Quando se chega aos 70
Uma homenagem aos que chegam aos setenta anos de caminhada nessas estradas da vida!
Em especial para Edson Mendes, Francisco Nery e Jovelina Ramalho, aniversariantes da ALPA, setentões de setembro. Também para Edvaldo Nascimento, Luiz Ruben, Rafael Neto e Isac de Oliveira, todos de setembro, mas ainda não setentões e aos outros setentões de 2022: Socorro Mendonça, Lúcia Teixeira, Murilo Brito e Jaime Jackson.
Do também setentão, Galdino.
De repente chegamos aos 70 anos... De fato, o tempo voa e voa de supersônico...
Hoje, setenta... E, olhando para trás, nos encontramos no dia do nosso nascimento e vemos que nascemos em condições muitos humildes, em lugares até inóspitos, pelos padrões de qualidade de vida que hoje se tem como regra para os bebês. E logo, naturalmente, nos adaptamos à nossa realidade e assim, sobrevivemos, numa longa estrada para chegar aos 70 anos, aos 80 e muito mais.
Como explicar esse milagre da vida? Nossas mães nos conceberam como o fizeram as suas mães e avós e bisavós com quem aprenderam o caminhar da vida.
E, naqueles anos, quase um século atrás, não se teve o apoio de médicos especialistas, de hospitais modernos com UTIs pré-natais e infantis. Muitos dos setentões de agora nasceram nas roças perdidas no meio da caatinga e nenhuma mãe, analfabeta, iletrada, perdeu a contagem dos dias para o seu bebê nascer. E dele só se sabia o sexo quando a parteira gritava, na maior euforia:
- É menino! Veja os documentos dele!!!
Pois é, chegamos ao mundo pelas mãos das parteiras, quase sempre a própria avó ou a comadre mais próxima que, utilizando de métodos rústicos, ajudou no trabalho do parto, cortou o umbigo da criança e mais um sertanejo foi acrescentado à população mundial... E chegou chorando, parece que prevendo o que ia encontrar pela frente...
Eu nasci pelas mãos de D. Maria Pinto, nas terras de Zabelê, na Paraíba, afamada por já ter ajudado a trazer ao mundo centenas de nordestinos por aquelas terras.
E as parteiras espalhadas pelo Nordeste, nas roças humildes e nas grandes fazendas, mereceram até música de Luiz Gonzaga – Samarica Parteira - exaltando o seu trabalho abençoado e importante...
Tempos depois, sentados no chão de terra, comendo barro, os meninos brincando com ossos de animais mortos, como se fosse o mais moderno carro de que já se ouviu falar e as meninas aprendendo para serem mães um dia, brincando com bonecas feitas de sabugo de milho, com os louros cabelos do milho brilhando ao sol...
As crianças bebiam água salobra ou da chuva, comiam xerém com café, andavam de pés descalços correndo pelas veredas ou nas ruas tortas, de casas simples, esgoto correndo pelas ruas... Uma queda aqui, outra ali arrancava algumas lágrimas que logo secavam para voltarem ligeiros às estripulias sadias das crianças sertanejas...
Quase sempre a vida era difícil. Comia-se o que se tinha. Tudo natural, à base de milho, feijão, mandioca, umbus tirados do pé...
Há setenta, oitenta anos atrás, quando chegava o tempo da escola era a maior festa, a maior alegria. E ali, naquele ambiente coletivo onde para se chegar precisava-se caminhar muito, o reencontro com a normalista, a professora, os amiguinhos, tinha o poder de fustigar o cansaço e logo, passado o primeiro tempo dos exercícios escolares, na hora do recreio, estavam todos novinhos em folha para correr e brincar e cair e levantar para correr de novo.
A convivência entre colegas naquele tempo era muito saudável e pura. Os que tiveram a oportunidade de passar por um oculista da época e precisavam usar óculos simples, de grandes armações e lentes robustas, nada estéticas nem com as marcas e modelos famosos de hoje, com nomes de gente importante, eram inevitavelmente apelidados de “quatro olhos”. E isso até dava briga de vez em quando, mas logo os briguentos estavam, de novo, brincando juntos e tudo bem...
Naquele tempo, como em anos anteriores e até um bom tempo à frente, não se conheciam, entre as crianças, expressões inglesas a que hoje se dá tanto valor, como “bulling”. E, com certeza, se existisse entre aqueles meninos e meninas que começavam a vida há 70 anos atrás, seria traduzido em autêntico nordestinês como “bulir com o outro”... As quedas naturais eram sempre um aprendizado.
Voltando ao calendário do computador à frente, passados 70 anos, uma pausa para a reflexão sobre o ontem e o hoje.
As mães que geraram os senhores e as senhoras de setenta anos hoje eram apegadas, por herança dos pais e avós, a princípios religiosos cristãos, rígidos, na grande maioria princípios católicos, desde antigamente e tinham, muito naturalmente, os seus momentos de oração, suas novenas, seus ritos religiosos e um cantinho da casa com um oratório e seus santos de devoção. Na parede central da sala, um quadro pintado da Virgem Maria e outro do Coração de Jesus...
E o fundamento cristão que os mais velhos traziam, herdados dos seus antepassados, ensina, como está na Bíblia Sagrada, que “A duração da nossa vida é de setenta anos; e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, a medida deles é canseira e enfado. (Sl.90:10). Talvez por isso, mesmo sem se perceber, viva-se tão intensamente antes dos setenta anos...
Preocupados apenas em trabalhar para dar o melhor para sua família, a mais numerosa possível, plantar e colher ou dedicar-se ao trabalho quando morador das cidades, homens e mulheres sertanejos, mesmo fragilizados “pela canseira e enfado”, têm avançado no calendário e, de vez em quando, anuncia-se o aniversario, a celebração da vida, de quem chegou aos noventa, cem anos, sem saber explicar o porquê dessa longevidade...
Hoje, a Ciência revela que é justamente a partir dessa idade, dos setenta anos, que o ser humano, aquele que desde os sessenta anos foi considerado um tanto dispensável ao entrar na chamada terceira idade, possui valores e condições de ser criativo e útil muito mais que aqueles “jovens” que os colocaram na prateleira do esquecimento...
Descobriu a Ciência dos nossos dias que “o cérebro de uma pessoa idosa é muito mais prático do que normalmente se acredita. Nessa idade, a interação dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro torna-se harmoniosa, o que expande as nossas possibilidades criativas.”. Dizem os estudos modernos...
Isso não significa que, nessa idade, se esteja ágil e fagueiro. É, de fato, chegado o tempo de se seguir os versos da canção de Almir Sater – “ando devagar porque já tive pressa, e levo o meu sorriso...”
Pode-se até ter o andar mais lento, as mãos trêmulas, mas o cérebro dos setentões está bem criativo... Está, sim!
No ano de 2022, na Academia de Letras de Paulo Afonso, quatro membros chegaram ou já vivem dentro da faixa etária dos 80 anos: Luiz Fernando(83), Ivus Leal(82), Roberto Ricardo(80), Sebastião Leandro(80).
Outros quatro chegam aos 70 anos: Lúcia Teixeira(70), Edson Mendes(70), Jovelina Ramalho(70), para se juntarem a outros cinco que já caminham nesta estrada dos setenta anos há algum tempo: Socorro Mendonça(75), Francisco Nery(75), Antônio Galdino(74), Murilo Brito(72), Jaime Jackson(71).
E, em 2023, a estes, juntam-se outros três setentões: Thelma Acioly, Glória Lira, Aníbal Nunes...
Que belo e criativo time de homens e mulheres com as suas “possibilidades criativas expandidas”, para ajudar o mundo a ser bem melhor...
Deixamos o nosso abraço a estes que já faziam essa caminhada e aos que nela começam agora.
Que sejamos todos felizes nas nossas criatividades e que essa “convivência harmoniosa dos hemisférios direito e esquerdo do nosso cérebro” seja inspiração para que possamos também conviver harmonicamente pelas estradas da vida, até que, na última curva da estrada, sejamos apenas uma lembrança, nestas terras sertanejas.
De Antônio Galdino (74) para todos os de 70 anos ou mais...
"Envelheçamos como as árvores fortes envelhecem". "Os desenganos vão conosco à frente e as esperanças vão ficando atrás".
Adorei a matéria e com muito orgulho chego agora,este mês á casa dos setenta. Agradeço a homenagem do meu confrade e amigo Antônio Galdino. E vida nós!!!!
Como administrador do site www.folhasertaneja.com.br e também como presidente da Academia de Letras de Paulo Afonso - ALPA e como autor da matéria acima,em que procurei homenagear os que chegaram aos 70 anos, especialmente os membros da ALPA, porque, indevidamente, incluí entre estes, baseado em uma informação errada nos registros da ALPA, o nome e foto da Sra. Maria Gorette Moreira que, de forma muito gentil, pediu que fossem retirados urgentes o seu nome e foto, pois ainda não está no time dos setentões e essa matéria estava lhe trazendo desconforto, constrangimento e descontentamento inclusive entre seus familiares. Já pedi desculpas à citada acadêmica da ALPA e estendo esse pedido a todos os seus familiares e amigos por essa falha involuntária. Peço desculpas também aos quase 100 leitores desta matéria que retorna ao site sem as citadas referências. Antônio Galdino da Silva, editor do site www.folhasertaneja.com.br, autor desta matéria e presidente da ALPA. Paulo Afonso-BA, 16/09/2022 - 12horas e 13 minutos.
Que bela matéria setentão ANTÔNIO GALDINO! Parabéns JORNAL FOLHA SERTANEJA, você leva aos seus leitores o nosso melhor exemplo.Somos idosos e não velhos.O corpo físico pede cuidados especiais , para mantermos a mente sã. Eis o melhor de Nós !
E o bom disso tudo é que ainda sonhamos.