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Celebrando a VIDA

Seu Zé Rodrigues comemora os 100 anos celebrando a vida em Missa em Ação de Graças

Publicada em 25/08/22 às 23:33h - 886 visualizações

Antônio Galdino com texto de Sara Nassif e informações de Alcivandes Santana


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Seu Zé Rodrigues comemora os 100 anos celebrando a vida em Missa em Ação de Graças
 (Foto: Divulgação de Alcivandes Santana)

No domingo, dia 21 de agosto, a comunidade de Santa Brígida viveu um dia de reencontros e de muita alegria. E foi, especialmente, um dia de gratidão e de fé. 

Nessa data, às 9 horas da manhã, a tradicional Igreja de São Pedro recebeu grande número de pessoas que foram ali acompanhar o Sr. José Rodrigues dos Santos que decidiu comemorar o seu centenário numa Missa festiva para, no meio das palavras de fé, das orações, dos cantos e também da poesia de repentistas, deixar espalhada para todos da população deste município baiano – Santa Brígida – a sua gratidão a Deus, Todo Poderoso e aos seus santos de devoção por todos esses anos.

Além do grande número de familiares, ali estavam pessoas que aprenderam a amar o Sr. Zé Rodrigues quando começaram a conviver com ele e ouvir suas histórias que inspiraram a produção de livro e a preparação de estudos científicos por estudantes universitários.

Houve uma conjunção de mãos empenhadas nesta homenagem tão especial.

A Paróquia de Santa Brígida da Suécia, a Prefeitura Municipal de Santa Brígida, a Secretaria de Cultura e Turismo, amigos de longa data como o Dr. Antônio Martins, o professor e historiador Alcivandes Santana, o músico e radialista Izael de Jesus, os grupos de danças regionais de Santa Brígida, a banda de pífano, todos se uniram para homenagem Seu Zé.

E a festa dos 100 anos de Seu Zé Rodrigues, saiu dos átrios da Igreja de São Pedro e ganhou o chão da Praça de Madrinha Dodô, logo em frente, no centro de Santa Brígida.

Que coisa linda! Emociona só de ver os vídeos desse momento especial, a sua alegria, a sua firmeza cantando as músicas que o alegram e deixam feliz.

Temos nesse site www.folhasertaneja.com.br e também no jornal Folha Sertaneja um espaço destinado a homenagear pessoas que foram abençoadas por Deus com a bênção da longevidade, para que pudessem ver a sua descendência por várias gerações. Como diz o Salmo 92, “Mesmo na velhice darão fruto, permanecerão viçosos e verdejantes”.

Acertei então com o Professor Alcivandes para que enviasse esse material que teríamos o prazer de colocá-lo nesses veículos de comunicação.

E, junto com as fotos do evento, o Professor Alcivandes, membro da Academia de Letras de Paulo Afonso, me enviou também alguns vídeos desse evento e dois vídeos gravados com o Sr. José Rodrigues quando estava com 99 anos de idade.

Resolvemos juntar todos os vídeos e publicá-los no final da matéria. Eles também poderão ser assistidos no canal da Folha Sertaneja no YouTube – www.youtube.com/FolhaSertaneja.

Mas, Alcivandes também me encaminhou um texto precioso e rico da fotógrafa e mestre em Antropologia Sara Nassif, texto construído a partir das conversas que ela teve com o Sr. Zé Rodrigues em seu trabalho de pesquisa na região e também com base nas informações do E-book escrito por Paulo Oliveira, Seu Zé e suas histórias, publicado no site meus sertões, como ela própria afirma.

Sara Nassif, que escolheu Santa Brígida para fazer suas pesquisas, fez amizade com o Sr. Zezito Apóstolo e também com o Sr. José Rodrigues e, várias vezes por ano se desloca de Salvador para esta região. 

Foi o que fez no domingo 21 de agosto quando esteve em Santa Brígida com o objetivo de participar dessa homenagem ao Sr. José Rodrigues e, na missa, Sara apresentou esse texto que fala da vida desse sertanejo de 100 anos.

Com a autorização da autora, reproduzimos a seguir esse texto, na íntegra.

Que o Sr. José Rodrigues, nessa celebração de 100 anos de vida, continue sendo abençoado por Deus com muitos anos ainda, com saúde e paz.

Antônio Galdino da Silva

Professor Alcivandes e Sr. José Rodrigues 

Texto de Sara Nassif, apresentado por ela durante a Missa em Ação de Graças pelos 100 anos do Sr. José Rodrigues, na Igreja de São Pedro, em Santa Brígida/BA

Hoje estamos aqui, a comunidade de Santa Brígida reunida para comemorar essa importante data, o aniversário de 100 anos de seu Zé Rodrigues.

Nasceu no lugar chamado Cajueiro na cidade de Pão de Açúcar, Alagoas em 22 de agosto de 1922 e recebeu o nome de José Rodrigues dos Santos. Seu pai se chamava João Rodrigues e a mãe Rosangela. O casal teve 10 filhos e ele foi o segundo dessa extensa família.

Começou a trabalhar na roça com 8 anos de idade. Era uma vida dura, em que acordavam as 4 horas da manhã para buscar os animais no pasto senão os filhotes eram comidos pelas onças. A noite reunia todas as ovelhas e colocava em um cercado para livrar dos predadores. Conta que naquela época não havia arado, era tudo feito nos braços.

Casou-se com 22 anos com dona Olindrina, que já fez sua viagem, e teve oito filhos, dos quais apenas quatro estão vivos. São eles João, Francisco, Romana...

Lembra com clareza a data em que chegou aqui em 28 para 29 de janeiro de 1949.

A oportunidade de ficar na cidade surgiu em uma das muitas viagens que fez para cá. Foi pedir autorização para ficar, como todos os romeiros fizeram e padrinho o alertou que “aqui é um lugar de sofrimento”, mesmo assim ele veio com a esposa e o pai. Quando me contou isso, perguntei a ele se não teve medo e me disse ...”para mim estando com ele não faltava nada... e nunca faltou”. Construíram uma casinha e foram reformando, ficando a mesma totalmente pronta em 1958.

Os primeiros anos em Santa Brígida foram fracos e secos, plantou uma roca e perdeu tudo o que tinha, daí passou a trabalhar alugado para sobreviver. Padrinho arrumava trabalho para ele. Nas coisas da cidade não sabia trabalhar, mas no que dizia respeito a serviço do campo, fazia tudo, tangia boi, era vaqueiro, trabalhava na roca. Não rejeitava serviço e padrinho gostava da forma como trabalhava. Até hoje, apesar da sua idade, trabalha em uma roça na Encantada. É comum vê-lo pelas ruas da cidade com um saco nas costas e um facão nas mãos, indo para o trabalho.

Em uma certa época pensou em ir para São Paulo porque as coisas estavam muitos difíceis, mas Padrinho o convenceu do contrário e lhe deu de presente um carro e duas parelhas de boi para trabalhar.

Conta da grande lição que aprendeu com padrinho que foi estocar alimentos. Certo dia, chegou na casa de padrinho triste pois não tinha nada para comer e se sentou ao seu lado. Ele percebeu a situação, mandou seu Zé pegar uma chave que ficava no armador e abrir o depósito para pegar alguma comida. A partir desse dia ele ficou responsável pelo paiol de padrinho e cuidou dele até a viagem do líder. Essa lição ele levou para toda a vida porque acredita ser importante armazenar alimento para os momentos difíceis. Daquilo que guarda da sua produção agrícola doa, anualmente para o abrigo de velhinho de Juazeiro do Norte, como fazia madrinha Dodo.

Quando padrinho ficou doente, e não podia mais andar, a não ser com ajuda, seu Zé foi chamado para cuidar dele. Ele acredita que padrinho o chamou porque ele sempre trabalhou direito, não gosta de coisa desmantelada, diz. No início era para ficar até padrinho melhorar, mas como ele não melhorou seu Zé ficou durante quatro anos na casa da sede até a sua morte.

Essa atitude de seu Zé de renunciar à sua própria rotina para cuidar de padrinho foi um ato de muita generosidade e amor. Passou a ser, junto com madrinha Dodô a pessoa mais próxima de padrinho, tanto que foi ele que presenciou a morte do líder religioso.

Conta que chamaram um médico do exército e prescreveu vários remédios, que seu Zé tinha que dar três vezes ao dia. No café da manhã, almoço e janta. Depois de um tempo, o Doutor veio conferir se estava tudo certo e constatou que a medicação estava sendo dada corretamente. Além do remédio ele ajudava padrinho a passar de um lugar para o outro da rede para cama ou para a cadeira. A rede era o lugar preferido dele. Por conta disso acabou ficando na casa de padrinho todos esses anos e era, também uma companhia para conversar, pois o dia todo juntos muitas histórias foram contadas nessa convivência. Por isso ele sabe muito sobre a romaria de Santa Brígida, e com a memória excelente que tem, pode nos dizer cada detalhe do que aconteceu.

Quando o entrevistei em 2012 ele me cantou coisas e as repetiu da mesma forma e com a mesma riqueza de detalhes no ano passado.

Conta que padrinho tinha um trespasse, ficava meio fora de si como se tivesse morrido e depois retornava, e isso acontecia várias vezes. Ficava muito preocupado, com o coração querendo saltar da boca quando isso acontecia, mas não avisava ninguém para não causar alvoroço na casa. No dia de sua passagem lembra, era por volta de duas ou três horas da tarde e ele pediu para passar da cadeira para rede e disse a seu Zé que ele já estava e morto. Achou inicialmente que era um trespasse que deu nele, mas percebeu depois que ele não voltou.

Conheceu muitos pesquisadores e escritores importantes que estiveram na cidade. Um deles foi Mario Vargas Llosa, escritor peruano que aqui pesquisando para escrever a Guerra do fim do Mundo, que ele chama de “Marivaldo”. Hospedou em sua casa o antropólogo Luiz Mott que era assistente de campo de Eunice Durham e que foi pesquisar a cidade e como não havia hotéis, ficou hospedado na casa de seu Zé. Conheceu também Patrícia Pessar antropóloga americana que escreveu uma tese sobre a cidade, e muitos outros pesquisadores, cineastas e fotógrafos que vem constantemente a Santa Brígida.

Sempre foi um romeiro muito ativo, Para Juazeiro do Norte, foi a pé inúmeras vezes. Hoje vai pagar penitência de ônibus como vão os romeiros e eu mesma, acreditem, presenciei há alguns anos atras ele ir para Juazeiro sentado no corredor no ônibus em uma lata de banha. Sempre está em todas as atividades da romaria, sejam reza, penitencias, procissões e ainda hoje ainda participa da penitência do 70x7 em que se ajoelha muitas e muitas vezes enquanto reza o rosário da penitência.

carrega um pequeno bastão de mororó, resistente arvore da caatinga, nas mãos, para ajudar a escorar porque depois da chicungunha a perna fica dormente e as vezes falseia, segundo ele.

Nosso homenageado é uma pessoa que orgulha a cidade em que mora e a romaria da qual da faz parte. Pessoa calma, honesta e trabalhadora, ainda com fé e disposição para seguir os preceitos de padrinho Pedro Batista e Madrinha Dodô. É muito merecida a homenagem que recebe hoje e quero agradecer a todos os presentes, ao Prefeito Municipal Elton Magalhães, a secretária de cultura Maria Lucilene – a Lucinha - que com tanto carinho e afeto estão prestando essa homenagem a seu ZE. E um beijo grande da ‘Dona” porque é assim que ele me chama. Muito obrigada

Dados do E-book escrito por Paulo Oliveira, Seu Zé e suas histórias, publicado no site meus sertões. E por entrevistas realizadas por mim em 2012 e 2021.

Muito obrigada!

 




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