Batista. No começo, quando a Colônia ainda era chamada de Gameleira, como foi que se deu o início de todo esse processo?
Apolinário – Logo que cheguei fui trabalhar no Juazeirão, na plantação de mandioca. Ali, no Juazeirão se plantava muita mandioca para ser usada nas casas de farinha e dar de comer aos bichos. Depois, por eu ter um pouquinho mais de leitura que os outros, pois eram quase todos analfabetos, fui chamado pelo beato Pedro Batista para tomar de conta de uma fazenda que ele estava negociando com o Coronel João Sá. Depois de ouvir a proposta dele, que por sinal achei muito boa, acabei aceitando. Com isso, eu fui o primeiro colono a derrubar um pé de pau na Gameleira, depois vieram os outros. Era gente de todo tipo
Marcos – Então, quer dizer que o senhor foi o responsável pela divisão de lotes para os colonos, e também arrecadava parte da produção para o pagamento da terra?
Apolinário – Isso mesmo meu rapaz. Não caía uma folha na Gameleira sem que eu soubesse. Eu tomava conta e dava conta da divisão dos lotes para as famílias de posseiros, arrecadava a paga da terra de cada um deles e levava ao Curador Pedro Batista, era ele quem levava toda aquela dinheirama para o Coronel João Sá. E desse jeito, a custo de muito trabalho e suor derramado, nós conseguimos pagar a terra, e ainda comprar um caminhão Alfa Romeo. Essa mesma terra que você vê ai hoje, há muitos anos atrás eu disse para o beato que a terra com a terra se paga, e ele perguntou como, eu disse: plantando e colhendo. Naqueles tempos, nós plantávamos muita mamona, algodão, e quando o ano era bom, os caminhões saiam abarrotados de tanta mercadoria, era uma festança que dava gosto de se ver.
Marcos – O senhor também trabalhou no INCRA, não foi?
Apolinário – Sim, fui funcionário do INCRA e trabalhei muitos anos, até me aposentar. Quando o Dr. Portela chegou por essas bandas, ainda na década de sessenta, ele logo me procurou atendendo ao pedido do beato Pedro Batista, e dali em diante comecei o meu trabalho na Superintendência de Reforma Agrária (SUPRA) que depois mudou de nome e foi chamado de INIC (Instituto Nacional de Imigração e Colonização) e tantos outros até ser fundado o INCRA, em 1970, onde trabalhei como funcionário Administrativo Nível 5.
Marcos – Hoje, no auge de seus 96 anos bem vividos e quão forte quanto a rocha, gostaria de saber do senhor, qual o seu segredo para uma vida tão longa e saudável.
Apolinário – Já não sou tão forte assim, a memória não é mais a mesma, mas, se tem uma coisa que eu tenho observado ao longo desses anos todos, é que servir ao Senhor nosso Deus, com toda a força, com toda a fé, sempre amando ao próximo, respeitando pai e mãe, isso muito tem contribuído para que os meus dias aqui na terra tenha-se prolongados. Segundo, é aquilo que se come. Eu mesmo fui criado à base de leite de cabra, e só comia o que plantava. Era comida da boa sem esse tal de agrotóxico que anda adoecendo e matando o povo. Sei que já vivi muito, hoje só estou aguardado o chamado, isso será na hora que o Pai desejar, a mim só resta esperar...
(Entrevista concedida ao escritor Marcos Antônio Lima)
Quero aqui externar os meus mais sinceros e efusivos agradecimentos a equipe do Jornal Folha Sertaneja, pelo precioso apoio.