A Comunidade cristã, não só a comunidade católica, ficou entristecida quando se espalhou pelas redes sociais a notícia do falecimento do Padre Alberto que ocorreu na quinta-feira, dia 10 de setembro.
O seu sepultamento foi no sábado, por volta das 11 horas, na sua cidade Natal, Uauá, na Bahia depois do corpo ter sido velado na Igreja da cidade, que já pertenceu à Diocese de Paulo Afonso e agora pertence à Diocese de Juazeiro/BA.
Quem narra sobre a vida e a obra, o carisma desse Padre Sertanejo é o Izael de Jesus, músico, radialista, comunicador, muitas vezes presente nas missas e andanças do Padre Alberto por essa região.
Muito jovem ainda, com apenas 53 anos, ele tinha problemas delicados de saúde. Era albino e tinha a visão um tanto comprometida e diabetes, mas nunca deixou de realizar a sua missão de padre por esses sertões.
Recentemente foi diagnosticado com um tipo raro de câncer, muito agressivo, cujo tratamento era muito caro e havia dificuldade do seguro cobrir esses custos. Ele precisava tomar doses de um medicamento importado a cada mês e cada dose custava mais de 50 mil reais.
Para ajuda-lo, a Diocese de Paulo Afonso realizou uma intensa campanha financeira e o fato do Padre Alberto ser tão querido, logo se conseguiu mais do que ele precisava para as primeiras doses e já se tinha o compromisso da cobertura para outras doses que fossem necessárias. Mas ele tomou apenas a primeira dose e veio a falecer dias depois.
Lembro que nas filmagens de casamento ele pedia, carinhosamente, que fosse evitado o foco dos grandes refletores sobre o seu rosto. E todos atendiam com grande afeto.
Ele veio de Campina Grande, na Paraíba onde foi seminarista ainda no tempo de D. Mário Zanetta. Foi ordenado Padre em 2001, há 19 anos na sua terra natal, Uauá. Atuou em Glória, mais precisamente no Povoado Quixada e também em Paulo Afonso, na Paróquia da Sagrada Família, no populoso Bairro Tancredo Neves. Passou um tempo em Canudos. Era atualmente o pároco de Paripiranga/BA.
Conhecido como o Padre Vaqueiro, o Caboclinho do Sertão, todos os anos, ele era o celebrante da Missa do Vaqueiro, realizada na sua terra, Uauá, vestido com os trajes do vaqueiro, chapéu de couro e gibão.
Cena muito emocionante foi a do seu sepultamento em Uauá, no sábado, dia 12 de setembro. Sob o sol forte do sertão, o seu caixão foi conduzido um pouco pelos padres da Diocese mas, logo, os vaqueiros fizeram questão de conduzir o caixão até o seu túmulo. Em cima do caixão, o gibão de couro com que costumava celebrar a missa do Vaqueiro em Uauá, todos os anos. Enquanto o caixão entrava no cemitério, um vaqueiro, aboiador, cantava uma toada na despedida do Padre Alberto, em sua homenagem.
“E pela última vez / Aqui está a passar /Aonde ele chegou /Tinha aquela garantia / Fazia celebração / Toda hora e todo dia / Muita gente tem saudade / Que acabou toda alegria/ Mas a saudade é companheira / De quem não tem companhia...Ôôôô...
“Era um apaixonado pelas coisas e a cultura do Sertão. Tocava sanfona e gostava muito de um forró pé-de-serra. Era um padre muito animado, muito humilde, muito simples, que deixa para todos um legado que foi de um padre caboclo do Sertão, um sertanejo que era uma referência de uma igreja voltada para os mais pobres, os mais simples, os pequenos, os mais humildes. Ele deixou esse legado, que a Igreja sertaneja deve ser voltada para os mais simples, os que mais precisam.”, diz Izael de Jesus para o jornal Folha Sertaneja.
Nas redes sociais, desde o dia do seu falecimento que aparecem mensagens de condolências e fotos do Padre Vaqueiro.
Uma das mensagens, diz:
Pe. Alberto continua vivo nas sementes que deixou
O nosso sertão está cheio de pessoas que o enalteceram com a própria vida. São pessoas anônimas que nos ajudaram a entender o sertão como um cenário por onde muitas histórias estão contribuindo, colocando sangue, suor, lágrimas, lutas e esperanças nas caatingas sempre acolhedoras.
O nosso querido Pe. Alberto honrou o Sertão de Canudos doando sua vida pelo povo Sertanejo. Vigário na paróquia de Santo Antônio, de Canudos, colaborador do IRPAA, um dos presidentes do Instituto Popular Memorial de Canudos, defensor dos Fundos de Pastos, das associações e da colônia de pescadores, animador da Romaria e da cultura e religiosidade popular.
Tudo conduzido na ótica de uma sociedade inclusiva, participativa e socialmente justa. Sua ação sempre esteve inspirada na boa nova do evangelho.
Ele partiu, mas as sementes do Reino ficaram. Depende de nós que elas deem muitos frutos.
Pe. Alberto do Sertão:
PRESENTE!!!
Outra mensagem dizia:
Grato amigo e irmão conselheirista! Saudades eternas e da resistência teimosa do PROFETA DO SERTÃO, CABOCO e irmão querido ALBERTO DEFENSOR DOS ANAWINS, PEQUENINOS E PEQUENINAS DE DEUS! CANTADOR E LUTADOR INQUIETO DA SUA ESPERANÇA E LIBERTAÇÃO TOTAL E DEFINITIVA EM JESUS CRISTO LIBERTADOR! ALBERTO, AMADO IRMÃO, QUE O DEUS JAVÉ SEJA CONTIGO AO LADO E Misturado COM os JUSTOS NO REINO DOS CÉUS! AMÉM.
O poeta Lázaro dos Santos Tavares, de Água Branca, escreveu:
Pobre servo do Senhor
Neste mundo foi fiel
Homem humilde do senhor
Caminhando com os pobres
Fez-se servo do Senhor
Não buscou ser o maior
Viveu o ministério do amor
Anunciando Jesus Cristo
Fez-se servo do Senhor
Sua vida era inquieta
Marcada pelo labor
Na luta pela justiça
Fez-se servo do Senhor
Enfrentou muitos dragões
Com maestria e esplendor
Clamando pela justiça
Fez-se servo do senhor
Preocupou-se com os pobres
Enfrentou o opressor
Gritando por esperança
Fez-se servo do Senhor
Assim como os profetas
Cantou hinos de louvor
Homem forte do sertão
Fez-se servo do Senhor
Enfrentou indiferença
Suportou o opressor
Despojou-se da vaidade
Fez-se servo do Senhor
Abraçou o evangelho
De Jesus nosso Senhor
Se juntou aos excluídos
Fez-se servo do Senhor
O Sertão era sua pátria
A sanfona o seu louvor
Amante dos zambumbeiros
Fez-se servo do Senhor
Já partiu para a morada
Das testemunhas do amor
Entrando na eternidade
Fez-se servo do Senhor
Obrigado padre Alberto
Pelo exemplo que deixou
Amou a igreja pobre
Fez-se servo do Senhor
Lázaro dos Santos Tavares
Água Branca
11/09/20
Alberto viveu e defendeu o que ele acreditava, nunca o que era mais "conveniente"...ELE NÃO SABIA SER DIFERENTE, GRAÇAS A DEUS!
Só agradecer ao amigo Galdino que sempre foi sensível e amigo da diocese de Paulo Afonso dez dos tempos de Dom Mário Zanneta do qual era muito amigo, obrigado professor por ser portador da nossa história.