O município de Paulo Afonso nasceu no coração da Caatinga em 28 de julho de 1958 quando o inexpressivo Povoado Forquilha, de 8 a 10 casas que se espalhavam no meio da vegetação desse Bioma, na margem direita do rio São Francisco, próximo de sua grande Cachoeira de Paulo Afonso, cuja força de suas muitas águas motivou a instalação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf, neste lugar, dez anos antes, em 1948.
Ao ser criado, o município de Paulo Afonso já possuía perto de 25 mil habitantes. Hoje, se aproxima dos 120 mil habitantes.
E o Bioma Caatinga se espalha por centenas de quilômetros quadrados pela região, em territórios de vários municípios dos Estados da Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Paraíba e outros da Região Nordeste. Abrangendo regiões do Estado da Bahia, como Paulo Afonso, Glória, Jeremoabo, Canudos, Santa Brígida e outros está a Estação Ecológica Raso da Catarina, habitat natural da Arara Azul de Lear.
Em vários artigos publicados neste site www.folhasertaneja.com.br, no Jornal Folha Sertaneja online e em publicações como a Revista da Academia de Letras de Paulo Afonso tem-se se mostrado a necessidade de ações permanentes e grandiosas para a revitalização do rio São Francisco e do Bioma Caatinga.
A Revista Pesquisa FAPESP, em sua Edição Nº 335, de Janeiro de 2024, com texto de Carlos Fioravanti, e fundamentado em vários trabalhos científicos disponibilizados na matéria, traz a preocupante informação que houve consideráveis transformações em 89% do Bioma Caatinga.
Vimos como muito importante republicar esse artigo com os devidos créditos e ilustrações.
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https://revistapesquisa.fapesp.br/acao-humana-transformou-89-da-caatinga/
( Editor do site www.folhasertaneja.com.br)
ECOLOGIA
Ação humana transformou 89% da Caatinga
Biólogos concluem que restam 11% da vegetação nativa típica do Nordeste
(Revista Pesquisa FAPESP, Ed. Nº 335 - Janeiro de 2024)
A expansão da agricultura, da pecuária e do desmatamento tem causado mudanças drásticas na Caatinga. As áreas agrícolas e pastagens abandonadas ou em uso cobrem 89% desse bioma, único inteiramente brasileiro, que se espalha por 10 estados do Nordeste e Sudeste. Restam apenas 11% da área coberta pela vegetação típica do Nordeste, em comparação com a que deve ter existido, sob as mesmas condições de clima e solo, antes da ocupação humana, de acordo com análises de biólogos das universidades federais da Paraíba (UFPB) e de Pernambuco (UFPE) publicadas em outubro na revista Scientific Reports.
“A Caatinga resiste ao clima e a temperaturas mais altas, mas não à mão do homem”, observa o biólogo da UFPB Helder Araujo, principal autor do estudo. Com seus colegas, ele refez a área de florestas e de vegetação arbustiva da Caatinga por meio de um método chamado modelagem de distribuição potencial de espécies, com indicadores como aves de florestas atuais e mamíferos herbívoros que viveram no atual Nordeste há milhares de anos.
Em seguida, os pesquisadores acrescentaram informações sobre a cobertura vegetal atual da Caatinga, publicadas pela organização não governamental MapBiomas, o clima, da plataforma WorldClim, e as modificações humanas na região apresentadas na revista Scientific Data em agosto de 2016. A análise das transformações em 12.976 hexágonos com 5 quilômetros quadrados (km²) cada um evidenciou as áreas que permaneceram cobertas por floresta e as que foram ocupadas por uma vegetação de menor porte. “A maior parte da área potencialmente ocupada por floresta hoje é tomada por arbustos”, observa Araujo.
De acordo com esse estudo, a área que deve ter sido ocupada por florestas, de 731.211 km², correspondentes a 84,6% da área total do bioma, caiu para 31.793 km², ou 4% do total (ver mapa). A vegetação arbustiva avançou 390% sobre as matas fechadas e mais densas.
“Outros estudos consideram as áreas modificadas como vegetação nativa, que de fato é, pois são plantas da região, mas com algum grau de degradação ambiental, porque foram ou são tomadas por uma vegetação modificada ou pela agropecuária”, comenta Araujo. “A vegetação secundária não consegue voltar a ser floresta novamente, mesmo depois de décadas.” Além disso, acentua o pesquisador, por causa da maior exposição ao Sol, haverá menos água no solo quanto menor for a cobertura vegetal.
Com metodologias diferentes, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima calculou que restam 53% da Caatinga e a organização não governamental MapBiomas estimou em 47%. Em seu mapeamento mais recente, de 2022, o MapBiomas registrou a expansão da agropecuária, iniciada no século XVI e atualmente responsável por 35% da área da Caatinga. É o mesmo valor do levantamento publicado na Scientific Reports, que registra também 1,6% da área sem vegetação, ocupada por cidades ou áreas em processo de desertificação.
“Com imagens de satélite conseguimos mapear com precisão as áreas de uso por agricultura, que têm contornos bem definidos, mas as áreas de uso por pastagens podem ser confundidas com áreas naturais não florestadas, a Caatinga herbácea”, informa o coordenador do MapBiomas Caatinga, o geólogo Washington Rocha, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). “O método atualmente utilizado mapeia bem as áreas de Caatinga florestada e arbóreo-arbustiva, mas não permite distinguir com precisão áreas naturais daquelas com vegetação regenerada ou restaurada.”
Goiabeiras e vegetação nativa na região do Cariri paraibano - Helder F. P. Araujo
Os ecólogos Marcelo Tabarelli, que trabalhou com Araujo, e Inara Leal, ambos da UFPE, identificaram um dos efeitos da derrubada das matas nativas para cultivo ou pastagem: o aumento no número de ninhos de saúva, que chegam a até 3 metros (m) de profundidade, retardam o crescimento da vegetação quando a área é abandonada.
Restauração
Araujo, Tabarelli e
pesquisadores de outras instituições examinam as possibilidades de recuperação
da vegetação nativa. Outros estudos do grupo, publicados na Land Use Policee Mitigation and Adaptation Strategies for Global Change,
indicaram que a perda de água do solo, comum em áreas degradadas, poderia ser
evitada quando as matas nativas ocupassem 50% da propriedade rural. De acordo
com esses trabalhos, áreas com mais vegetação nativa que os 20% obrigatórios
por lei são mais produtivas, principalmente durante os anos de estiagem.
Experimentos em campo conduzidos pela ecóloga Gislene Ganade, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, acenam com caminhos promissores ao registrar uma sobrevivência acima de 80% de mudas cultivadas em viveiros de plantas e levadas para o campo quando as raízes atingem 1 m de comprimento.
“A restauração e a agropecuária bem-feita poderiam reverter o cenário de degradação e pobreza que atualmente marca a Caatinga”, conclui Araujo. Em 2020, o programa Nexus Caatinga, que ele coordena, publicou um livreto, com sugestões de técnicas para a conservação de água, como a rotação de culturas e a integração entre lavoura e pecuária.
Artigos
científicos
ARAUJO, H. F. P. et al. Human disturbance is the major driver of vegetation changes in the
Caatinga dry forest region. Scientific Reports.
v. 13, 18440. 27 out. 2023.
ARAUJO, H. F. P. et al. Vegetation
productivity under climate change depends on landscape complexity in tropical
drylands. Mitigation and Adaptation
Strategies for Global Change. v. 27, n. 54. set. 2022
ARAUJO, H. F. P. et al. A sustainable agricultural landscape model for tropical drylands. Land Use Policy. v. 100, 104913. jan. 2021.
VENTER, O. et al. Global
terrestrial human footprint maps for 1993 and 2009. Scientific Data. v. 3, 160067. 23 ago. 2016.
Livros
ARAUJO, H. F. P. Nexus – Água, energia e alimento na região mais seca do
Brasil: Informativo prático sobre princípios de paisagens agrícolas
sustentáveis. Areias, PB. 2020.
MAPBIOMAS. Destaques do mapeamento anual da cobertura e uso da terra
no Brasil de 1985 a 2021 – Caatinga. out. 2022.
Digna reportagem porém não observada o desmatamento de nossas caatingas para as carvoarias e madeira para lenha destinada às padarias concorrendo assim para o assoreamento e grandes áreas devastadas transformando em terras inférteis devastada pelo sol escaldante.
Parabéns ao editor do JORNAL FOLHA SERTANEJA, pela divulgação desta matéria de suma importância, para a realidade que a muito estamos vivendo. O bioma nordestino mudou de aspecto e em ritmo acelerado. Tenho contato com o homem do campo/ nordestinos raízes. E me assusta vê-los cortar árvores adultas, arbustos e plantas medicinais, pelo simples fato de que " sujam muito os terreiros ". Como bem expressam. Por mais que ese tente convence - los da importância da arborização, nada convence. A resposta da natureza vem dando o recado a muito tempo. Clina, animas silvestres invadindo as cidades, terras improdutivas, pequenos córregos , riachos, fontes secando, altíssimas temperaturas, dentre tantos outros prejuízos. É a mente humana doentia, ora pela ganância de ter, ora pela ignorância do saber, o quão importante é a natureza para nossa qualidade de vida. Mais uma vez parabéns , pela matéria.Gente!
Infelizmente atitudes irresponsáveis e interesseiras depredam a natureza, sob pretextos que não justificam a ação.