Fé, Cultura e Saudades marcam os 57 anos da morte do Beato Pedro Batista
Lucilene Machado
No último dia 11 de novembro, fiéis, devotos e moradores da cidade/município de Santa Brígida-BA., realizaram celebrações religiosas e culturais na data dos 57 anos do falecimento do Beato Pedro Batista.
A data foi marcada pela fé, pela cultura e, acima de tudo, pela saudade do “padrinho”, em uma homenagem repleta de lembranças e orações.
A programação contou com a presença de diversos grupos culturais, como Maneiro Pau, Guerreiros de São Jorge, Bacamarteiros, São Gonçalo das Almas e os índios Pankararu, que, com suas tradições, renderam homenagens ao Beato.
Uma missa foi celebrada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, presidida pelos padres Gilmar Maramduba e Rosivaldo Gama Wanderley, da cidade de Ribeira do Pombal.
A homenagem incluiu também uma visita ao túmulo de Pedro Batista, seguida de uma caminhada até a Igreja de São Pedro.
Para encerrar o evento, foi exibido um filme sobre a vida do Beato, resgatando sua história e ensinamentos.
O evento foi realizado pela Paróquia de Santa Brígida da Suécia, com o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo e do Governo do Povo. (Lucilene Machado)
Quem foi o Beato Pedro Batista?
Em 11 de novembro, data do seu falecimento, os santabrigidenses e seguidores dos ensinamentos do Beato Pedro Batista se organizaram, com o apoio da gestão municipal, e realizaram eventos para trazer à memória de todos, a passagem por este lugar desta figura enigmática. Esta é a notícia que circula nas redes sociais.
Achamos oportuno, aproveitamos a oportunidade, trazer um pouco da história e instigar a todos que se aprofundem mais, leiam mais, pesquisem mais sobre esse tema tão instigante...
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Asseguram os registros históricos de pesquisadores desta região, quase sempre a partir da história oral, informações de pioneiros passadas aos seus descendentes, que dão conta que a colonização do lugar teve início ainda nos séculos XVII e XVIII, por vaqueiros ligados à Casa da Torre, cujo latifúndio, considerado um dos maiores do mundo, se estendia até as terras do Estado do Piauí.
O território do hoje município de Santa Brígida era uma sesmaria, pertencente ao português Antônio Manoel de Souza, herdada do seu sogro Joaquim José do Bonfim. Em homenagem à sua finada esposa Brígida, Antônio Manoel nomeou, em 1817, a sesmaria como Santa Brígida.
Com o passar do tempo, outras pessoas foram se fixando na Fazenda Santa Brígida, incluindo escravizados libertos após a Abolição da Escravidão (1888).
O povoado de Santa Brígida, hoje cidade, começou a se formar por volta de 1912, com a chegada de vaqueiros de estados vizinhos que vinham realizar a agropecuária.
Capa da 1ª Edição deste livro.
Um dos historiadores que se aprofundou na pesquisa sobre o messiânico Pedro Batista, foi o professor Alcivandes Santana que, sobre o assunto, escreveu alguns livros, o primeiro deles chamado O Messianismo de Pedro Batista e a Cultura Popular em movimento onde, fundamentado em intensa pesquisa oral com romeiros da região e em escritos de vários outros pesquisadores procurou deixar um registro histórico confiável, do perfil da figura enigmática deste cidadão, de que ainda pouco se conhece de suas origens e que chegou às terras da então Fazenda Santa Brígida em 11 de junho de 1945.
Das informações colhidas nessas muitas audições e em leituras sobre o tema, Alcivandes procurou apresentar um perfil de Pedro Batista que, teria nascido em Porto Calvo-AL, filho de uma índia da Aldeia de Murici que teria morrido no seu parto e de quem não se conhece o nome, segundo declarou o Sr. Olegário Gonzales ao professor Alcivandes em entrevista feita no ano de 2002 e que o seu pai era da família Rocha Wanderley, informação, segundo Alcivandes Santana, da escritora Isaura Pereira de Queiroz.
O autor de O Messianismo de Pedro Batista revela outras descobertas como o fato da região ser então afamada pelas brigas dos seus moradores, todos parentes, e que Pedro Batista foi se destacando como orientador de saúde, curador, e conselheiro, trazendo paz para o lugar.
Há também o registro na internet que Pedro Batista teria sido um “ex-militar que após anos peregrinando pelo Nordeste se fixou em Santa Brígida com a autorização do Coronel João Sá e que, ao se estabelecer ali começou a atrair romeiros, que o viam como um representante de Deus”. ( https://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Br%C3%ADgida)
O professor Alcivandes associa o seu jeito de agir a outros renomados orientadores religiosos do Nordeste como o Padre Cícero, do Juazeiro do Norte-CE., Antônio Conselheiro, em Canudos-BA. e ao Beato José Lourenço, dos Caldeirões-CE.
Sobre a idade desse enigmático personagem, diz o professor que precisou fazer umas continhas.
O fato é que tão pouco se sabe das origens de Pedro Batista, embora tenha vivido em Santa Brígida de 1945 até a sua morte, em 1967, durante 22 anos que, para se chegar à sua data de nascimento, diz o Professor Alcivandes, foi preciso encontrar um documento do Banco do Nordeste, datado de 15 de dezembro de 1955 onde Pedro Batista declara que nasceu em Porto Calvo-AL e que, naquele momento, estava com 67 anos de idade, tendo nascido no dia do santo que lhe dá o nome – São Pedro - o que levou o pesquisador a fazer as contas e chegar à data de 29 de junho de 1888, tendo falecido em Santa Brígida no dia 11 de novembro de 1967, portanto, aos 79 anos de idade.
Longe de querer fazer aqui uma resenha dessa obra do Professor Alcivandes Santana, que tive a alegria de indicar e recebe-lo na Academia de Letras de Paulo Afonso, desejo apenas despertar nos internautas, nos leitores dessa matéria, que se aprofundem mais nessa riquíssima história, mais uma rica história, destas terras sertanejas do Raso da Catarina.
Assim indico esses livros do Professor Alcivandes Santana, de saudosa memória e, certamente que a partir deles, vai-se se chegar a vários outros autores que falam desse e de seus personagens místicos como Pedro Batista, Madrinha Dodô, tantos beatos, tantas danças e tantas histórias destas terras sertanejas de Santa Brígida que, embora tenha sido emancipada como município e cidade há apenas 62 anos (27 de julho de 1962) as suas origens já se contam em séculos...
O Professor Alcivandes nos deixou em 1º de abril de 2023, mas os seus livros podem ser encontrados com os seus familiares.
(Por Antônio Galdino da Silva