Sobre a amizade
Edson Mendes
Amigos são irmãos, sósias de si mesmos. A semelhança os une, pela espécie. Dessemelhantes, e assim indivíduos, a similaridade os reúne pelo complemento. Um amigo é nosso duplo, quase igual à nossa consciência, é mesmo quase o que pensamos, e embora seja menor que a eterna sucessão dos dias, porque um dia morrerá, será sempre maior que a própria vida. Antônio Vieira disse que “As amizades humanas são bens que não permanecem depois da morte, por isso os homens não testam destes bens, por isso se não deixam os amigos em testamento”.
Quando você precisa do amigo, ele está ali. Quando não precisa, também. Às vezes você não vê, mas talvez a culpa seja sua, porque temos todos esse mau costume de olhar sem ver e ouvir sem escutar. Mas ele, sendo amigo, vê e mostra, e alerta, e cobra, e por isso nos é indispensável na travessia desta selva escura que alguns chamam de existência, outros dizem vida.
Neste vale de tantas lágrimas só é possível viver quando se ama e, sendo o maior amor a amizade, o amigo é o sol que se levanta quando as estrelas menores se confundem com a luz do dia. Disse assim, ainda, o velho Padre, em 1643. “É o amor entre os afetos como a luz entre as qualidades. Comumente se diz que o maior contrário da luz são as trevas, e não é assim. O maior contrário de uma luz é outra luz maior. Uma luz apaga-se por outra maior; e assim vemos que, em aparecendo o sol, que é luz maior, desaparecem as estrelas”.
É certo que o tempo diminui alguns amores, e que a ausência, sendo cruel, muitas vezes os enfraquece e às vezes os fere gravemente. Feridos pelo tempo e pela ausência, sendo amor, resistem, contudo, e por tudo. Mas é a força da ingratidão que os mata. A ingratidão, dos grandes males o maior, exare a fatal sentença – que é a privação do amor.
Mas o amor, sendo amizade, suporta o tempo, a ausência e a ingratidão. O amor, sendo amizade, compreende, restaura, recupera. O amor, sendo amizade, confia - e por artes do símile, discernindo o verdadeiro do falso, priva-se, mas não priva, não nega, não renega, não tolhe, não escolhe desamar. Confiando, sabe que os frutos alimentam, mas as sementes é que nos salvam da desumanidade. Se, por pena, perde-se a confiança, perde-se o falso amor, e por desconfiança perde-se também o falso amigo, que nunca o foi verdadeiramente.
Ora, se o foi, porém, isso basta. O amigo verdadeiro não existe, porque sendo falso não será amigo, e por isso basta a palavra singular sem o advérbio de modo, desnecessário e supérfluo. Então, nessas horas de dor, tão inúmeras nos dias que correm, ou de alegria, ou de fantasia ou de amargor, divida sempre o que tem com aqueles que ama. É dando que se recebe, é dividindo que se acrescenta. E se preciso for diga sempre a verdade que dói, e não a mentira que mente. E se preciso for, e nada mais restar, mesmo que inutilmente, lute - lute até o fim.
Viver não é vencer, viver é lutar. Ouça seus amigos, que mesmo poucos dizem muito. Lute até o fim – a jornada é a recompensa. Foi o que você me disse um dia quando tropeçamos na pedra que havia no meio do caminho. É o que lhe repito agora, enfim limpos de pedras os últimos dias, quando ao longe o sol se põe e as estrelas da noite acendem a escuridão. A jornada se finda, mas não é o fim, e isso nos basta. Porque o céu, por onde piscam na eternidade os vagalumes e as esperanças, nunca escurece - nós todos viveremos para sempre no coração dos amigos.
11.09.2024
veja tambem aqui: https://www.academia.edu/123793123/Sobre_a_amizade
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Edson Mendes de Araujo Lima, MSc
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